Nesta época, a manga e o pequi disputam espaços públicos de Cuiabá. Ambas, uma estrangeira e outra nacional, convivem em harmonia, a colorir e aromatizar a cidade. Mas são as mangueiras que se deixam ver majestosamente com suas frutas a ornar as copas como árvores de Natal. Dizem até que o consumo de pão francês diminui.
Nativa da Ásia, é encontrada da Índia às Filipinas. No Brasil, chegou em fins do século XVI pelas mãos dos portugueses que a trouxeram de Kerala, Índia, em troca de especiarias. No mundo são mais de 1.600 espécies.
No coração de Cuiabá, no Centro Cultural Ikuiapá, uma unidade do Museu do Índio, da Fundação Nacional do Índio, há duas mangueiras das espécies Bourbon e Coquinho. Além de as frondosas copas amenizarem a temperatura escaldante da cidade, nos presenteiam com saborosos frutos, colhidos de manhã, bem cedinho, por Jucelina e Henrique.
Eraldo Bento de Santana, um dos responsáveis pela vigilância do museu, é conhecedor da fruta. Ele explicou: Diz-se na sabedoria popular que a manga verdoenga é aquela que nem está madura nem verde, e come-se com sal; a manga madura é sem amassar; a perpitola é aquela fruta colhida do pé e colocada para velar (guardada por dias para depois consumi-la). Diz-se, ainda, que a manga deve ser chupada após a primeira chuva, tal qual o caju.
Várias espécies de manga fazem parte da dieta alimentar dos indígenas. Na aldeia Terena de Aquidauana, Mato Grosso do Sul, a delícia tropical é produzida em larga escala, quando toneladas de mangas são vendidas para uma empresa de Santa Catarina. No mangá – denominação Terena para um agrossistema onde estão concentradas as mangueiras – os índios criam animais de pequeno porte, cultivam o carandá para os trançados e outras espécies frutíferas como caju, jabuticaba, jaca, seriguela e tamarindo.
A fruta que chegou de tão longe se adaptou não somente ao clima e ao solo tropicais. Mais do que isso: à sombra do mangá, o povo Terena tece suas redes sociais através de conversas, da organização de seus dias, da confecção de artefatos.