A Vara Criminal da Comarca de Brasnorte bloqueou na última semana R$ 1 milhão em bens de um investigado pela Polícia Civil, por integrar um grupo armado responsável por diversos homicídios ocorridos no município. Os crimes são investigados pela Delegacia da Polícia Civil de Brasnorte, que representou à Justiça pelo bloqueio de bens em nome de um dos criminosos, porém, não declarados oficialmente.
O grupo criminoso, liderado por um policial militar, foi investigado por homicídios qualificados e constituição de milícia privada. O servidor público teve o mandado de prisão decretado pela Justiça e foi preso neste mês de agosto. Um dos executores dos homicídios também está preso preventivamente, enquanto outro foragido.
Os bens bloqueados, entre veículo, terrenos e sítios, estão estimados em R$ 1 milhão. De acordo com o delegado Eric Fantin, o bloqueio dos bens é uma forma de responsabilização do investigado diante dos inúmeros crimes praticados.
Dois inquéritos, que apuraram homicídios ocorridos em Brasnorte entre 2020 e este ano, evidenciaram que o policial militar liderou as execuções, cujas características apontam para a formação de um grupo de extermínio criado por ele.
Durante as investigações, a Polícia Civil apurou que o servidor fazia questão de falar que ‘ninguém matou mais vagabundos do que ele’. Elementos reunidos nos inquéritos indicam que a motivação para a execução dos crimes seria, na verdade, o domínio territorial para o tráfico de drogas.
Crimes
Um dos homicídios investigados ocorreu em 19 de maio de 2020 e vitimou um casal, que foi atingido por vários disparos de arma de fogo. A mulher, de 19 anos, sobreviveu. Já o namorado, Caíque da Conceição de Souza, 20 anos, morreu 40 dias depois em decorrência dos múltiplos disparos. Ele estava trabalhando como entregador de marmitas.
No dia dos fatos, a patroa de Caíque recebeu um pedido de marmitas para ser entregue à noite. A Polícia Civil apurou que o pedido foi uma armadilha para que a vítima se dirigisse ao local onde os criminosos pretendiam matá-la. Neste dia, a namorada de Caíque foi junto e acabou sendo alvejada. O crime foi executado por, pelo menos, quatro homens.
A investigação apurou que o militar teria ficado revoltado após Caíque ser liberado pela Justiça, três dias antes de sua morte, quando foi detido com porções de drogas e três munições. O rapaz morto teria envolvimento com tráfico doméstico. O servidor, então, teria armado com mais três comparsas (dois deles ainda não identificados) uma emboscada para matar Caíque. No dia do crime, quatro pessoas desceram do veículo e dispararam contra o rapaz e a namorada.
Outra morte investigada pela Delegacia de Brasnorte, cuja autoria chegou ao policial, ocorreu no dia 30 de abril deste ano. A vítima, Edivaldo Ferreira Loures, foi morta por um dos criminosos, já identificado e que está foragido. A vítima foi morta quando o criminoso tentava matar outra pessoa, que supostamente seria ligada a uma facção criminosa.
Os indícios reunidos na investigação atestam que o servidor organizou um grupo de extermínio, sendo responsável direto pela morte de diversas pessoas. Até o momento, a Delegacia de Brasnorte identificou seis homicídios.
Em outro inquérito concluído, a Polícia Civil indiciou os envolvidos por um homicídio ocorrido em julho de 2020. Elson Baragão, de 57 anos, foi encontrado morto na tarde de 9 de julho em uma estrada de região de fazendas, próximo à MT-170. O corpo da vítima tinha marcas de disparos de arma de fogo e estava junto à sua motocicleta. O capacete não estava no local e, posteriormente, a investigação apurou que quem cometeu o crime retirou o acessório do local para não deixar suas digitais na cena do crime.
A vítima, que tinha relação de amizade com o militar, foi morta porque, supostamente, estava retirando madeira de uma área grilada, de interesse e dominada pelo grupo criminoso.
Informações reunidas no inquérito comprovam que o homicídio foi cometido por motivo torpe e com a intenção de assegurar vantagens em outro crime (a disputa de área para retirada ilegal de madeira) e mediante emboscada, tornando impossível a defesa da vítima. “Tal modus operandi e motivação são típicos de crimes praticados pela referida milícia privada”, apontou o delegado de Brasnorte, Eric Márcio Fantin.