Política

Juiz aceita denúncia e Lula vira réu em Operação Zelotes

O cerco ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua. Dois dias depois de ser denunciado pela força-tarefa da Operação Lava Jato por supostamente praticar crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro relacionadas a contratos firmados entre a Petrobras e a Odebrecht, Lula virou réu na Operação Zelotes.

O juiz Vallisney Oliveira, de Brasília, aceitou a denúncia oferecida pelo Ministério Público contra o ex-presidente, seu filho Luís Cláudio Lula da Silva e os empresários Mauro Marcondes e Cristina Mautoni, sócios da consultoria M&M. Os agora réus são acusados de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa em duas operações: a compra para a Aeronáutica dos aviões de caça Gripen, da sueca Saab, e a prorrogação de uma medida provisória que beneficiou montadoras de veículos.

A defesa do ex-presidente classificou a acusação como "frívola" e "parte de uma tática de tentar desconstruir a imagem de Lula e prejudicar sua atuação política". Esta é a quarta vez que o petista vira réu neste ano.

No caso da Lava Jato, a denúncia apresentada na quarta-feira 14 foi a primeira em que o ex-presidente é acusado formalmente por relações com a Odebrecht. No total, é a terceira denúncia contra Lula no âmbito da Lava Jato e a quinta em 2016.

Foram denunciados na mesma ação Marcelo Odebrecht, acusado da prática dos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro; Antonio Palocci e Branislav Kontic, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro; e Paulo Melo, Demerval Gusmão, Glaucos da Costamarques, Roberto Teixeira e Marisa Letícia Lula da Silva, por prática do crime de lavagem de dinheiro.

De acordo com o MPF, a propina, equivalente a percentuais de 2% a 3% de oito contratos celebrados entre a Odebrecht e a Petrobras, foi repassada a políticos e partidos que davam sustentação ao governo do ex-presidente, entre eles o PT, o PP e o PMDB, bem como aos agentes públicos da Petrobras e responsáveis pela distribuição dos recursos.

Parte das propinas também teria sido lavada mediante aquisição de um terreno na zona sul de São Paulo onde seria construída a sede do Instituto Lula. O acerto do pagamento teria sido intermediado pelo então deputado federal Antonio Palocci, com o auxílio de seu assessor parlamentar Branislav Kontic. Segundo o MPF, foram empregados na compra e na manutenção do imóvel 12,4 milhões de reais até setembro de 2012.

A compra do imóvel teria sido realizada em nome da DAG Construtora Ltda com recursos da Odebrecht, em transação que também teria contado com a interposição de Glaucos da Costamarques, parente de José Carlos Bumlai. Além disso, parte das propinas destinadas a Costamarques teriam sido repassadas ao ex-presidente para a aquisição de um imóvel ao lado de sua residência em São Bernardo do Campo, ao custo de 504 mil reais.

Em nota, o Instituto Lula afirma que o apartamento no ABC não é do ex-presidente e que a família do petista paga aluguel pelo uso. Quanto ao terreno em São Paulo, afirma que "não é, nem nunca foi, do Instituto Lula, onde aliás o atual proprietário hoje constrói uma revendedora de automóveis".

O Instituto Lula diz, ainda, que os procuradores da Lava Jato "não se conformam" com o fato de Lula ter sido presidente da República. "Para a Lava Jato, esse é o crime de Lula: ter sido presidente duas vezes. Temem que em 2018 Lula reincida nessa ousadia", conclui.

Delação de Marcelo Odebrecht

Ainda nesta quinta-feira 15, o jornal Valor Econômico publicou reportagem segundo a qual Marcelo Odebrecht, herdeiro e ex-presidente do grupo empresarial, teria confirmado em depoimento prestado à Operação Lava Jato nesta semana a realização de pagamentos, inclusive em espécie, destinados ao ex-presidente Lula.

Segundo a reportagem, o empresário afirmou que os valores supostamente destinados ao ex-presidente tiveram origem no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, departamento apontado como responsável pelo controle de propinas pagas pela Odebrecht a políticos e servidores públicos.
O depoimento de Odebrecht relaciona-se a uma das linhas de investigação conduzida pela Polícia Federal e o MPF contra o ex-presidente. Os investigadores afirmam que documentos do departamento de propinas da Odebrecht indicam pagamentos de 23 milhões de reais a Lula, dos quais 8 milhões teriam sido pagos em 2012, sob suposta solicitação e coordenação de Palocci.

A investigação aponta ainda que o codinome "amigo" relacionado em planilhas de pagamentos da Odebrecht seria uma referência ao ex-presidente.
Em nota, a defesa de Lula afirmou que não comenta "especulação de delação". Segundo os advogados que representam o petista, nenhuma das 23 testemunhas selecionadas pelo Ministério Público Federal que acusa Lula de suposta ocultação de propriedade de um tríplex, no Guarujá, "confirmou qualquer das teses acusatórias".

CARTA CAPITAL

 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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