A lotação nos centros médicos faz com que os pacientes aguardem um leito nas macas do Samu, nos corredores dos hospitais (assista ao vídeo acima) e, assim, as ambulâncias ficam desfalcadas do equipamento necessário ao atendimento à população de São Paulo. A Prefeitura de São Paulo admitiu o problema, mas diz que ele ocorre em casos pontuais e afirma que investe na ampliação do número de leitos na cidade, além da compra de novas macas.
(O tema desta reportagem foi sugerido por um leitor pela ferramenta de jornalismo colaborativo VC no G1. Você também pode participar enviando sua colaboração. Saiba como).
Com o equipamento retido, as equipes relatam que chegam a passar uma jornada inteira de 12 horas sem poder fazer novos resgates nas ruas. Assim, filas de ambulâncias chegam a se formar nas portas dos prontos-socorros dos hospitais à espera de liberação de macas. Atualmente, o Samu recebe 7 mil chamados por dia em São Paulo, gerando 1,2 mil atendimentos feitos por 117 ambulâncias. Em média, o tempo de resposta é de 10 minutos, de acordo com o órgão.
Problemas na Zona Norte
Para comprovar as denúncias, socorristas enviaram fotos e vídeos que mostram os efeitos desse problema no Pronto Socorro do Hospital Municipal José Storopollis, na Vila Maria, na Zona Norte de São Paulo. Na última terça-feira (8), uma equipe do Samu foi ao local para buscar a maca que havia ficado no hospital na véspera, após um resgate.
Ao chegar ao hospital, os profissionais afirmaram ter encontrado outras oito equipes de socorristas com o mesmo problema. Segundo eles, a direção do hospital, por sua vez, lhes informou que não podia liberar as macas, pois não havia leitos suficientes para atender a todos.
Ao retornar à base do Samu, no Jaçanã, também na Zona Norte de São Paulo, essa mesma equipe diz ter encontrado um homem esfaqueado em frente ao local. Foram prestados os primeiros socorros à vítima e solicitado o apoio de uma outra equipe do Samu, com uma maca disponível, para que fosse feita a transferência do paciente.
Segundo o relato deles, a central de apoio do Samu informou para que fosse feito o transporte sem a maca, pois ao menos 14 ambulâncias do serviço não dispunham do equipamento naquele momento. Socorristas relataram ao G1 que em muitas situações são obrigados a fazer improvisações, como amarrar os pacientes nas pranchas utilizadas para carregar os pacientes ou em cadeiras.
Problema muda 'conforme a demanda'
O coordenador do Sistema Municipal de Atenção às Urgências e Emergências, Marcelo Takano, departamento responsável pelo relacionamento entre Prefeitura e Samu, admitiu o problema com as macas. Entretanto, diz que ele muda no "dia a dia, de hospital para hospital, conforme a demanda".
"Se está muito cheio, o hopital nos notifica que a maca está em contenção. Ninguém prende maca deliberadamente", afirmou.Segundo Takano, a orientação às equipes do Samu e hospitais é para que agilizem a troca da maca por leitos adequados para os pacientes.
"A maca não é o equipamento ideal para se manter um paciente. Essa é a nossa preocupação. O gradil é baixo e há um sistema para levantar e baixar a maca, que, se destravado, o paciente pode cair. Por isso, a orientação é a de realizar esforços para substituir nos hospitais as macas. O que estão faltando são macas nas emergências dos hospitais", disse.
Investimentos em mais leitos
Desde o início da gestão de Fernando Haddad, a Prefeitura afirma que tem adotado medidas para aumentar o número de leitos na rede pública, segundo o coordenador. "A secretaria já reativou 290 leitos que estavam bloqueados desde o início da gestão. A municipalização de dois hospitais, o Sorocabano e o Santa Marina, vai aumentar o número de leitos", disse.
"Além disso, o Vasco da Gama também está em processo de municipalização. E o processo de compras de maca tem sido contínuo, mas tem de ser com critério, porque é um equipamente que requer manutenção periódica", destacou.
Segundo os socorristas, as macas já ficavam retidas nos hospitais na gestão do então prefeito Gilberto Kassab, mas havia reservas na base do Samu, segundo as denúncias.
Outro problema recorrente, de acordo com socorristas do Samu, é que os hospitais se recusam a receber pacientes. E, para evitar que estes sejam encaminhados pelas ambulâncias aos seus respectivos prontos-socorros, as administrações destes hospitais enviam documentos (veja abaixo) alertando para a falta de médico de uma determinada especialidade, como ortopedia ou neurologia, por exemplo.
"A gente sabe que tem médico, sim, porque eles fazem um revezamento e a gente acaba levando o paciente. Mas, muitas vezes, somos hostilizados porque encaminhamos um paciente para determinado hospital. Todos os hospitais da região estão com este problema", afirmou uma socorrista.
Já houve casos em que foi necessário chamar a Polícia Militar para que um hospital aceitasse a internação de um resgatado, segundo ela. Em outros casos, a equipe acaba optando por levar o paciente para um hospital mais longe, como a Santa Casa de Misericórdia ou o Hospital das Clínicas.
"Em caso de trauma, por exemplo, na maioria das vezes, tem de passar por um cirurgião. Então, tem de ir onde tem as duas especialidades, o cirurgião e o ortopedista. Então, acaba indo para um lugar muito longe", disse.
De acordo com os socorristas do Samu, as equipes de resgate dos bombeiros passam pela mesma situação, que, a cada dia, se torna mais insustentável. "Todo mundo está saturado com esta situação. Somos hostilizados por médicos e funcionários dos hospitais. Fico revoltada", desabafa a socorrista, que já ficou afastada de do trabalho licença médica por depressão.
Marcelo Takano afirmou que não há qualquer veto ao serviço do Samu nos hospitais e que nunca recebeu qualquer notificação em relação ao acionamento da Polícia Militar por equipes de socorristas para que os pacientes fossem recebidos nas emergências.
"A demanda pelo serviço público é enorme, mas não há bloqueio em relação ao Samu. Os hospitais, por exemplo, não podem impedir pacientes de entrarem a pé nas emergências. O que se tenta fazer é distribuir as ocorrências de uma maneira homogênea entre os hospitais de uma determinada região conforme a demanda e a saturação de cada um", explicou.
G1