Opinião

Luiz Carlos Ribeiro: um Índio Tamoin

Conheci Luiz em algum 19 de abril, Dia do Índio, no Centro Cultural Ikuiapá, antiga Artíndia. Vera e Zuleica foram convidadas para cantar, em ritmo de rasqueado, a homenagear os índios. As duas vieram em três. Luiz, com aquela voz que enche a alma de quem a ouve, recitou um enorme poema que colocava o índio em seu devido lugar. Lugar que, ainda, muitos continuam a negar e a usurpar.

Depois, nas esquinas cuiabanas passamos a cruzar. Fui parar em sua casa, a me curar com suas mãos de Shiatsu, em um cômodo com janela que se abria às mangas-rosa, ainda no pé. Segui o vozeirão de Luiz por onde ecoavam os índios, a recitar poemas, a contar histórias como Tamoin sabe contar, encantar. Tamoin, um índio Kamayurá muito velho, bem-humorado, nascido quando a Lua nasceu. Sabedor de muitas coisas do universo indígena, senta-se em seu banco de madeira, lugar de homens importantes, para transmitir aos jovens suas experiências e histórias de sua gente.

Me chamou de “irmã de utopias” em Mala de fugir e outros contos. Em um deles aparece uma personagem, tia Arminda, “um verdadeiro Tamoin de saias”. Ao invés de sentar no banco de madeira, ela se senta no mocho de couro cru para alimentar de histórias a imaginação de gentes de tantas idades. Tia Arminda contou que o índio Tibanaré, ser que não faz mal a ninguém, um pouco gente um pouco passarinho, vive a pedir fumo e, quando atendido, vira passarinho. Em agradecimento oferece seu canto.

Luiz continua a ser nosso Tamoin. O Tamoin da mala de fugir e que ganhou de Tamoin Kamayura o dom da contação de histórias, da declamação e da força da sua voz. Luiz se foi… Nos deixou sua mala de fugir porque para onde foi não tem mais serventia. Lá encontrou o que precisa: curiangos, piraputangas prateadas, mãe-do-ouro, mãe-do-morro, lobisomens, pés-de-garrafa, estrela maior, negrinhos d’água, hominho branco, boitatá para também se tornar um ser encantado.

Abracei Luiz em dezembro, na exposição coletiva de arte híbrida Centenário Manoel de Barros. Ele estava lá, “para encontrar o azul”…

Redação

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