A crise no abastecimento de água em Tangará da Serra (240 km de Cuiabá) já atinge os mais de 115 loteamentos distribuídos pelo município e não há previsão para a normalização. O tempo de seca varia entre 20 e dois dias, dependendo da localidade. A versão oficial divulgada pela prefeitura aponta a escassez de chuva como motivo de esvaziamento do rio Queima-Pé, que serve de fonte principal de abastecimento do sistema de reservatório. Mais 95 mil pessoas aguardam o cronograma de abastecimento por meio de caminhão pipa, que recolhem água de cinco poços artesianos, e tem prazo hoje mínimo de quatro dias para atendimento. Veja no vídeo a situação do córrego.
“Terceiro dia sem água nem nas torneiras no bairro Jardim Santiago. Sem subir água na caixa já passa de 15 dias, e o pior é que não vejo nenhuma solução, mesmo temporária, para os próximos dias. O que se escuta de algumas pessoas é a inteligentíssima frase: ‘É por que não chove’. Um município cercado por rios e viver uma situação dessas. Gestores públicos incompetentes, que há anos sabiam da situação e degradação do rio Queima-Pé e não tomaram providência. São mais de 100 mil pessoas pagando pela incompetência de seus gestores”, critica o morador Wariston Sales, em seu perfila no Facebook.
“Há dias sem água, tendo que tomar banho com 1 balde de água para três pessoas”, comentou Patrícia Vieira.
O presidente do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), Wesley Torres, disse que a situação se agravou devido ao fenômeno El Niño, que afastou a chuva da região, onde historicamente a registro de 330 a 950 mililitros no período entre setembro e janeiro do ano seguinte.
“Só a chuva resolve o problema da crise da água. O rio Queima-Pé quase secou por causa da baixa quantidade de chuva neste ano. Normalmente, de setembro a janeiro, chove de 330 a 950 mililitros em Tangará e neste ano ainda não chegou a 100. Isso nunca aconteceu na história da cidade. Rio está dando 100 mililitros de água por segundo, mas a gente precisa de 300. Chove nesta manhã [de quinta-feira, 20], mas não é o suficiente”.
Rede insuficiente
Uma fonte oficial da prefeitura, que preferiu não se identificar, afirma, no entanto, que o problema é um acúmulo de má-gestão dos serviços da rede de distribuição de água da cidade, que não dá mais conta de suprir a demanda. “Cheguei à cidade no começo do ano 2000 e de lá para cá não houve nenhuma reforma no sistema de abastecimento de água. Tangará tem apenas um reservatório para atender toda a população, que hoje está perto de 100 mil [habitantes], mas há quase vinte anos estava em 80 mil”, contou.
A fonte disse ainda que prefeito Fábio Martins Junqueira (PMDB) não declara estado de calamidade para evitar críticas a sua gestão. “Mas, se não chover o necessário na próxima semana, a calamidade pública vai estar instalada”.
O prefeito Junqueira disse que decretou estado de emergência em agosto deste ano. Segundo ele, 40%- abastecidas a partir de poços do Samae- da cidade têm abastecimento regular de água e outros 60%, que recebem distribuição do rio Queima-Pé está com intermitência de dois dias. Disse ainda que dez caminhões-pipas trabalham para fornecer água diariamente às regiões mais necessitadas e a hospitais, escolas e grandes empresas.
Junqueira disse ainda que o reservatório de 100 milhões de mililitros de água, construído em 1978, é insuficiente para a demanda atual, que foi afetada pela longa estiagem.
A reportagem entrou em contato com setor de atendimento ao consumidor do Samae para checar o plano de atendimento, e a informação repassada é de que há reduzido número de caminhões-pipas para dar conta da demanda. Somente nesta quinta seis caminhões começaram a atender pedidos, no entanto, é necessário um mínimo de dez carros. Foi informado ainda que o período mais longo de suspensão de abastecimento é de vinte dias.
“Nós estamos na quinta-feira, mas não posso te dizer que o abastecimento de água no bairro centro, por exemplo, ainda será feito esta semana. Eu seria leviana ao afirmar isso. Temos bairros com 15, 20 dias sem água, e estamos priorizando esses bairros para fazer o atendimento, por estarem há mais tempo com necessidade. Além disso, têm os hospitais que não podem ficar sem água”, disse.
O presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT) em Tangará da Serra, advogado Kleiton Carvalho, disse que convocou representantes de órgãos públicos e engenheiros sanitários para participar de audiência pública, na próxima quarta-feira (26), para debater alternativas de saída da crise hídrica do município. “Há pouca informação do que está acontecendo, então, não posso dizer quais são os pontos precisam ser trabalhos. A audiência é justamente para isso, conseguir informações técnicas para cobrar serviços”, disse.
Conforme previsão do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), de hoje até a próxima quarta-feira (26) haverá probabilidade diária de 80% em Tangará da Serra.
Distrito Triângulo
Segundo o engenheiro agrônomo Décio Siebert, o problema de abastecimento começou a cerca de três meses no Distrito Triângulo, quando centenas de famílias ficaram sem água. As bombas que deveriam retirar a água de uma mina não conseguem funcionar porque o nível está muito baixo, forçando os moradores a improvisar: ou armazenam água, ou têm que caminhar quilômetros para buscar água em comunidades vizinhas.
Ele disse que a escassez afeta também a produção agrícola e agropecuária, como frigoríficos de bovinos e aves e pequenos produtores agrícolas que dependem da água da bacia do rio Queima-Pé para sua produção.
“A cidade não se preparou para afrontar os menores volumes de chuva. Tampouco aceitou as sugestões emitidas pelo Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Sepotuba desde 2010. E tampouco executou ações para promover a recarga da vazão do rio Queima-Pé e dos seus afluentes”, disse.
Gambiarras prejudicam moradores da região do Jardim União