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Suas riquezas naturais provêm vida para milhões de pessoas que habitam a região, abastecem cidades e áreas rurais localizadas nele e em seu entorno, além de serem fundamentais para diversos setores que dependem do uso da água para suas atividades. Nomeado pela Unesco como Patrimônio Natural Mundial, o Pantanal é um dos biomas mais importantes para o planeta.
É constituído basicamente por água, sendo considerado, inclusive, a maior área úmida do planeta. Contudo, as nascentes, afluentes e rios que lhe dão vida estão ameaçados pela agricultura intensiva, desmatamento, poluição industrial e a própria demanda de água e energia de uma população em crescimento.
Para a conservação desta região tão valiosa para Mato Grosso e para o mundo formou-se o Pacto pelo Pantanal, uma aliança entre mais de quarenta entidades, divididas em poder público (governo federal, estadual, prefeituras e câmaras de vereadores), setor privado (empresários, principalmente representantes do agronegócio e do setor elétrico) e sociedade civil (organizações não governamentais, sindicatos e associações).
Um dos pontos chaves para criação do Pacto foi a pesquisa “Análise de Risco Ecológico da Bacia do Rio Paraguai”, realizada em 2012 pela World Wide Found for Nature, juntamente com a The Nature Conservancy, Centro de Pesquisas do Pantanal, CNPQ, HSBC e a Caterpillar.
No estudo foram identificadas áreas de risco ecológico da região, mapeando, ao total, três classes de risco: alto, médio e baixo. O mapa de risco consolidado aponta que 14% do Pantanal é classificado como área de alto risco, principalmente a região do planalto, onde estão as cabeceiras dos rios.
É nessa área que se encontra a maior parte das chamadas “caixas d’água”, zonas responsáveis pela inundação da planície pantaneira, que têm os maiores níveis de precipitação e escoamento superficial. O arco das cabeceiras do Pantanal é, portanto, uma área que necessita urgentemente de preservação, tanto por sua importância hidrológica, quanto pelo nível de degradação dos solos.
Como funciona o Pacto?
A área de abrangência abarca os vinte municípios que fazem parte da “caixa d’água” do Pantanal e as quatro sub-bacias: os rios Alto Paraguai, Sepotuba, Jauru e Cabaçal, que são responsáveis por até 30% do fluxo de água que desce à planície.
Nos vinte municípios de Mato Grosso, que circundam esses rios, moram mais de três milhões de pessoas, que serão diretamente impactadas pela restauração da área, já que muitos sobrevivem de pesca, pecuária e outras formas de trabalho que dependem diretamente das riquezas naturais do Pantanal.
As cidades que envolvem essa área são: Alto Paraguai, Araputanga, Arenápolis, Barra do Bugres, Cáceres, Curvelândia, Denise, Diamantino, Figueirópolis D’Oeste, Glória D’Oeste, Indiavaí, Jauru, Lambari D’Oeste, Mirassol D’Oeste, Nortelândia, Nova Marilândia, Nova Olímpia, Porto Esperidião, Porto Estrela, Reserva do Cabaçal, Rio Branco, Santo Afonso, São José dos Quatro Marcos, Salto do Céu e Tangará da Serra. As prefeituras de todos os municípios de Mato Grosso integram o projeto, pois o Governo do Estado de Mato Grosso transformou o movimento numa política pública, de ambientalistas e produtores.
Ao participar da aliança, voluntariamente, cada ONG, governo ou associação se compromete em implementar pelo menos três ações em sua áreas que beneficiem as nascentes ou rios locais. Essas ações podem ser desde a recuperação de nascentes, reflorestamento de mata ciliar, recuperação de Áreas de Proteção Permanente (APPs), adequação ambiental de estradas rurais e estaduais, melhoria do saneamento básico, ou até mesmo cursos de capacitação técnica e troca de experiências de educação ambiental existentes na região.
Desafios e soluções
Os trinta e quatro desafios estabelecidos pelo Pacto abrangem questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável, recuperação de áreas degradadas, saneamento ambiental, gestão de resíduos sólidos, estradas rurais e estaduais, gestão de recursos hídricos e licenciamento ambiental.
O Pacto pelo Pantanal planeja recuperar pelo menos 50 nascentes, conservar mais de 700 quilômetros de rios nesses 20 municípios de Mato Grosso. E paralelo a isso, mas não menos importante, fortalecer o desenvolvimento sustentável da região, principalmente a agropecuária que é a grande responsável pelo desmatamento do Pantanal. Apontar os produtores, moradores, governos e todos ligados ao Pantanal em uma direção de sustentabilidade para prover, não só diversidade e conservação desse bem natural, mas recursos para o povo e a indústria sustentável.
Entre os outros objetivos estão o fortalecimento da integração e articulação das instituições nacionais, regionais e locais; conservação do solo e água com a recomposição de matas ciliares em microbacias; proteção das áreas de recarga de aquíferos, por meio de recuperação e/ou conservação de áreas de drenagem e cabeceiras e o fortalecimento da mobilização da sociedade para elaborar políticas em defesa das cabeceiras do Pantanal.
A importância do Pantanal
O Pantanal é um gigante feito de água, terra, fauna e flora. Sua área de 250 mil km² abrange o sul de Mato Grosso, noroeste de Mato Grosso do Sul e extrapola as fronteiras, indo até o norte do Paraguai e o leste da Bolívia, onde é chamado de Chaco boliviano. A região abriga uma impressionante diversidade de flora e fauna com, pelos menos, 4.700 espécies catalogadas, sendo 3.500 plantas, 565 aves, 325 peixes, 159 mamíferos, 1.100 borboletas, 98 répteis e 53 anfíbios. Sem falar nos animais sob o risco de extinção, como onças-pintadas, jacarés, veados, araras, quatis e outros. Muitas espécies que já se encontram extintas em outras regiões são abundantemente encontradas no Pantanal, como é o caso do Tuiuiú, a ave símbolo da região.
Assim como a fauna e flora da região são admiráveis, há de se destacar a rica presença das comunidades tradicionais como as indígenas, quilombolas, os coletores de iscas ao longo do Rio Paraguai, comunidade Amolar e Paraguai Mirim, dentre outras. No decorrer dos anos essas comunidades influenciaram diretamente na formação cultural da população pantaneira.
A população pantaneira descende dos bandeirantes e dos garimpeiros que no século 18 viajavam em canoas, pelos rios Tietê, Paraná e Paraguai, desde o interior de São Paulo, em direção às minas de metais preciosos em Cuiabá. Foi após a Guerra do Paraguai que, esgotadas as minas, muitos desiludidos com a atividade resolveram ficar e criar gado, populando a região.
A cultura pantaneira é uma mistura com estas fronteiras entre estados e países. Tem nas veias o sangue do bandeirante português, do sertanista paulista, dos índios e sua música, vestuário, linguagem e alimentação, traduzindo todas essas influências e mais: as novidades que chegavam do Paraguai, da Argentina e da Bolívia, traziam novos hábitos e costumes, como o chá de erva-mate consumido gelado em cuias feitas de chifres de boi.
O pantaneiro, além de canoeiro e vaqueiro, tornou-se um hábil caçador e pescador. Entende do movimento das águas no Pantanal. Na época da enchente levava os rebanhos para as áreas mais altas e, quando as águas baixavam, os deixava comer o pasto dos campos baixos. Atualmente, o vaqueiro tradicional está ganhando uma tarefa extra, a de guia turístico, já que muitas fazendas estão se transformando em pousadas. A melhor época para conhecer a vida pantaneira é entre maio e setembro.
Portanto, o Pantanal, além de representar um bem valioso em biodiversidade, significa também capital humano, uma cultura que já faz parte da tradição mato-grossense.
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