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Jovens da periferia são os que mais pedem empréstimo

Driele Monteiro, 26 anos, moradora da periferia de Suzano, na região metropolitana de São Paulo, fez empréstimo em fevereiro para poder continuar o curso superior de gestão de recursos humanos, que não pôde concluir por falta de dinheiro.

O valor do crédito de R$ 5 mil ela diz que só vai pagar quando conseguir emprego na área. Driele, que sempre estudou em escola pública no ensino regular, está desempregada há quatro meses. A estudante já pegou empréstimo para pagar despesas pessoais, mas nunca ficou inadimplente.

Já Larissa Alves, 19 anos, moradora da periferia de Pirituba, Zona Norte de São Paulo, pediu empréstimo pela primeira vez em fevereiro para começar o curso superior de jornalismo. O valor do crédito foi de R$ 750, parcelado em 6 vezes. Ela diz que achou melhor dividir, mesmo sabendo dos juros que teria de pagar.

Larissa tem conta aberta no banco e cartão de crédito, mas é uma consumidora consciente – nunca ficou inadimplente e é comedida nos gastos. “Tenho cartão, embora tento evitar o uso justamente para evitar o acúmulo de dívidas”, comenta. Ela tem celular e computador.

A estudante diz que a maior parte de suas despesas é para o curso superior, para ajudar nos gastos da casa da família, além de alimentação e transporte. A renda da família é de 3 salários mínimos.

Ambas fazem parte do grupo que mais solicitou crédito aos bancos este ano, segundo estudo da Serasa Experian Marketing Service. De acordo com a pesquisa, o grupo com o maior percentual de procura por empréstimos é o de Jovens Adultos da Periferia, responsável por 17,6% do total. O grupo é formado em sua maior parte por moradores adultos na faixa de 21 a 35 anos, solteiros e com baixa escolaridade, um dos protagonistas da ascensão da nova classe média.

“Esse grupo entrou mais recentemente no mercado de crédito, ainda não teve oportunidade de se educar financeiramente e tem mais dificuldade para sair de situações de endividamento. Além disso, é o grupo que representa o maior percentual da população brasileira, com 16,8% da fatia”, diz Juliana Azuma, superintendente de Marketing Services da Serasa Experian.

Segundo a Serasa Experian, são trabalhadores da iniciativa privada com cargos pouco expressivos e de baixa remuneração, informais ou desempregados, que são otimistas e têm uma percepção de que a vida mudou para melhor nos últimos anos, principalmente pelo maior acesso a bens de consumo que, na infância, suas famílias não tinham. E que a situação continuará melhorando no país.

De acordo com o estudo Mapa da Inadimplência da Serasa Experian, divulgado em novembro de 2014, e a classificação Mosaic Brasil, que leva em conta 11 grupos dominantes da sociedade, o grupo Jovens Adultos da Periferia é o que representa o maior percentual de inadimplentes no país – 23% do total. O estudo também mostra que 34% das pessoas que compõem esse grupo ficaram inadimplentes em 2014, maior percentual dentro dos grupos. Além disso, os Jovens Adultos da Periferia também foram responsáveis pelo menor percentual de quitação de dívidas do país nos primeiros oito meses de 2014, de acordo com a Serasa Experian. Levantamento feito pela empresa mostra que apenas 37% dos integrantes do grupo que foram negativados conseguiram efetuar todos os pagamentos no período.

Segundo Juliana, cartão de crédito, crediário ou outras formas que permitam parcelar as compras são os meios mais utilizados de crédito e dos quais dependem para ter acesso aos bens de valor um pouco mais elevado. "Oito em cada dez já tiveram algum tipo de dificuldade para honrar seus compromissos financeiros", afirma.

Outros grupos
Já o grupo Adultos Urbanos Estabelecidos aparece em segundo na lista, com 17% do total de consultas de crédito, e têm, em geral, entre os 30 e 60 anos, boa escolaridade e já atingiram um padrão de vida relativamente confortável. "São consumidores mais cautelosos. A renda estável e emprego formal, na maioria das vezes, facilitam o acesso ao crédito, muito utilizado principalmente para potencializar seu poder de compra para bens e serviços de maior valor", diz Juliana.

Em seguida, entre os grupos com maior percentual de consultas de crédito realizadas pelos bancos vem a Massa Trabalhadora Urbana, responsável por 14,6% das consultas feitas. Este é outro segmento no qual predominam os jovens adultos de até 35 anos: são pessoas jovens, solteiras, moradoras de grandes áreas urbanas e iniciando suas carreiras. A lista segue com os Donos de Negócio (10,2%), grupo composto predominantemente por homens, na faixa de entre 25 e 55 anos e com negócio próprio.

Nesse último grupo entra Luciane de Souza Pires, 38 anos, proprietária de uma empresa de marketing e propaganda desde 2012. Ela tem três sócios e terceiriza alguns serviços. A empresária pediu seu único empréstimo quando abriu a agência para gastos com estrutura, materiais e cursos de especialização. O valor foi de R$ 30 mil. O empréstimo foi feito em 24 vezes e ela conta que conseguiu liquidá-lo antes do tempo.

Apesar das incertezas no cenário econômico do país, Luciane se revela otimista. “Acredito que é o grande momento para novos empreendedores surgirem com ideias inovadoras para as soluções dos problemas atuais”, diz.

Juliana diz que, diante do quadro de inflação, juros altos e desemprego em ascensão, não é o melhor momento para o consumidor aumentar seu nível de endividamento. “Os índices de confiança do consumidor já apontam para esta direção mais cautelosa do consumidor”, diz, referindo-se à tendência de que os pedidos de crédito deem uma freada, principalmente com aumento dos juros do cheque especial e do cartão de crédito.

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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