O líder espiritual preso por suspeita de abuso sexual, na quarta-feira (2), usava um chá indígena, denominado hoasca, para dopar as mulheres e praticar os abusos em Lucas do Rio Verde, a 360 km de Cuiabá, de acordo com a delegada responsável pelo caso, Ana Caroline Lacerda.
Outros dois casos também foram registrados em Sinop e Alta Floresta, ao norte do estado, contra o mesmo suspeito e pela mesma prática criminosa. Em depoimento, o suspeito negou as acusações.
A delegada Lacerda contou que o suspeito se aproveitava da posição que tinha dentro do centro religioso para praticar os crimes durante os rituais. Ele teria levado atendimento espiritual nas outras duas cidades.
"Era um chá que elas [vítimas] não estavam acostumadas a tomar no centro religioso. Algumas eram frequentadoras do centro há algum tempo, outras ele já praticava na primeira sessão e elas nem retornavam", contou.
Lacerda disse que as vítimas tinham um perfil semelhante. Todas elas tinham algum problema pessoal e apresentavam alguma fragilidade emocional.
"Isso fazia com que elas acreditassem no que ele falava e acabavam se submetendo ao ritual, na esperança de que melhorassem", afirmou.
As investigações apontam que o suspeito agia por meio de manipulação psicológica, sob argumentos de conexão e troca energética, colocando de forma fraudulenta na mente das vítimas, a necessidade de realização de um ritual espiritual.
Acreditando que receberia uma cura espiritual, as vítimas deixavam que o suspeito realizasse toques corporais, que configuraram atos libidinosos, chegando em um dos casos ao ato sexual, após ingestão de um chá indígena.
Hoasca
A bebida tem origem em plantas encontradas na floresta amazônica com potencial alucinógeno. O produto possui alguns ingredientes ativos, como:
- N, N-dimetiltriptamina (ou DMT);
- Alcaloides harmala, um composto químico que impede a decomposição da droga no corpo.
Aqueles que bebem ayahuasca — como a planta também é conhecida —, relatam ver formas e cores e ter alucinações, às vezes aterrorizantes, que podem durar horas. Nesse estado de sonho, alguns dizem que encontram parentes mortos.
As raízes são usadas há centenas de anos por grupos indígenas na Amazônia. No século passado, no Brasil e em outros países da América do Sul, surgiram igrejas na América do Sul, onde a ayahuasca é legal.
No Brasil, algumas das igrejas que ministram a planta têm como inspiração uma mistura de influências cristãs, africanas e indígenas.