A Polícia Civil diz que o jovem Misael Pereira Olair, de 19 anos, preso suspeito de matar a tiros a estudante Raphaella Novinski, de 16, dentro de um colégio estadual de Alexânia, no Entorno do Distrito Federal, planejou o crime por 1 ano. O motivo, segundo a delegada Rafaela Azzi, foi o fato de ter sido rejeitado pela vítima.
"Eles moravam no mesmo bairro. Ela era conhecida de vista, então, ele a adicionou no Facebook, tentou se aproximar, mas ela recusou. A cada recusa, ele tinha mais raiva, então o amor se tornou ódio e há um ano premeditou matá-la. Foi o tempo para juntar R$ 2,3 mil para comprar revólver e munição", contou a delegada ao G1.
Segundo a investigadora, o rapaz, que já foi ouvido e encaminhado para o presídio da cidade, deve ser autuado pelo crime de feminicídio. "Inicialmente, foi homicídio qualificado, mas depois da oitiva se vê que se trata de uma situação de gênero, por visualizar a mulher com propriedade, ceifou a vida dela, atirou no rosto de uma menina que não quis se relacionar. Vê a desqualificação da mulher", explicou Rafaela.
A delegada conta que o autor afirmou que não se arrepende. "Alexânia foi surpreendida por um crime dentro de uma unidade educacional. Estamos perplexos com a situação, com a frieza dele, com a falta de arrependimento. Ele diz que não está arrependido".
Ainda de acordo com Rafaela, o suspeito afirmou que pretendia se matar após o crime."No final do interrogatório, ele deu uma risada e disse, vou contar, eu ia dar cabo na minha vida com uma mistura de chumbinho que vi como era feito na rede social. Ia tomar o veneno e efetuar um disparo porque não queria sobreviver", contou.
O crime
Raphaella foi morta por volta das 7h50 desta segunda-feira (6), dentro do Colégio Estadual 13 de Maio, onde cursava o 9º ano do ensino fundamental. De acordo com a delegada, Misael entrou na escola, invadiu a primeira sala de aula do corredor, mas não encontrou a vítima. Em seguida, ele entrou na segunda sala, foi direto ao local onde a adolescente estava e disparou vários tiros contra ela, que morreu no local.
"Ele nos disse que foram 11 disparos, todos eles no rosto da menina. Tudo isso reforça o indício de crime passional, ele tinha estudado na escola no ano passado e tinha guardado este sentimento de ódio. Nós já ouvimos o depoimento dele, agora vamos seguir os procedimentos", afirmou a delegada.
A investigadora afirmou que ele afirmou que "sentia ódio" da vítima e que, por isso, resolveu comprar uma arma e matá-la. "Ele alega que é conhecido 'de longa data' da vítima, e que sentia muito ódio da menina. A partir do depoimento dele entendemos que ele tentou namorar com ela, mas foi rejeitado. Por conta disto resolveu comprar uma arma, adentrar na escola onde ela estava e ceifar a vida dela", disse.
Um funcionário da escola, que preferiu não se identificar, contou ao G1 o autor dos disparos pulou o muro e entrou no corredor da sala em que a vítima estudava, onde tinham cerca de 30 alunos. "Ele estava de máscara, colocou a cabeça na sala do 9º ano B, viu que ela não estava e foi para a sala ao lado. Entrou, foi em direção à vítima, que estava sentada no fundo, e atirou", relatou.
Segundo o funcionário, ao ver o jovem sacando a arma, os alunos saíram correndo em desespero. Após atirar contra a vítima, o rapaz fugiu para os fundos da escola e pulou o muro novamente. Ele foi preso a cerca de 300 metros da instituição.
Em nota enviada ao G1, a Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Esporte (Seduce) também destacou que Misael “teria pulado o muro da escola mascarado para efetuar os disparos”. Em seguida, foi preso quando tentava fugir em um Ford Escort. Com ele foi apreendido um revólver calibre 32.
Ainda segundo a nota, “três psicólogas e uma assistente social da Coordenação Regional de Educação, Cultura e Esporte [Crece], de Anápolis, já foram deslocados para Alexânia para apoiar a equipe da escola, alunos e familiares. Uma equipe da Seduce também se deslocou para o colégio”.
A Seduce ressaltou, ainda, que “a escola dispõe de câmeras no pátio e dois vigias noturnos para promover a segurança”. Por fim, a secretaria lamentou o crime “e informa que trabalha em um esforço contínuo para manter a paz e a fraternidade no ambiente escolar”.
Comparsa
Segundo a Polícia Civil, Misael usou uma máscara para invadir o colégio e teve ajuda do comerciante Davi José de Souza, de 49, para cometer o crime. O homem também foi detido e, por volta das 14h, permanecia na Delegacia de Alexânia. A delegada explicou que ele pode responder por favorecimento pessoal ou pelo mesmo crime que o atirador, feminicídio, já que, segundo ela, ele foi o responsável por dar carona ao suspeito até a escola. Davi deve ser ouvido novamente.
Advogado de Davi, Joel Pires de Lima explica que o cliente é amigo da família de Misael e não imaginava que estava levando o jovem para cometer o crime.
"Ele disse que o Misael pediu para o Davi o levar até lá e pediu para esperar. Quando viu um rapaz mascarado e armado correndo, achou que era um assalto, nem pensou que era o Misael. O mascarado entrou no carro e disse: 'sai daqui se não eu atiro, sai da cidade'", relatou o advogado.
Ainda segundo Lima, ele tentou dar voltas e encontrar uma viatura para entregar o passageiro. "Foi um susto, ele não imaginava, mas está tranquilo que tudo será esclarecido", concluiu o advogado.
Ainda segundo a polícia, o jovem e o comerciante não tinham antecedentes criminais. A corporação ainda tenta confirmar a procedência do revólver apreendido com Misael.
Desespero
O tio da estudante disse, em entrevista à TV Anhanguera, que chegou “desesperado” ao colégio logo após o crime, e que viu a sobrinha dando “os últimos suspiros”.
Roberto Pereira da Silva contou que era ele quem criava a adolescente, e que nunca soube de nenhuma ameaça ou algo que pudesse em risco a vida da sobrinha.