Um hino à alegria, à amizade e ao poder da música de dizer o que o coração sente e as palavras não alcançam
Mamma Mia é um filme que não se contenta em ser apenas história; é uma experiência que nos toma pela mão e nos conduz ao território luminoso da emoção.
Mamma Mia! é um desses encantos raros, em que a vida se veste de música e o cotidiano se revela como uma coreografia de sentimentos. Inspirado nas canções eternas do grupo ABBA, o filme é um hino à alegria de viver, à amizade que resiste ao tempo e ao amor que se reinventa, mesmo diante das incertezas que o destino impõe.
O gênero musical sempre exigiu do espectador uma entrega especial, pois é preciso permitir que o coração aceite o canto como forma legítima de expressão. Em Mamma Mia!, essa entrega é recompensada com beleza e naturalidade. A música surge não como adorno, mas como linguagem da alma. Cada canção traduz o que as palavras não alcançam. Quando a emoção transborda, ela se transforma em melodia; quando o silêncio ameaça, ele é vencido pela dança. Assim, o filme resgata a essência mais pura do musical: o poder de transformar o banal em extraordinário, o cotidiano em espetáculo, a vida em canção.
No centro dessa sinfonia de cores e sons está Meryl Streep, em uma das interpretações mais encantadoras de sua carreira. Sua Donna é uma mulher de força e ternura, que carrega o peso das escolhas passadas, mas também a leveza de quem aprendeu a rir dos próprios tropeços. Meryl canta com o corpo inteiro, e cada gesto seu parece ter sido coreografado pela própria vida. Sua presença é magnética, sua voz, sincera. É como se a atriz não interpretasse a personagem, mas sim ela a habitasse, com todas as imperfeições e brilhos da existência real.
Amanda Seyfried, como Sophie, é a juventude em busca de raízes, o frescor da dúvida e o brilho da esperança. Há em seu olhar a pureza de quem deseja compreender o amor antes de vivê-lo plenamente. Sua voz doce e sua delicadeza de gestos completam o tom emocional do filme, compondo com Meryl uma harmonia de gerações: mãe e filha que se encontram não apenas pelo sangue, mas pela coragem de se descobrirem mutuamente.
Ao lado delas, Christine Baranski e Julie Walters trazem a força da amizade madura, vivida com humor, afeto e lealdade. As duas irradiam alegria, como se tivessem aprendido que rir juntas é uma forma de sobreviver. Representam aquela amizade que o tempo não enfraquece, apenas aperfeiçoa — a irmandade que sustenta, acolhe e faz da vida um palco mais leve.
Em meio a canções que falam de amor, recomeço e liberdade, Mamma Mia! revela que a verdadeira superação está em aceitar o passado e seguir adiante, sem amargura. Donna, com sua história repleta de escolhas e incertezas, ensina que viver é, acima de tudo, recomeçar. Cada acorde parece dizer que os erros também podem ser belos quando nos conduzem à sabedoria.
No fundo, o filme é uma celebração da alegria como escolha consciente. Amar, cantar, dançar — tudo isso se torna um ato de resistência contra o peso do tempo. É um lembrete de que a felicidade não é ausência de dor, mas a coragem de sorrir mesmo quando a vida desafina. Mamma Mia! transforma o riso em oração, o amor em refrão e o cotidiano em poesia.
Para mim, a música é a linguagem da alma em seu estado mais puro. Ela atravessa o silêncio das palavras e alcança lugares onde o discurso humano não chega. Quando ouço uma melodia, sinto que os sentimentos encontram abrigo, que a dor se suaviza e que a alegria se expande.
A música tem o dom de traduzir o indizível — aquilo que o coração sente, mas não sabe dizer. É como se cada nota fosse uma confissão, um gesto invisível que une o que somos ao que desejamos ser. E talvez seja por isso que Mamma Mia! me toca tão profundamente: porque nele a vida canta o que nós, muitas vezes, apenas conseguimos sentir em silêncio.
Vale a pena assistir

Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial. @aeternalente
Foto Capa: Reprodução/Divulgação