Fotos: Arquivo Pessoal
O Dia das Mães é uma data única e especial, há muito amor envolvido, gratidão e momentos de confraternização, porém, para algumas mulheres, essa data é um dia de dor e saudades, uma vez que não terão seus filhos nos braços, após perdê-los de forma trágica e inesperada.
Uma dessas mães, é Jane Patrícia Claro, mãe do ex-aluno bombeiro Rodrigo Claro, que foi morto durante o 16º Curso de Formação de Soldados, há seis meses. Pela primeira vez nos últimos 21 anos, ela irá passar essa data sem a presença do filho. Jane conversou com o Circuito Mato Grosso e falou desse momento difícil.
“Este será o primeiro Dia das Mães sem o Rodrigo, não está sendo fácil. No dia das mães do ano passado ele estava cheio de planos, cheio de sonhos, correndo atrás dos seus objetivos. Hoje, não o tenho mais comigo, nem a voz dele poderei ouvir mais, é muito doloroso", disse ela.
Além de Rodrigo, Jane tem mais dois filhos, um de 16 e outro de 9 anos. Porém, ela afirmou que poderia dar a luz a outros dez, que a dor de perder um é imensa, uma vez que, segundo a mãe, nada substitui a dor e angústia de saber que não verá mais o filho que tanto ama, a não ser por fotos.
A mãe de Rodrigo ainda afirmou que desde que o filho teve a morte trágica, ela não consegue ter uma noite de sono completa, sempre algo a faz lembrar do jovem.
“Não tenho tomado qualquer tipo de medicação para dormir, mas tenho buscado muito apoio em Deus, que tem me mantido em pé, diante de tanto sofrimento. É díficil saber que o filho não voltará. Nunca mais vai estar presente entre nós”, completa Jane.
Jane relatou que até o momento não recebeu apoio ou amparo de algum órgão, como o Corpo de Bombeiros – que quando foi procurado, disse que não poderia fazer nada no caso dela.
Para ela, a dor é redobrada, pois, além de perder o filho, ela também sofre com a demora no processo de julgamento dos culpados pela morte de Rodrigo. Segundo Jane, pior que a morte, é a forma como tudo aconteceu, e o fato de até o momento não ter uma solução quanto ao caso.
A mãe de Rodrigo disse que está sendo procurada por muitos jovens de todo o Brasil, que a tem procurado para pedir opinião dela sobre o ingresso em cursos militares. Além disso, outras mães que perderam os filhos em atividades militares também tem a procurado para conversar nestes momentos tão difíceis.
Anos de sofrimento
Solange Mariluce de Amorim perdeu o filho, Salim Make de Amorim, 22, em março de 2004. Passado 14 anos da tragédia, ela convive com a dor de não ter o filho presente todos os dias de sua vida.
Salim Make foi assassinado, de acordo com Solange, a mando de seu ex-companheiro, com quem conviveu há 13 anos. Ela contou ao Circuito Mato Grosso que até hoje tem uma bala alojada em seu pulmão, devido a tentativa de homicídio que sofreu, quando levou oito tiros no Bairro São João Del Rey, na Capital.
“O meu ex queria me matar, mandou dois homes encapuzados atirarem em mim. Levei oito tiros e sobrevivi. Para me atingir, ele mandou os mesmos atiradores matarem meu filho, que morreu dentro de casa, quando havia acabado de chegar do trabalho”, informou Solange.
Ela contou que vive até hoje desesperada com a morte do filho e sempre se emociona ao falar sobre o que aconteceu no dia 31 de março de 2004. Solange disse não concordar com a decisão do promotor de Justiça na época, Valdecir Gadelha, que concedeu apenas 30 dias de prisão para o mandante do assassinato, assim como para quem cometeu o crime.
A mãe desabafou que quando o filho Salim morreu, ele deixou para trás uma filha de apenas 1 ano de idade. Solagem cuida da neta até hoje, no entanto, neste período, afirmou que nunca recebeu qualquer tipo de ajuda do Poder Público, como acompanhamento psicológico.
“Estou muito triste. Mataram meu filho Salim, que deixou uma criança de 1 ano e que agora tem 11 anos de idade. Será que a justiça não vê isso? Porquê nem a psicóloga veio nos visitar para saber como estou e nem a criança de 1 ano na época”, diz trecho de uma postagem de indignação que ela fez em uma rede social em 19 de novembro de 2013.
Solange precisou tomar remédios para dormir, desde que o filho se foi. Ele ressaltou que muitas vezes o sorriso em seu rosto, esconde a dor que ela carrega.
“Eu não consigo dormir, ainda tenho medo de que algo possa acontecer. Muitas vezes estou sorrindo, alegre, porém sinto muita dor, e as pessoas que me conhecem, que me mantém em pé. Não é fácil, minha neta que considero como filha me ajuda muito. E por ela, e pelos filhos que ainda tenho, vou sorrindo e vivendo a minha vida, mas é muito doloroso os dias”, completou Solange.
Nesses anos de dor, ela ganhou uma companheira, chamada Odilza Sampaio, que perdeu três filhos no conhecido “Caso Tijucal”. O episódio aconteceu em maio de 1996, com o desaparecimento de Marcos Henrique Sampaio, Ed Nelson Soares e Vilmar Silva Fernandes. O desaparecimento foi considerado um dos crimes de maior repercussão da história policial de Cuiabá.
Mãe dos três jovens desaparecidos, em um caso que até hoje não teve solução, Odilza virou diretora da Associação de Familiares de Vítimas de Violência Policial, e ajuda mães em situações como a dela, que sofrem com a perda do filho devido a violência.
“Odilza virou uma grande companheira minha, e tiro o chapéu pela força e garra que essa mulher carrega. Até hoje sinto desespero e fico louca com a perda de um filho, imagina ela que perdeu três? É realmente uma mulher muito forte” afirma a mãe de Salim.
“Deus é tão bom, que levou meu filho tão jovem e com sonhos pela frente, mas me deu uma nova filha, a Isabella, a qual dou todo amor do mundo. Cuido e está aqui para me fazer companhia e me ajudar a vencer esse longo sofrimento”, conclui ela.