Neste momento que antecede as disputas eleitorais de 2026, os “estilistas” trabalham duro para construir fantasias com as quais os candidatos se apresentarão ao público. Também os redatores constroem o discurso. Textos e roupagens precisam disfarçar o personagem real e mostrar o que foi idealizado para convencer o povo de que tal ou qual candidato tem suficientes dotes para ocupar os melhores cargos.
A roupagem idealiza um concorrente, transformando muitas vezes um sapo em um príncipe, mostrando seu eventual lado bom e escondendo a face feia. E assim, hipocritamente, tenta passar pelo que não é. Já, o discurso busca depreciar os concorrentes divulgando algumas falhas reais dos adversários e inventando outras. É a leviandade, uma poderosa ferramenta usada na disputa e que muitas vezes produz os resultados buscados, não raro decidindo eleições.
Esta é, na verdade, uma seleção perversa. Se a leviandade e a hipocrisia funcionam, os que as praticam tendem a se eleger mais. Os que resistem, apresentando-se como são e deixando de atacar os adversários, raramente tem essa virtude valorizada e podem ser derrotados.
Se os defeitos (hipocrisia e leviandade, por exemplo) estão bem distribuídos na sociedade e tem o poder de favorecer seus adeptos levando-os ao poder, parece aceitável deduzir que nos meios políticos ela esteja mais concentrada. Não é que estes vícios sejam mais evidentes entre os políticos por acaso; eles se alastram porque o sistema recompensa quem os utiliza com mais habilidade e menos escrúpulo.
Ou seja, nós, de alguma forma, nos identificamos com esses defeitos, elegendo com mais intensidade os hipócritas e os boquirrotos. Isso explicaria, entre muitos outros, um Sóstenes Cavalcante e Nikolas Ferreira (direita) e Glauber Braga e Lindbergh Farias (esquerda).
Não podemos afirmar que a política só atrai pessoas moralmente piores; as pessoas boas também se interessam por ela. Pode ser que o povo — que somos todos nós — prefira os mais falastrões, aqueles que estão dispostos a realçar as próprias virtudes e exagerar os defeitos (reais ou inventados) dos concorrentes.
Mas há outro ponto a observar. Será que a leviandade e a hipocrisia estão mais presentes entre os políticos ou, na média, eles seriam iguais à população que representam? Porque se nós os elegemos, de alguma forma os admiramos. Ainda, convém lembrar que os defeitos deles podem aparecer mais que os nossos, porque estão expostos a holofotes e microfones.
A exposição constante funciona como lente de aumento. Um comentário infeliz no círculo privado morre ali; no palanque ou nas redes sociais, viraliza, influencia eleitores e pode decidir eleições.
Isso ajudaria a explicar por que a leviandade e a hipocrisia parecem mais frequentes entre eles, não porque seja mais comum, mas porque é mais visível e, sobretudo, mais vantajosa?
Por fim, terminou o espaço e, indo para um lado e para o outro, nada concluí. O vício e a virtude — os defeitos e as qualidades — a que se referiam os filósofos gregos estariam igualmente distribuídos tanto na população como nos partidos políticos?
Renato de Paiva Pereira.


