Eles começaram tímidos e no início eram poucos, mas hoje as ruas de Cuiabá ganham uma nova nacionalidade. Centenas de haitianos chegam a capital mato-grossense em busca de uma terra promissora e receptiva. E os calorosos cuiabanos fazem jus à fama e abraçaram mais esse povo estrangeiro. De operários a DJ’s, eles vêm ganhando espaço nos postos de trabalho e na vida cotidiana da cidade do calor.
Fôlego! Esta foi a definição que Domongue sentiu ao chegar em Cuiabá. Após dias nas mãos de “coiotes” e atravessadores, o homem de nacionalidade haitiana conquistou seu primeiro emprego com carteira assinada em Mato Grosso e hoje ele agradece a confiança e a receptividade do povo cuiabano.
Com um pouco de sotaque, mas um bonito sorriso, Domongue conta como foi chegar a capital de Mato Grosso. “Eu passei por alguns momentos complicados na estrada, mas precisava sair do meu País. Pois lá estava impossível viver e mantem minha família”, relembrou ele, que veio para a capital atraído pelas obras da Copa do Mundo.
Para se manter e trabalhar, ele e seis amigos chegaram a alugar um local para dividirem despesas e aluguel. “Quando se chega é muito difícil, para todos, por causa do idioma e dos documentos. Mas aqui em Cuiabá ao contrário de São Paulo, não sofri preconceito e não me trataram diferente”, comentou. Agora de carteira assinada, como pedreiro, Domongue já leva alguns dos amigos que chegam para conhecer a cidade. “Levo eles nos lugares que tem trabalho, que vende as coisas mais barato e também saímos de vez em quando. Contudo sempre economizando, pois não sabemos o amanhã”, pontuou.
Assim como ele outros 20 imigrantes do Haiti e da Angola passaram pelas portas da casa do Migrante em Cuiabá. "Gente é para brilhar", diz a frase, na porta da instituição, parafraseado a o famoso poema do russo Vladimir Maiakovski, também cantada pelo músico Caetano Veloso.
Mais adiante, outra frase pintada na parede deseja que "Deus abençoe quem chega e quem parte". Em um banner, uma homenagem ao beato João Batista Scalabrini, pai dos migrantes. Mais à frente corredores levam aos 75 leitos, aos banheiros e à cozinha. Nove funcionários cuidam da Casa: administram, fazem a limpeza e as três refeições do dia – café da manhã, almoço e janta.
O sentimento de receptividade é compartilhado pelo padre haitiano, Jean Jacky Genesté, que ministra missas para os haitianos: “Cuiabá é um bom lugar para trabalhar e o povo recebe bem calorosamente os seus imigrantes. Estou aqui em missão e não tenho o que reclamar, além do calor”, fala o missionário que dá um sorriso e uma abanada, sinalizando os 39 graus que estavam fazendo na hora da entrevista. Genesté reclamou que antes a demanda de vagas estava maior, por conta da Copa do Mundo, mas pontuou que o agronegócio, a construção civil e a pecuária ainda geram bastante oportunidades de vida.
O Padre Jean Jacky nasceu na cidade de Bauden/Haiti. O sexto dos nove filhos de Germainde Delva e Joseph Genesté, Jean participava da comunidade São Francisco Xavier em sua cidade natal. Ingressou no Seminário São Carlos/Porto Príncipe dos Padres Carlistas no ano de 1999 e logo após sua ordenação foi enviado para a Diocese de Santos, no Brasil. Posteriormente foi designado para Mato Grosso, onde está atualmente.
“O grande desejo do haitiano é conquistar seu espaço e estar inserido na sociedade. Eles procuram terra para dar pão. Ou seja, trabalhar para conseguir se manter. Não é fácil para o migrante se fixar, pois ele sempre vai procurar o melhor lugar para se ganhar a vida, comentou.
A instituição conta atualmente com 40 migrantes do Haiti, mas já houve época em que a casa estava totalmente ocupada. O padre finalizou agradecendo a receptividade do povo mato-grossense e disse que “o cuiabano é muito acolhedor e aqui é uma cidade onde se tem menos preconceito, onde o povo recebe e aceita melhor o estrangeiro e o imigrante”, disse.
IGREJA EVANGÉLICA – A comunidade haitiana está tão presente em Cuiabá que uma igreja evangélica também abriu suas portas para atendê-los na capital mato-grossense. Inaugurada em março deste ano, a Igreja Assembleia de Deus Comunidade Haitiana, está localizada na Avenida Gonçalo Antunes de Barros (antiga Avenida Jurumirim), nº 967, no Bairro Bosque da Saúde.
Na direção da igreja está o missionário Manoel Severo Botelho e sua esposa Joselina de Moraes. A nova igreja voltada para migrantes do Haiti, abre as portas aos domingos (7hs escola dominical e 19hs para cultos), sábados (19hs culto) e nas terças-feiras (19hs para reunião bíblica).
O pastor Botelho disse estar muito orgulhoso por estar à frente da nova igreja, que surgiu para suprir uma necessidade dos haitianos. “Agradecemos a Deus primeiramente, por mais esta oportunidade. Nós estamos lutando a cada dia, para proporcionar um crescimento espiritual para todas as nações”, contou. Segundo o pastor a Assembleia de Deus é responsável por grandes missões, por todo o mundo e Cuiabá não estaria desamparada de assistência aos povos do Haiti e de outras nacionalidades.