Ele era um dos principais críticos ao governo islâmico do país e à violência de grupos extremistas.
Segundo informações da agência de notícias local TAP, Bel Aid foi levado a um hospital após receber os disparos, mas não resistiu aos ferimentos. Devido ao assassinato, mais de mil pessoas protestaram em frente ao palácio do governo contra o partido da situação, o islâmico Ennahda.
O primeiro-ministro, Hamadi Jebali, disse que a polícia ainda não identificou o assassino, mas lamentou a morte do adversário. "A morte de Belaid é um assassinato político e da revolução tunisiana. Matando ele, eles quiseram silenciar sua voz".
Devido ao incidente, o presidente Moncef Marzouki interrompeu uma visita à França e cancelou uma viagem ao Egito para participar da cúpula dos países islâmicos.
Bel Aid era líder do opositor Partido dos Patriotas Democratas Unificados, agremiação liberal que é contrária aos islâmicos do Ennahda, que governa o país. O opositor foi um dos principais líderes dos movimentos sociais e dos sindicatos da cidade de Gafsa, clandestinos durante o regime de Zine El Abidine Ben Ali.
Em setembro, o partido anunciou a criação da Frente Popular pelos Objetivos da Revolução, que visava ser uma alternativa à ascensão dos partidos muçulmanos após a queda do ditador, em janeiro de 2011.
A agremiação também é crítica às Ligas de Proteção da Revolução, milícias fundadas por rebeldes salafistas que são acusadas de envolvimento em atos terroristas. Devido a suas posições políticas, Bel Aid e seu partido foram pressionados pelos islâmicos, que os ameaçaram com atos violentos.
As pressões se concretizaram no último sábado (3), quando um grupo atacou a sede do partido liberal na cidade de El Kef, no sudoeste do país. Após o ataque, Bel Aid aumentou a pressão sobre o governo e criticou duramente à inação da polícia frente às agressões dos islâmicos.
A última crítica do líder opositor foi feita na noite de terça (5) em uma entrevista em um programa de televisão, quando acusou o governo e o Ministério do Interior de passividade ante as ações de grupos extremistas.
TENSÃO
A morte reacendeu o temor de novos confrontos violentos na Tunísia, o país que conseguiu a maior estabilidade política após a queda de um ditador durante a chamada Primavera Árabe, no início de 2011, mesmo tendo optado por um governo islâmico.
A vizinha Líbia entrou em descontrole civil após a saída de Muammar Gaddafi, em outubro de 2011, enquanto o Egito enfrenta intensos protestos contra o presidente islâmico Mohamed Mursi.
O Ennahda foi eleito para governar o país com 42% dos assentos do Parlamento, após pleito em outubro de 2011. Mesmo sendo de origem islâmica, o partido manteve algumas exigências dos liberais e conseguiu maior estabilidade política.
No entanto, a administração tunisiana enfrenta manifestações contra a crise econômica, causada pela queda do consumo na zona do euro e das consequências da transição política.
Fonte: FOLHA.COM | AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS