O número de eleitos em 2018 que vão exercer mandato pela primeira vez na Assembleia Legislativa chamou a atenção pela quantidade acima da expectativa. A partir de 2019, 14 das 24 cadeiras na Casa serão de pessoas que tomaram lugar de políticos de carreira, como Zeca Viana (PDT), Mauro Savi (DEM) e Romoaldo Junior (MDB).
Mas, os rostos novos realmente significam renovação de ideias? A reportagem buscou informações da vida dos 14 nomes para saber o que eles fazem e foi identificada a ligação dos eleitos menos conhecidos com pessoas que já há tempos na política de Mato Grosso. A novidade pode ser relativizada logo de início se considerado que dois eleitos são políticos atualmente em mandatos em outras esferas.
Lúdio Cabral (PT) assumirá cargo na Assembleia Legislativa para primeiro mandato, mas já passou pela Câmara de Cuiabá e tentou ser prefeito de Cuiabá e governador do Estado. Esta é a segunda vez que ele concorreu à Assembleia Legislativa, a primeira foi em 2010.
A força policial e a direita
Elizeu Nascimento (DC) e Paulo Araújo (PP) estão em exercício na Câmara de Cuiabá. O primeiro teve seu mandato cassado em julho deste ano juiz da 55ª Zona Eleitoral, Gonçalo Antunes de Barros Neto, que julgou procedente a denúncia de fraude em lista de candidatos do Partido Social Democrata Cristão. Ele permanecerá com direitos da eleição 2016 até que o processo transite em julgado.
Militar reformado, Elizeu fez parte da Rotam por 18 anos e sua bandeira na Câmara é de defesa da Polícia Militar.
O delegado Claudinei (PSL) também é um representante do braço policial na Assembleia. Ele é membro da Polícia Civil há mais de 15 anos e comandou a delegacia regional de Rondonópolis durante dez anos. Ele entrou para a política no início deste ano com filiação ao Partido Socialista Liberal.
A candidatura foi defendida por outro membro policial, Rafael Ranali, integrante da direção do PSL-MT. Ele afirmou que resolveu disputar cargo para defender as bandeiras do presidenciável Jair Bolsonaro.
Silvio Favéro (PSL) conseguiu cargo por cota de votos em legenda. Ele é um dos que engrossam a participação do partido de Bolsonaro em Mato Grosso. Tem formação em direito e já foi vice-prefeito de Lucas do Rio Verde, pelo DEM, em 2016. Seu discurso de campanha foi o que alçou Bolsonaro à presidenciável mais votado, o de renovação da política brasileira.
O sindicalista e agente penitenciário João Batista (PROS) é nome mais conhecido. Ele se afastou da presidência do Sindspen (Sindicato dos Agentes Penitenciários de Mato Grosso). Ele é um dos defensores da bandeira de reforma da segurança pública no Estado.
Apadrinhados
Paulo Araújo também está na lista dos vereadores eleitos em Cuiabá, em 2016, que enfrentam acusações judiciais. A Procuradoria Regional Eleitoral indicou a cassação do mandato, há um ano, por falta de quitação eleitoral. A candidatura a estadual pelo Partido Progressista (PP) foi articulada com a aposta de renovar os representantes da sigla em Mato Grosso, depois de um longo histórico de implicação de investigações criminais.
Xuxu Dal Molin (PSC) já foi vice-prefeito e vereador em Sorriso e atualmente é suplente do deputado federal Adilton Sachetti (PRB). No segundo semestre do ano passado, ele exerceu mandato por quatro meses. Neste período, ele se aproximou de Jair Bolsonaro, mostrando-se defensor de ideias semelhantes do presidenciável. Ele aparece em vídeo declarando apoio a ideias criminalização de membros do MST que entram em propriedades rurais e a liberação de uso de armas de fogo por moradores em zonas rurais.
Valmir Moretto (PRB) também chega à Assembleia com histórico de década na política. Ele foi prefeito de Nova Lacerda. Sua candidatura a deputado estadual foi apresentada em substituição à do deputado Wancley Carvalho (PV), que decidiu não concorrer à reeleição por problemas de saúde.
Faissal Calil (PV) é outro eleito conhecido em Cuiabá. Ele exerceu o mandato de vereador. Ele teve indicação de cassação de mandato, em março de 2016, por promoção irregular de sua campanha em 2012. O MPF (Ministério Público Federal) afirmou à época que, durante a campanha, Faissal e seu amigo Ruy Pinheiro mandaram a assessora de imprensa do Creci-MT (Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de Mato Grosso) enviar e-mails para uma lista de profissionais cadastrados no banco de dados da instituição para promover a campanha. Faissal afirma que nunca teve seu mandato cassado e o que a irregularidade identificada pela Justiça foi cometida por funcionários Creci-MT.
Ligação com o serviço público
Dr. João (MDB) também estreia na política com o mandato de deputado estadual. Ele conhecido em Tangará da Serra por prestação de serviços médicos pelo SUS (Sistema Único de Saúde). E seu cacife político foi o suficiente para assumir o lugar um vereador que pretendia cargo na Assembleia Legislativa também pelo MDB, partido comandado por Carlos Bezerra.
O Dr. Eugênio (PSB) impulsionou candidatura pela participação no serviço público. Ele já trabalhou na rede SUS em região Araguaia. Sua bandeira de campanha foi agronegócio, agricultura familiar, saúde e infraestrutura.
Dr. Gimenez (PV) é médico em São José dos Quatro Marcos e também estreante na política. Se filiado ao Partido Verde em meados do ano passado, utilizando do discurso do “novo”. A motivação foi pela eleição de Wancley Carvalho, em 2014, para deputado estadual, abrindo caminho para maior participação de políticos da região oeste no Legislativo.
Jovens apostas
Thiago Silva também é filiado ao MDB e é uma aposta para renovar o partido na região sudeste de Mato Grosso. Em Rondonópolis, ele é visto como um político em ascensão, passando de líder comunitário para vereador com dois mandatos, cujo segundo será interrompido para subida à Assembleia. Ele é membro do MDB há vinte anos.
O jovem Ulysses Moraes (PSDC) conseguiu eleição por participação em movimentos do momento no país. O advogado de 28 anos é um dos coordenadores do MBL (Movimento Brasil Livre) em Mato Grosso. O grupo ficou conhecido nos Brasil nos últimos anos pela concentração de jovens defensores do liberalismo econômico.
Em Mato Grosso, ele já se opõe a candidatos da esquerda , publicamente já criticou projetos do presidente do diretório do PT, deputado reeleito Valdir Barranco. O MBL-MT também apresentou pedido para que Gilmar Fabris (PSD) voltasse para prisão, no fim do ano passado.