Foto: Ahmad Jarrah / Circuito MT
Corredores e salas completamente vazias. A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) registra a greve de professores mais longa dos seus 45 anos de existência. Com propostas que passam longe do esperado pelos servidores, o Governo Federal é responsabilizado pela paralização geral das atividades docentes no Estado, por mais de 130 dias. A greve ainda atinge mais de 40 instituições em todo o País.
No dia 28 de maio os docentes pararam as atividades com inúmeras reivindicações, entre elas o de reajuste salarial em 27% e reestruturação da carreira. A UFMT tem cerca de 20 mil alunos e 1,8 mil professores, sendo 1,7 mil concursados e 100 substitutos. A universidade tem campus em Cuiabá, Sinop, Barra do Garças e Rondonópolis.
Para tentar colocar fim à paralisação, o Governo Federal propôs reajuste salarial de 10,3% dividido em dois anos – 5,3% em 2016 e 5% em 2017. Na última assembleia realizada no dia 1º de outubro, a maioria dos professores decidiu pela reprovação da proposta e continuação da greve. Dos docentes presentes, 46 foram contrários ao fim da paralisação e 28 disseram ser favoráveis ao término.
Para a Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat), a falta de negociação do Governo Federal até o momento mostra falta de respeito com a categoria. A última esperança de professores e, principalmente, alunos que aguardam voltar às aulas, era a reunião marcada entre o comando grevista e o ministro de Educação para a última segunda-feira (05). Porém, por conta da troca ministerial, em que Aluízio Mercadante assumiu o Ministério, o encontro foi desmarcado. Uma nova data para negociações ainda não foi confirmada.
“O MEC [Ministério da Educação] havia confirmado uma reunião para o dia 5 de outubro. Nós, de Mato Grosso, fomos até Brasília com cinco ônibus, pois entendíamos ser um momento estratégico para realizar um ato público em frente ao Ministério. No entanto o ministro não nos recebeu, alegando que estava em ritual de posse no Palácio do Planalto. A reunião foi marcada antes que [Aluísio] Mercadante fosse nomeado. Na prática, não conseguimos ter avanços”, relatou o presidente da Adufmat, professor Reginaldo Silva de Araújo.
O anúncio de cortes de recursos e até mesmo de concursos públicos também preocupam os docentes das Universidades Federais. Segundo o presidente da Adufmat, a falta de verbas irá prejudicar a expansão das instituições e, consequentemente, o atendimento aos estudantes, fragilizando o ensino público superior, que já é considerado deficitário.
“Não cobre nem mesmo a infração prevista para o período. Mas nossa greve passa também pelos cortes de recursos. O Governo anunciou aproximadamente R$ 11 bilhões de cortes de recursos para as Universidades. Isso, com certeza, irá comprometer o processo de expansão dos prédios que estão sendo construídos”, afirmou Reginaldo ao Circuito Mato Grosso.
Entre os dias 13 e 16 deste mês, professores em greve devem avaliar a volta às aulas.
Pautas internas
Em agosto, professores e acadêmicos entregaram à reitora Maria Lúcia Cavalli uma pauta de reivindicações internas da instituição. Na lista está o pedido de aumento do número de bolsas de pós-graduação para docentes; combate à insalubridade nos laboratórios e demais espaços das universidades; correção do valor das diárias de campo pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC) e maior eficiência no processo de compra de livros.
A reitora ainda foi cobrada pela realização de concurso público para a área e reposição salarial de 19% de forma integral. Segundo a Adufmat, dobrou-se o número de alunos, porém o número de professores se manteve o mesmo.
O presidente da Associação aguarda uma resposta da reitora, ainda nesta semana. “Estamos aguardando. Tive notícias, extraoficiais, de que o documento está sendo fechado e que, em breve, nos passarão uma resposta a nossas reivindicações”, declarou Reginaldo.
Impactos da greve
Nessa espera por um acordo entre União e docentes, os mais prejudicados são os acadêmicos. A interrupção na rotina dos estudos causa grande transtorno, principalmente para aqueles que não são dos municípios que possuem um campus da universidade. Muitos precisam voltar para a casa de seus pais, no intuito de economizar.
Complicações da paralisação atingem alunos de vários cursos, como os de medicina. A acadêmica Vivian Menecucci parou sua graduação no fim do oitavo período do curso. Com isso, sua entrada ao internato hospitalar – período dos últimos anos do curso de graduação em medicina, no qual o aluno tem um estágio automático em um ou vários hospitais, acompanhando as disciplinas básicas na medicina – ficou prejudicada.
“Daí a gente não pode entrar no internato, atrasando nossa formação. Os alunos que entraram no internato no Hospital Júlio Muller continuaram, mas, no meu caso, faltava um mês para entrar e com a greve não consegui. Após o fim da greve, também não sei quando vou conseguir entrar no internato”, relatou a acadêmica ao Circuito Mato Grosso.
Segundo o presidente da Adufmat, professor Reginaldo, assim como nas últimas greves da universidade, os docentes devem reorganizar o calendário acadêmico, logo que a greve for finalizada.
“A greve é uma forma de os trabalhadores dizerem: ‘o meu trabalho é fundamental dentro da sociedade e preciso mostrar isso parando o meu trabalho para notarem essa importância’. Logo que acabar a greve, vamos refazer o calendário acadêmico. O período de janeiro, fevereiro e julho, que são de recesso e férias, serão períodos de aulas, para haver a reposição”, garantiu o presidente da Adufmat.
Técnicos voltam ao trabalho
Os técnicos administrativos da UFMT entram em greve em conjunto com os docentes, contudo já decidiram pela volta às atividades normais, que ocorreu nesta quinta-feira (07.10).
A proposta aceita pela categoria prevê o reajuste de 10,8% no vencimento básico, parcelados em dois anos, aumento de 0,1% no step (intervalo entre os níveis das carreiras) a partir de 2017, e adequação de auxílios.
“A expectativa da categoria era voltar antes, mas o Governo queria colocar no termo de acordo que deveríamos repor os dias da greve em horas adicionais ao expediente. Reafirmamos que a reposição da greve será feita sobre as atividades e processos acumulados”, explicou a coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores Técnicos e Administrativos da Universidade Federal de Mato Grosso (SINTUF-MT), Leia de Souza Oliveira.
A coordenadora ressaltou que o Governo impôs esse acordo, mas que devido ao atual cenário econômico e político, a simples redução dos quatro anos para dois anos já deve ser considerada uma vitória. “Não podíamos ficar quatro anos amarrados em um acordo rebaixado que nos impõe perdas inflacionárias. Já em 2016 teremos muita luta contra a retirada de direitos trabalhistas”, declarou Leia.
Ela citou como exemplo o fim do abono permanência. “São mais de 500 trabalhadores que podem se aposentar caso o abono permanência seja retirado. A situação é muito delicada na UFMT”, concluiu.