Comigo sempre foiassim, desde criancinha. Especialmente nas longas distâncias. E quando falo degrandes viagens me refiro também às dificuldades inerentes aos meios detransportes adotados.
Entre o Rio deJaneiro, terra onde nasci, e Ponta Porã, onde fomos morar quando tinha 6 anos,a primeira viagem para lá incluiu um avião militar de Guaratinguetá, São Paulo,a Campo Grande, Mato Grosso, ( isso mesmo, foi muito antes da divisão), depoisde irmos no fusca do meu avô da Ponta do Leme até a cidade paulista.
O vôo, o primeiroda minha vida, foi cheio de emoções e turbulências. Elas provocaram um enjôo queme fez vomitar a maçã gentilmente oferecida pelo brigadeiro que seguia para umainspeção e nos deu uma espetacular carona aérea num avião dos tempos da segunda guerra!
Nunca mais comi maçãquando enjoada, nem que minha mãe tentasse me obrigar, o que foi o caso em questão.Acho que foi ai que passei a pensar duas ou três vezes quando recebia uma ordemdela. Esse “benefício” da dúvida me persegue até hoje…
Não me lembro comofomos até Ponta Porã. Acho que de ônibus, por estrada sem asfalto que cortavamo então Mato Grosso. A dúvida fica por conta da roupa que, tenho certeza, usávamosquando chegamos ao nosso destino: calças cinza, de flanela! Meio parecidas comas usadas por Tintin, o personagem dos quadrinhos francês.
Já eram estranhaspelo estilo, ficaram esdrúxulas pelo calor inesperado de 40 graus que fazia empleno inverno na vila militar, aonde chegamos com malas, bagagens e ainda semcasa para morar.
As indumentárias deviagem atrasaram um pouco nosso entrosamento com as crianças do lugar, que nosolhavam com ar de “o que são esses seresesquisitos uniformizados para o inverno?”
Outro fator foi onosso sotaque inconfundível carioca cheio de chiados e totalmente diferente dopessoal do entorno que viria a se tornar nossa realidade nos quatro anos que seseguiram e nos transformariam em experts na arte de viajar, o que aconteciareligiosamente, graças a Deus, em todas as férias, as de julhos e as de fim deano.
Usamos váriosmeios de transportes, por terra e por ar: trens ( outra experiência inesquecível), carros ônibus e avião.
O negócio era chegaraos destinos e fazer dos percursos aventuras agradáveis, sem deixar que o mauhumor (ai, papai!) que poderia contaminar os dias de deslocamento tornasse ostrajetos num inferno.
Para isso cada umde nós, a Gisela, o Mickey e eu, levávamos uma malinha, com objetos pessoais epassatempos, como baralho, livrinhos, jogos e outras distrações.
Por que estoucontando tudo isso? Por que a viagem em que estou nesse momento começou com oanúncio de uma greve da empresa de ônibus argentina pela qual compramos apassagem, com dias de antecedência, e pretendíamos viajar!
E olha que noquesito diversão falhei, sim, apostei todas as minhas fichas na máquina fotográficae não considerei a hipótese que os vidros cobertos de poeira pudessem limitarmeu raio de ação fotográfica!
Como meu espaço semanalestá no fim, e para evitar os justíssimos protestos dos meus queridos editores,essa historia vai ficar para uma próxima vez. Hasta La vista…
* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Estacrônica faz parte da série e “Ponta do Leme”, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com
Texto de Valéria del Cueto