Marlon, de dois anos, tem microcefalia (Foto: Luciene Costa Silva/ Arquivo pessoal)
Mãe de um menino de dois anos com microcefalia e grávida do quarto filho, a auxiliar de serviços gerais Luciene Costa Silva, que tem 32 anos e mora em Alto Garças, a 366 km de Cuiabá, se diz receosa em dar à luz outra criança com a malformação, já que sabe das dificuldades. Ela está grávida de 4 meses e tem outros três filhos.
A microcefalia é uma condição rara em que a criança nasce com o crânio menor do que o normal. O perímetro cefálico atual do filho de Luciene é de 38 cm. A medida está abaixo do considerado natural para uma criança de um ano, por exemplo, que deve ter, pelo menos, 42 cm no tamanho da cabeça, conforme Luciene.
O dia a dia com o filho é bastante complicado. Luciene, que tem outros dois filhos – uma menina de 12 e um menino de 8 – conta que precisa dar atenção especial a Marlon Augusto.
“Começa pela comida dele que é toda amassada, pois ele não come nada muito sólido. Ele tem dois anos e ainda não fala e não anda. Temos consulta, mensalmente, em gastros, fisioterapeutas, neurologistas, ortopedistas e etc. Além disso, ele não tem postura e é difícil até para eu me locomover com ele. Minha vida é em função dele”, menciona.
Apesar de toda a dificuldade, Luciene afirma que Marlon é uma benção em sua vida. “Todo mundo na cidade conhece, gosta e pergunta dele. Sempre posto fotos com ele nas redes sociais e o pessoal comenta. Não vejo nenhum defeito nele, até acho que se ele fosse mais perfeito, ele não existiria”, enfatizou.
Ela reclama de negligência durante a gravidez. Ela passou mal e foi ao hospital. O médico que a atendeu informou que o estado dela era normal e que poderia voltar para casa. No dia seguinte, teve sangramento. E, então, voltou ao hospital e foi encaminhada para uma unidade médica em Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá.
“Quando cheguei lá, já muito ruim, a equipe realizou o parto. Quando meu filho nasceu, eles [médicos] verificaram que ele estava com parada cardíaca. Além da parada cardíaca, faltou oxigenação no cérebro”, afirma.
Luciene ficou internada por cerca de duas semanas na Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) da unidade e filho, 40 dias na unidade e mais 20 em um leito comum em observação. Nesse período, o bebê ainda teve outras complicações, como uma infecção hospitalar.
Segundo a infectologista Kadja Samara Sousa, a análise numérica do perímetro cefálico pode variar de acordo com o tempo de gestação do bebê. Ela explica que, em casos extremos em relação aos problemas de gestação, os danos podem ser permanentes.
“No caso em que existe a parada cardiorrespiratória e o cérebro da criança fica sem oxigênio por muito tempo, o retardo no desenvolvimento cerebral pode ser bem grave. Esses são casos bem extremos”, explicou.
A especialista orienta que crianças com a condição, além de acompanhamento médico, “devem ser estimuladas em casa para que exista um acréscimo em sua qualidade de vida”. Por causa dos problemas causados pela malformação – como complicações respiratórias -, essas pessoas passam por várias dificuldades médicas ao longo da vida e precisam de cuidados especiais até o fim da vida.
Cuidados
Os casos de microcefalia aumentaram no Brasil e, segundo o Ministério da Saúde, a malformação tem relação com o zika vírus. O vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, mesmo inseto que transmite a dengue e a febre chikungunya.
Luciene diz prestar atenção nos focos de dengue e ainda tem cuidado para que o mosquito não entre em sua casa. “Sempre estou de olho em terrenos abandonados. Tem um aqui perto de casa que denunciei umas três vezes e a prefeitura veio limpar depois. Além disso, tenho tentado usar roupas longas quando dá. E o principal é que tenho me banhado de repelente”, afirmou.
Todo o acompanhamento médico tem sido feito em Rondonópolis. A família toda está em sintonia para dividir os cuidados com Marlon Augusto e a vinda do novo membro da casa.
Microcefalia
A microcefalia não é uma condição exclusivamente adquirida por causa do zika vírus. Fatores como o abuso de álcool e drogas ilícitas na gestação e questões como a síndrome de down podem aumentar os chances de microcefalia na criança.
A condição é irreversível e não existe cura para ela. O que se recomenda são acompanhamentos médicos específicos, como consultas com fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais, para que o desenvolvimento e a qualidade de vida da criança sejam melhores.
O Ministério da Saúde tem recomendado que as grávidas não usem medicamentos não prescritos por profissionais e que façam um pré-natal qualificado, com todos os exames previstos. Além disso, a pasta recomenda que a s gestantes usem repelente e roupas que cubram os braços e pernas, além de, se possível, instalar telas antimosquitos em casa.
Fonte: G1