A maneira surreal como um homem é obrigado, há 13 anos, a manter uma luta incansável para permanecer em um local que lhe pertence por fato e direito é a matéria principal deste número do Circuito Mato Grosso. Mais ou menos à maneira do clássico O Processo, de Franz Kafka, um economista de 65 anos é submetido a toda sorte de sobressaltos após uma manhã em que batem à sua porta e, sem explicar o porquê, simplesmente avisam que sua casa não é mais sua. Protegido ao norte pela mesquita muçulmana e ao sul pela Igreja de São Benedito, seu Benedito Addôr não pede nada além do direito de continuar até o fim de seus dias na casa onde vive há 50 anos. Inicialmente com seus pais e um irmão e agora somente na companhia de Deus, como ele descreve. Nessa quase uma década e meia, o impediram de reformar a própria casa, tentaram tirá-lo (inúmeras vezes) e por fim derrubaram uma de suas paredes. “Só não caiu tudo porque são paredes grossas, feitas de tijolos maciços”, conta. Quando não é açodado pelo poder público, quem o faz são os bandidos. “Todos os dias, às 3h da manhã, alguém vem e força minha porta”, conta, resignado.
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