A operação Lava Jato foi um catalisador de grandes negócios no Brasil nos últimos 3 anos. As empresas que foram investigadas pela Polícia Federal venderam 48 ativos em transações que somaram mais de R$ 103 bilhões desde 2015, segundo levantamento do G1 a partir de estatísticas de fusões e aquisições da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e de operações divulgadas pelas próprias empresas.
Na lista de vendedores estão grandes empresas brasileiras, como Petrobras, J&F, Odebrecht, Camargo Corrêa, OAS e BTG Pactual. Todas tiveram que colocar negócios à venda após ter seu nome envolvido de alguma forma na Lava Jato.
A temporada de vendas ainda não acabou: essas empresas tentam se desfazer de ao menos outros R$ 75 bilhões, segundo cálculos do G1 com base em planos anunciados.
A venda de ativos é parte do roteiro das empresas envolvidas nos escândalos de corrupção para se reerguer. A investigação trouxe uma crise de credibilidade para as empresas que afetou sua capacidade de conseguir crédito e manter as receitas. Para complicar, a maioria desses grupos estava com endividamento elevado e comprometida com projetos futuros altamente dependentes de aporte de capital ou financiamento.
"A turma envolvida na Lava Jato teve e terá que entregar os anéis para não perder os dedos", resume o advogado especializado em fusões e aquisições Carlos Lima, sócio do escritório Pinheiro Neto. Como razão para esse movimento, ele citou o alto endividamento das empresas, o crédito mais restrito e o compromisso que assumiram em pagar multas bilionárias definidas nos acordos de leniência.
Troca de donos
Dos quase 50 negócios cujo controle ou fatias trocaram de mãos, o caso mais emblemático é o da Alpargatas, que detém as marcas Havaianas e Osklen, e que em 2 anos já esteve sob o comando de 3 diferentes donos.
No final de 2015, quando as construtoras estavam no centro dos escândalos de corrupção, a Camargo Corrêa vendeu o controle da Alpargatas para a J&F, da família Batista, por R$ 2,66 bilhões. A venda foi assinada dois meses após a Camargo fechar um acordo de leniência.
Em 2016, os donos da JBS desembolsaram mais cerca de R$ 500 milhões para elevar a participação na companhia. Mas, este ano, os irmãos Joesley e Wesley Batista é que tiveram que vender seus negócios para fazer caixa e conseguir suportar a maré negativa depois de fechar um acordo de delação premiada.
Em julho deste ano, a J&F vendeu sua participação de 54% da Alpargatas para a Itaúsa, Cambuhy Investimentos e Brasil Warrant, grupos que têm como acionistas a família Moreira Salles, por R$ 3,5 bilhões.
Mas o maior negócio até o momento foi a venda da Nova Transportadora do Sudeste – NTS (rede de gasodutos da Petrobras) para a canadense Brookfield, por R$ 16,7 bilhões. Em seguida, está a venda da Eldorado Celulose e Papel, pela J&F, para o grupo holandês Paper Excellence, por R$ 15 bilhões.
Petrobras lidera liquidações
A maior vendedora da lista é a Petrobras, que já levantou R$ 42,5 bilhões (US$ 13,6 bilhões na conta em dólares) em negócios fechados desde 2015.
Em abril de 2014, a petroleira calculou em R$ 6,194 bilhões as perdas por corrupção e reduziu o valor de seus ativos em mais de R$ 60 bilhões após ter reavaliado uma série de projetos como a Refinaria Abreu e Lima, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
O chamado plano de desinvestimentos foi anunciado na esteira da Lava Jato diante das dificuldades de caixa para financiamento da carteira de novos projetos e também da necessidade de redução da alavancagem em meio a um cenário de queda do preço do barril de petróleo. O endividamento líquido da companhia saltou de um patamar de R$ 100 bilhões no início de 2012 para mais de R$ 400 bilhões no final de setembro de 2015.
Embora ainda não tenha fechado nenhuma nova venda em 2017, a Petrobras ainda prevê arrecadar mais US$ 21 bilhões até 2018 (o equivalente a mais de R$ 65 bilhões) no seu plano de desinvestimento.