Neste domingo 142,8 mil irão às urnas para votar no primeiro turnos das eleições. Essa é a sétima eleição geral desde a redemocratização do país. A previsão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é de que as 20h já seja possível saber se haverá segundo turno na disputa presidencial e dos governos de estado. Se a decisão ficar para o segundo turno, serão divulgados os nomes dos candidatos que seguirão adiante em campanha. Também serão conhecidos nesta noite a maior parte dos escolhidos para as assembleias legislativas, para a Câmara dos Deputados e para o Senado.
A estimativa foi feita pelo secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Janino, com base no que aconteceu nas últimas duas eleições do país. Ele ponderou que, onde a disputa estiver muito acirrada, o resultado da votação será divulgado mais tarde.
— Em 2012, chegamos com 89% dos votos apurados às 20h. Em 2010, isso aconteceu às 21h. A gente pretende pelo menos se aproximar desse horário. Se seguir o mesmo padrão, está ótimo —afirmou.
A previsão é que ao menos 85 milhões de eleitores deverão conhecer já neste domingo o seu governador. Este número corresponde a 59% do eleitorado nacional. Segundo as últimas pesquisas de intenção de voto, as disputas deverão ser decididas no primeiro turno em 13 estados: São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Santa Catarina, Maranhão, Espírito Santo, Piauí, Amazonas, Mato Grosso, Alagoas, Sergipe e Tocantins. Entre estes estados, o partido que mais elegerá governadores na primeira etapa da disputa deverá ser o PMDB, com cinco, seguido por PSDB e PT, com dois cada, e PDT, PCdoB, PSB e PSD, com um cada.
Disputa acirrada para presidente
A disputa presidencial desde o início da campanha foi marcada por diversas reviravoltas. No sábado, as últimas pesquisas de intenção de voto do Datafolha e do Ibope apontaram que o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, ultrapassou numericamente a candidata do PSB, Marina Silva, pela primeira vez. Apesar disso os dois continuam empatados tecnicamente nas estimativas dos votos válidos – que desconsideram os brancos e nulos. Os dois institutos apontaram, desde o último levantamento, divulgado na quinta-feira, queda das intenções de voto em Marina e alta na preferência por Aécio.
É a primeira vez que a disputa para o segundo turno é tão acirrada desde o embate entre Lula e Brizola na eleição de 1989, a primeira após o fim da ditadura. Na época, o candidato do PT terminou o primeiro turno com 16,08% dos votos contra 15,45% do pedetista – diferença então equivalente a 500 mil votos. Lula enfrentou no segundo turno, Fernando Collor de Mello, que teve 28,5% dos votos no primeiro turno.
Eleição será feita com biometria
Para evitar incidentes que atrasem na divulgação do resultado, o TSE montou uma espécie de central de emergência na sede do tribunal. Durante todo o domingo, representantes de todas as empresas de telefonia, de energia e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) estarão no local, para gerir eventuais contratempos nos estados. No Distrito Federal, por exemplo, as chuvas provocaram apagões nos últimos dias.
— Na votação em si, não dá muito impacto, porque a urna eletrônica funciona sem energia. O que pode impactar é na hora de começar a transmissão dos dados — alerta Janino.
O presidente do TSE, ministro Dias Toffoli, enviou comunicado a todos os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) e aos governos de estado pedindo para interromper obras no dia da eleição. O objetivo é evitar o rompimento de cabos de fibra ótica ou de energia elétrica.
— O que pode atrasar no fechamento do computo geral é justamente essas eventuais ocorrências em localidades remotas. Se quebrar uma estação de transmissão via satélite, por exemplo — informou Janino.
Criada com a promessa de conferir mais segurança e modernidade às eleições, a biometria, que permite a identificação do eleitor pela impressão digital, pode provocar filas mais longas que o normal na votação. A urna só será liberada para o voto depois que o eleitor fizer a identificação. Será possível fazer até oito tentativas de reconhecimento por meio de digitais, se a primeira falhar, antes de se recorrer ao método antigo, quando o mesário precisava checar se o nome do eleitor está cadastrado naquela seção e pedir a ele um documento com foto.
Cerca de 21,6 milhões de eleitores poderão votar utilizando a biometria. O TSE estima que os eleitores levem, em média, 1 minuto e 14 segundos para votar na urna eletrônica com biometria. Em 2010 o tempo médio que cada eleitor levou para votar dentro da cabine foi de 1 minuto e 8 segundos, mas naquela eleição era preciso escolher dois candidatos ao Senado. Serão cinco votos: deputado estadual ou distrital, deputado federal, senador, governar e presidente da República.
Para evitar atrasos com o aumento do tempo médio do voto, os TREs foram orientados a diminuir o número de eleitores por seção onde houver a urna biométrica. Os mesários também fizeram treinamento para ajudar os eleitores a lidar com a novidade.
— O tempo total individual para alguém se identificar e votar vai aumentar em torno de 20 segundos. Os tribunais regionais estão se preparando para recolocar o limite de eleitores nas seções. Eles já estão reduzindo o número de eleitores onde há votação biométrica. Nós entendemos que não vai haver sobretempo no que estamos estimando (para divulgar o resultado das eleições) — afirmou Janino.
O sistema biométrico foi testado pela primeira vez nas eleições de 2008, quando o TSE era presidido pelo ministro Carlos Ayres Britto, hoje aposentado. A experiência foi feita em três municípios e com cerca de 42 mil eleitores. Com o sucesso observado, foi gradualmente estendida a outros pontos do país. Para Ayres Britto, mesmo que a nova tecnologia provoque filas extensas para votar, o ganho para a sociedade é maior.
— Tudo é um processo de aperfeiçoamento, mas a votação biométrica é uma viagem sem volta. A identificação biométrica do eleitor imprime um grau de segurança. A urna eletrônica sem biometria não impede que alguém se aproprie de um título de eleitor alheio. Isso é muito difícil de acontecer, mas não é impossível. Na urna biométrica, fica impossível alguém votar por outra pessoa — explica o ex-ministro.
Nas eleições de 2010, 60 municípios e cerca de 1,1 milhão de eleitores usaram a biometria. Em 2010, 299 cidades e 7,7 milhões de eleitores. De acordo com informações do TSE, a taxa de não identificação de eleitores por meio da biometria — seja porque as digitais são fracas ou pela dificuldade de mesários e eleitores em utilizar o sistema — é muito pequena. Nas eleições municipais de 2012, 94,2% dos eleitores conseguiram votar após serem identificados biometricamente.
Ayres Britto afirma que, ao longo dos anos, o sistema será aperfeiçoado, eliminando eventuais problemas de identificação do eleitor pelas digitais.
— Essa experiência, esse avanço tecnológico é necessário. Se houver dificuldade eventual de uso das impressões digitais para abrir a urna, isso também vai passar por um processo maior de aperfeiçoamento. É exercitando a identificação biométrica que se vai aperfeiçoando o sistema na sua operacionalização — disse o ex-ministro. — O fato é que não dá para recuar, porque é uma forma otimizada de votar, muito mais aperfeiçoada no plano da segurança. As eventuais dificuldades são compensadas no ganho de segurança do processo eleitoral como um todo.
A identificação não é feita na urna, mas em um terminal que fica com o mesário. Se a digital confere, o eleitor não precisa nem mesmo assinar a folha de presença. No estado do Rio, os eleitores serão identificados biometricamente só em duas cidades, Búzios e Niterói, onde foi feito o recadastramento. Nas eleições deste ano, haverá biometria em 764 municípios e em outros dois — Florianópolis (SC) e Bento Gonçalves (RS), a identificação será mista. O TSE tem como meta garantir 100% de identificação biométrica no país até 2018.
No caso da eleição para presidente, 84.418 eleitores se cadastraram para o voto em trânsito — fora do seu domicílio eleitoral — no primeiro turno e 79.513 no eventual segundo turno. Os estados mais procurados pelos eleitores que votam foram de seu domicílio eleitoral foram São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Segundo o TSE, 354.184 eleitores brasileiros que vivem fora do país estão aptos a votar nas eleições deste ano. Eles estão distribuídos em 168 cidades de 92 países e poderão votar em 916 urnas instaladas para esta finalidade.
O Globo