Em viagem ao México, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pregou a união da América Latina pela paz e afirmou que deve decidir sobre a oficialização de sua candidatura à Presidência da República ao retornar para o Brasil na próxima semana.
"A América Latina deve estar unida nesse esforço por um mundo que quer a paz e já não pode suportar a guerra", afirmou Lula ao jornal mexicano La Jornada nesta terça-feira (1º), dias depois do começo da guerra na Ucrânia.
Lula chegou ao país na segunda-feira (28) e foi recebido pelo chanceler Marcelo Ebrard. O petista tem um encontro, nesta quarta-feira (2), com o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador.
Na mesma entrevista, Lula afirmou: "sou um ex-presidente que está avaliando, conversando com muitas pessoas [para decidir] se serei candidato mais uma vez, uma decisão que se supõe que devo tomar quando voltar do México".
A viagem marca a retomada da agenda internacional de Lula, que foi interrompida pelo aumento de casos de Covid gerado pela variante Ômicron. No ano passado, o ex-presidente esteve na Europa e na Argentina.
Lula também agendou reuniões com parlamentares mexicanos e líderes do partido de López Obrador, o Morena (Movimento de Regeneração Nacional). A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR); o senador Humberto Costa (PE) e os ex-ministros Celso Amorim e Aloizio Mercadante acompanham o petista na viagem.
Também nesta terça, em entrevista à imprensa, López Obrador anunciou que o México não aplicará sanções econômicas contra a Rússia pela invasão à Ucrânia.
"Não vamos aplicar nenhum tipo de represália econômica porque queremos ter boas relações e queremos estar em condições de poder falar com todas as partes", declarou López Obrador, que é de esquerda.
"Somos contra a invasão, nós padecemos de invasões da Europa, da Espanha, da França e dos Estados Unidos. Queremos que as invasões desapareçam", completou.
O presidente mexicano também comentou sobre a visita de Lula, dizendo que é uma agenda informal, uma reunião de amigos que estão "buscando que as coisas mudem na América Latina e no mundo".
López Obrador afirmou ainda que o México mantém boa relação de respeito com o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, a guerra na Ucrânia virou munição contra Bolsonaro e Lula no contexto da eleição presidencial. A invasão da Rússia opôs os principais presidenciáveis e evidenciou contradições.
Em entrevista na semana passada, Lula havia dito que "ninguém pode concordar com a guerra".
"A guerra só leva a destruição, desespero e fome. O ser humano tem que criar juízo e resolver suas divergências em uma mesa de negociação, não em campos de batalha", disse Lula, em crítica sutil à decisão da Rússia, governada por Vladimir Putin, de iniciar os ataques à Ucrânia.
Ainda na entrevista à Rádio Supra FM, de Luziânia (GO), Lula disse que "Putin precisa saber que o povo não precisa de guerra".
O petista ironizou a alegação de que Bolsonaro fora à Rússia promover a paz e criticou a ONU (Organização das Nações Unidas). "A Nações Unidas precisa levar em conta que não tem mais a representatividade que tinha quando ela foi criada em 1948", disse.
A esquerda, no entanto, se divide sobre o tema. Uma visão ideológica, que ecoa a Guerra Fria, vê o conflito sob o prisma do imperialismo. A leitura é a de que os EUA perseguem a hegemonia global e, via Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), buscam fustigar a Rússia.
Bolsonaro, por sua vez, vem pregando neutralidade no conflito. O presidente é simpático a Putin, com quem se reuniu no último dia 16. Em solo russo, Bolsonaro declarou solidariedade ao país.