Há cerca de um mês, em 15 de março, milhares saíram às ruas em protesto contra o governo da presidente Dilma Rousseff. Neste domingo (12), grupos como Vem pra Rua, Movimento Brasil Livre, Revoltados Online e SOS Forças Armadas organizam a partir das 9 horas manifestações em algumas centenas de cidades brasileiras. Em parte, o ato do mês passado ganhou projeção e adesões acima do esperado por conta do momento tenso vivido pelo governo – agravado principalmente pelo escândalo de corrupção revelado pela Operação Lava Jato e pela munição pesada da oposição.
Semanas depois, os movimentos anti-Dilma e a oposição passarão por um teste importante. Se a adesão aos protestos deste domingo for tão significativa quanto a que se viu em 15 de março, os opositores marcam mais um ponto em um momento importante do jogo político.
Mas se a impaciência com o governo der sinais de arrefecimento nas ruas, o PT ganhará um fôlego adicional e terá um sinal de que as medidas tomadas recentemente, como a escolha de Renato Janine Ribeiro para o Ministério da Educação e a falta de apoio a votação das mudanças nas regras da terceirização.
Segundo os cientistas políticos, a possível diminuição do engajamento nos protestos deste domingo seria resultado da frustração com a falta de resultados imediatos após o protesto de março. Também pode minimizar o interesse em atos como o de hoje a percepção por parte dos cidadãos de que o grande vencedor da manifestação do dia 15 de março tenha sido o PMDB – partido que não tem a simpatia de boa parte daqueles que raíram às ruas para pedir o impeachment de Dilma. Ainda entram na lista de motivos, segundo os especialistas, a fragmentação das pautas e alguma reação do governo como, por exemplo, o lançamento do Pacote Anticorrupção.
‘Fui e não resolveu. Não vou mais’
Para a socióloga Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o motivo mais óbvio esfriar a participação, caso ocorra, é a própria despolitização do brasileiro, que desconhece a velocidade dos pleitos políticos. “Nossa sociedade não entende que o engajamento tem de ser contínuo. Muita gente pode pensar: ‘eu fui para a rua pedir o impeachment e nada aconteceu. Não vou mais”, afirma a socióloga. Esther lembra ainda que a manifestação de março ocorreu uma semana após o panelaço feito durante o pronunciamento da presidente. “Logo, aquele momento era de euforia. Sabemos que os motivos das reclamações continuam os mesmos, mas dois dias depois de catarse coletiva, a pessoa se frustra, se acomoda. É um círculo vicioso.”
O pesquisador do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getulio Vargas (FGV) Marco Antonio Carvalho Teixeira lembra que o fato de o governo do PT ter agido em duas frentes que, segundo ele, pode acalmar a revolta popular. De um lado, ofereceu algumas respostas. De outro, cometeu menos erros estratégicos.
No rol de pleitos atendidos entram o lançamento do Pacote Anticorrupção e a nomeação de um professor de ética bem visto pela sociedade e não de um político como ministro da Educação. Quanto à questão da imagem, diz Teixeira, “o governo passou a fazer menos trapalhada”. “Eles ficaram mais cuidadosos até com a forma de comunicação, em saber o momento de não falar”, explica o especialista, em referência ao pronunciamento que fomentou o panelaço.
‘Não gosto do PT, mas não quero terceirização’
Apesar de possivelmente ter refletido pouco na adesão ou não ao protesto – por conta da votação recente –, a aprovação pela Câmara do projeto de lei da terceirização também ser uma ameaça aos movimentos de coordenação anti-DIlma. É o que acredita a cientista política da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Maria do Socorro Braga.
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Segundo a professora, na medida em que o cidadão que se manifestou em março pedindo a saída da presidente perceber que na votação sobre a terceirização o PT votou contra enquanto a bancada tucana foi favorável, é possível que ele questione as motivações para seu protesto. “Esse PL polarizou PT e PSDB. Então, antes de sair de casa, a pessoa pode pensar: ‘não gosto do PT, mas não quero terceirização, que vai me prejudicar. Então não vou apoiar esse movimento”, exemplifica Maria do Socorro. “Fica cada vez mais difícil juntar pessoas com um propósito que as una.”
Protagonismo do PMDB ajuda ou atrapalha?
Por fim, desde março, o governo aumenta as concessões ao PMDB, cada dia mais poderoso. O partido, que já ocupava as presidências da Câmara e do Senado, agora também tem o posto de articulador político, com a escalação do vice-presidente Michel Temer no lugar de Pepe Vargas (PT) na Secretaria de Relações Institucionais.
Esse protagonismo do PMDB pode influenciar a disposição do cidadão em ir ou não ao protesto. Para o sociólogo Bolívar Lamounier, no entanto, as concessões feitas ao partido deveriam servir para aumentar os fatores de indignação dos cidadãos. “Para tentar amainar os ânimos, o que a Dilma fez de mais importante foi assumir claramente que está virando uma rainha da Inglaterra. O que ocupa o noticiário é a percepção generalizada de que agora quem governa é o PMDB: no Planalto, o homem forte é o Temer; no Congresso, Renan Calheiros e Eduardo Cunha”, diz Lamounier.
Por outro lado, o cientista político Rudá Ricci acredita que parte dos manifestantes pode mudar de opinião sobre ir às ruas exatamente por ter visto que um dos resultados do ato de março foi o crescimento da influência do partido de Temer. “Os mais intelectualizados podem ter percebido que aquela manifestação gigantesca só favoreceu o PMDB, em todos os sentidos. Como muitos ali eram eleitores do Aécio, viram que deu errado.”
Fonte: G1