Kemilly foi diagnosticada com uma doença genética e hereditária chamada "hipertricose lanuginosa", também conhecida como "síndrome do lobisomem", que a faz ter uma quantidade de pelos no corpo acima do normal. Após dois anos buscando tratamento, a família conseguiu a laserterapia para a criança no Hospital Materno Infantil (HMI), em Goiânia. Desde o início do tratamento, em dezembro do ano passado, a menina já teve cerca de 90% dos pelos corporais removidos.
Os pais de Kemilly moravam em Augustinópolis (TO), mas acabaram se mudando para Goiânia em função das dificuldades de transportes, já que tinham que se deslocar para a capital de 15 em 15 dias. Agora eles moram em uma casa no Jardim Balneário Meia Ponte, na região norte da capital, onde residem outras duas famílias.
Para Patrícia, o maior desafio enfrentado antes da mudança foi o medo de deixar a casa em que vivia, os familiares e o emprego do marido, o eletricista Antônio de Souza, 34 anos. Depois que conseguimos o tratamento dela, nossas vidas começaram a se transformar. As dificuldades aumentaram, pois chegamos a viajar 25 horas de ônibus até Goiânia, mas fizemos de tudo para que ela não perdesse essa oportunidade. Até tomarmos a decisão de mudar de vez, foi tudo muito confuso, mas aos poucos tudo começa a se acertar de novo e estamos na luta para que o meu marido consiga um emprego, afirma.
Segundo ela, ver a menina se olhando no espelho e sorrindo faz todo o sacrifício valer a pena.Quando uma mãe tem uma criança com algum problema de saúde, isso a faz se apegar ainda mais. Pelo menos esse foi o meu caso, pois eu não queria que ela sofresse de jeito nenhum, mas sabia que isso iria acontecer. Aí quanto mais a nossa luta parecia impossível, mais o meu amor por ela aumentava e isso me dava forças para continuar buscando pelo tratamento. Felizmente deu certo, comemora a dona de casa.
Superação
Emocionada, a mãe de Kemilly lembrou os momentos difíceis que teve de enfrentar quando a menina ainda tinha pouco mais de um ano.Uma vez fomos até um parquinho lá em Augustinópolis e ela estava de vestidinho. As pessoas começaram a se afastar da gente, todos olhando com cara de espanto. A Kemilly não entendia nada muito bem, mas para mim foi uma coisa muito dolorida. Fui embora para casa e, a partir dali, comecei a ficar mais presa com ela, para evitar esse constrangimento, lembra Patrícia.
Em outra ocasião, segundo ela, o pai de Kemilly chegou a ficar nervoso com um vizinho.O homem olhou para ela e disse que ela não era uma ‘coisa de Deus’. Que isso era o fim dos tempos e que ela era um bicho. O Antônio ficou bravo, queria ir e tirar satisfações com ele, mas eu o acalmei, pois não valia a pena. No fim, depois, refletimos e entendemos que nem todo mundo estava preparado para lidar com a aparência dela. Mas isso me machucou demais.
Após diversas consultas médicas e inúmeros diagnósticos, a família conseguiu descobrir que o problema dela é genético e que a laserterapia era o tratamento mais adequado.Quando recebi a notícia, fiquei muito feliz, pois a minha esperança de que ela ficaria bem voltou. Hoje, depois de todas as sessões que ela já passou, a situação muda a cada dia. No começo, tínhamos vergonha e não queríamos expor a nossa intimidade para a mídia. Mas foi graças a isso que conseguimos a melhora para ela. Então, sei que fizemos a coisa certa em procurar ajuda, disse.
Patrícia diz que já sonhou com a possibilidade de ter outros filhos, mas após descobrir sobre a doença da filha decidiu rever os planos.Eu queria sim, não vou negar, mas não quero correr o risco de fazer outra criança passar por tudo isso de novo. Pode ser que isso aconteça, pode ser que não, mas não vamos mais arriscar. Ainda bem que já temos a Kemilly, que é a nossa maior riqueza, e vamos focar nossas forças para o bem estar dela, concluiu a mãe.
Para Antônio, Patrícia é uma super mãe. "Ela se dedica muito a Kemilly e enfrentou toda a barra até aqui. Com certeza, é uma vitoriosa", ressaltou.
G1