28/03/2016 – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante entrevista coletiva a jornalistas estrangeiros na manhã desta segunda-feira (28) em São Paulo (Foto: Paulo Whitaker/Reuters)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que vê com "certa tristeza" a possibilidade de o PMDB deixar o governo Dilma, mas acredita que ainda há chance de um acordo que mantenha parte da legenda na base de apoio governista. Disse também que quer participar das decisões do governo mesmo que seja na condição de conselheiro, caso não consiga tomar posse como ministro.
"Pelo que eu estou sabendo, os ministros do PMDB não saíram do governo e nem a Dilma quer que eles saiam. O que eu acho que vai acontecer é o que aconteceu em 2003: o governo vai construir ainda uma base com parlamentar do PMDB no Senado e na Câmara e vamos ter uma espécie de uma coalizão sem a concordância da direção", disse Lula.
Ele destacou que tem uma experiência histórica de relação com o PMDB, e conhece bem o partodo. "É um partido com muita força regional, você tem o PMDB em cada estado com muita autonomia. "Quando eu ganhei as eleições em 2003, no primeiro momento o PMDB não me apoiou, o PMDB participava do governo, uma parte do PMDB na Câmara me apoiava, uma parte do PMDB no Senado me apoiava. E nós conseguimos governar. O concreto é que o PMDB me ajudou a governar este país no primeiro mandato."
"No segundo mandato, nós então fizemos um acordo com o PMDB e o PMDB teoricamente decidiu me apoiar e ainda assim a gente nunca teve todo o PMDB. Você tem vários estados que as pessoas não querem apoiar o governo porque são inimigos no PT no estado e agem assim. Então, o que que eu acho: eu lamento, eu lamento. Eu vejo com uma certa tristeza o PMDB abandonar o governo."
As declarações foram dadas em entrevista a jornalistas estrangeiros em São Paulo nesta segunda-feira (28).
Na terça (29), uma reunião do diretório nacional do PMDB discutirá se o partido desembarca ou não do governo.
"Pode acontecer o que aconteceu em 2003 de ter uma coalizão sem a concordância da direção" disse Lula, segundo relato publicado em O Globo.
Lava Jato
Na entrevista, Lula também comentou o papel do juiz federal Sérgio Moro, que comanda a operação Lava Jato.
"Tudo o que se sabe do juiz Moro é que ele é uma figura inteligente, competente, mas como ser humano eu temo que a mosca azul faça seus efeitos", disse Lula. "Acho que fazer um julgamento correto, ouvir as pessoas corretamente como deve ser, dar o direito das pessoas se defenderem corretamente. Eu acho que está cumprindo um papel extraordinário para a democracia brasileira. É isso que eu espero de um juiz, seja ele, o Moro, ou qualquer um outro".
Lula é investigado na Lava Jato, que apura um esquema de corrupção na Petrobras. Ele é suspeito de ser o verdadeiro dono de um sítio e um apartamento triplex que, segundo investigações, foram reformados por empreiteirtas que estão na mira da Lava Jato. Lula nega as acusações.
Na 24ª fase da Lava Jato, Lula foi obrigado a prestar depoimento à Polícia Federal por ordem do juiz Sérgio Moro, que emitiu mandado de condução coercitiva contra o ex-presidente.
"Que ele aja de acordo com o que a legislação manda, porque um juiz tem que ser respeita por todo mundo, ele não pode ser de um lado ou de outro", afirmou Lula aos jornalistas estrangeiros.
Lula disse ainda que as pessoas não podem querer mudar o governo quando há problemas. "É bom que a gente aprenda a conviver com a democracia e seus problemas. Democracia tem problema, mas não tem nada melhor. As pessoas não podem querer mudar o governo a cada problema", disse.
"Quando há intolerância, como agora está acontecendo no Brasil, é insuportável porque isso significa retrocesso para o país", afirmou. "Eu acredito no democrata brasileiro eu acredito no bom senso dos deputados brasileiros que ainda tem tempo para refletir".
"Nós precisamos fazer um esforço muito grande para que não aconteça aqui no Brasil o mesmo que aconteceu em Honduras, no Paraguai, e que não aconteça em nenhum país do mundo",
"Eu acredito que vai prevalecer a democracia e vai prevalecer o bom senso e que a gente possa dara chance a presidente Dilma de governar este país. Se eu pudesse fazer um apelo, eu faria, deixem esta mulher governar o país, deixem ela fazer o que tem que fazer. Ninguém é obrigada a gostar de ninguém, mas ela foi eleita", afirmou.
Outros pontos citados na entrevista, segundo a agência Reuters:
– Lula afirmou que o governo precisa fazer desonerações e adotar outras medidas para que a economia possa voltar a crescer, numa aposta no potencial do mercado interno do país.
– O ex-presidente disse ter convicção de que pode contribuir com o Brasil no governo Dilma e acredita ser possível mudar o humor do país em poucos meses.
– Lula voltou a defender Dilma e disparou contra os apoiadores do impeachment da presidente. "Impeachment sem base legal, sem crime de responsabilidade, é golpe", disse Lula aos correspondentes. "É muito importante não brincar com a democracia."
Dilma é alvo de pedido de abertura de processo de impeachment que tramita na Câmara dos Deputados e que tem como base as manobras fiscais conhecidas como "pedaladas". Os críticos do pedido de impedimento alegam que isso não é o bastante para configurar crime de responsabilidade.
– Lula acusou a oposição a Dilma de impedir que a presidente governe e a mídia de criar um clima de ódio no país, que ele comparou com a situação vivida na Venezuela.
– O ex-presidente, que teve conversas interceptadas pela Polícia Federal em meio às investigações da Lava Jato e divulgadas pela Justiça, criticou o que chamou de "Big Brother" nos métodos investigativos da operação e defendeu as ações tomadas durante seu mandato, entre 2003 e 2010, para fortalecer a Polícia Federal e a liberdade de investigação.
Fonte: G1