Fotos: RDNews/MídiaNews
Policial rodoviário se preparando para assumir seu mandato como novo senador da República por Mato Grosso, em sucessão a Pedro Taques, José Medeiros tem evitado as conversas com jornalistas. É que ele não quer alimentar as polêmicas protagonizadas pelo seu suplente, o empresário Paulo Fiuza, que continua insistindo na tese de que o novo senador, na verdade, deveria ser ele.
Recolhido à sua residência em Rondonópolis, Medeiros também tem se ocupado com a saúde de sua esposa, diagnosticada com um tumor e operada às pressas, neste final de outubro. Ele acabou aceitando responder a algumas questões por e-mail, falando de sua trajetória e dos seus planos de trabalho.
Personagem ainda do baixo clero da política, José Medeiros confia no firme posicionamento dos líderes de seu partido, Percival Muniz e Roberto Freire, para impedir qualquer acidente de percurso até sua diplomação, que deve acontecer em dezembro. O governador eleito Pedro Taques também é uma referência para o novo senador, prestes a iniciar uma caminhada histórica. Confira os principais trechos da entrevista com José Medeiros.
Circuito – Medeiros, você é um personagem ainda desconhecido para muitos mato-grossenses. Como foi que você entrou para a política, e como chegou ao PPS?
José Medeiros – Em 1989, passei no vestibular para Matemática, na UFMT, e na universidade comecei na política estudantil. Posteriormente, em 2000, me filiei ao PPS. Desde então, tem sido o meu partido.
Circuito – Antes da suplência ao Senado, teve alguma experiência como homem público? Você já deixou de trabalhar como policial rodoviário? E suas atividades como matemático?
José Medeiros – Em 2001, participei da administração do Percival Muniz, atuando na Secretaria de Trânsito. Em 2006, me candidatei a deputado federal, em uma candidatura mais para marcar posição. Foi uma grata surpresa pois sem gastar nada e só com um microfone e uma caixa de som, andando pelas ruas de Rondonópolis, obtive quase 10.000 votos. Estou na Polícia Rodoviária há 20 anos, devo pedir afastamento para mandato eletivo quando for tomar posse. Fui professor de Matemática em escolas públicas e particulares de Rondonópolis, parei após entrar para a PRF, onde acabei migrando para ciências humanas ao cursar a faculdade de Direito.
Circuito – Como sua família recebeu esta sua nova condição de senador? Você é filho de Rondonópolis ou migrante, como muitos mato-grossenses?
José Medeiros – Minha família tem recebido tudo isso com surpresa e alegria. São pessoas simples, oriundas do sertão de Caicó, no Rio Grande do Norte. Um tio veio para Mato Grosso no final da década de 60 e acabou trazendo quase toda a família que passava necessidade com a seca no Nordeste. Meus pais vieram em 1973, na época eu tinha apenas 3 anos de idade. Fomos morar na zona rural, onde vivíamos de forma um pouco nômade, trabalhando em fazendas nos municípios de Guiratinga, Poxoréo e Rondonópolis. Em 1980, vim morar com um tio na cidade de Rondonópolis para poder estudar e aqui estou até hoje.
Circuito – Como foi que você acabou se tornando primeiro suplente de Pedro Taques na disputa pelo Senado, em 2010? Você teve Percival Muniz como seu grande padrinho?
José Medeiros – Eu estava registrado para disputar a vaga de deputado federal, mas com a desistência de Zeca Viana, o meu partido, o PPS, me indicou para ser o seu representante na chapa. Claro que o Percival teve participação decisiva na indicação.
Circuito – Desde que o petista Carlos Abicalil, derrotado na disputa pelo Senado, em 2010, questionou no TRE a ata de registro da candidatura de Pedro Taques e de seus suplentes, você foi envolvido em uma das mais confusas disputas judiciais e políticas que já se viu em Mato Grosso. Você contribuiu de alguma forma para esta confusão?
José Medeiros – Minha participação neste angu de caroço é ZERO. Quando entrei na chapa já havia essa confusão. Na época, o segundo suplente queria ir para o lugar do Zeca e havia solicitado a inversão da ordem dos suplentes, porém a Justiça negou. No final de julho de 2010, Pedro Taques ainda não havia “decolado”, aparecia com 3% nas pesquisas e enfrentava adversários fortíssimos, Blairo, Abicalil e Antero. O primeiro suplente, Zeca Viana, analisando o cenário, renunciou e a primeira suplência ficou vaga. O PPS era o único partido do Movimento Mato Grosso Muito Mais que não estava participando das chapas majoritárias. O PSB tinha Mauro como candidato ao governo, o PDT tinha o vice na chapa do Mauro, o Otaviano Piveta e Pedro Taques como candidato ao Senado, o PV tinha o Naildo como o outro candidato ao Senado e tinha, ainda, o segundo suplente na chapa do Taques. Fui chamado para substituir o Zeca, ressaltando que, naquele momento, a crença do meio político na candidatura de Pedro Taques era zero. Afinal, o Zeca estava saindo por isso, nem o segundo suplente, que havia brigado para ser primeiro, nem qualquer outro, se interessou por assumir a posição deixada pelo Zeca. O segundo suplente, caso quisesse, era só renunciar à segunda suplência, que estaria apto a substituir o Zeca, a lei não permite inversão, mas permite a substituição. Acreditei no projeto e fui pra campanha com unhas e dentes, todo o PPS abraçou e fomos para a rua. Corri os municípios da região Sul e, em Rondonópolis, saía falando ao microfone em cima de uma caminhonete. Foi uma campanha difícil mas alegre, pegamos a música que o Eduardo Campos estava usando na campanha para o governo em Pernambuco (a canção do pula-pula) e enxertamos os nomes de Pedro e Mauro. Ficou bem divertido e virou uma febre na cidade, a voz era minha, ajudei a fazer, mas verdade seja dita, a ideia de dar uma pitada de irreverência na campanha foi do Percival. Veio a eleição e o resultado foi de lavar a alma. Mauro Mendes obteve 51% dos votos da cidade e Pedro Taques teve 62.981, praticamente empatando com Blairo Maggi que era de Rondonópolis. Porém, após o pleito, o segundo suplente reviveu a sepultada pendenga e novamente pediu a inversão da ordem dos suplentes. O TRE novamente negou. O Abicalil se aproveitou da brecha e pediu a cassação do mandato do Pedro Taques. Em dezembro passado, o segundo suplente renovou o pedido e, pela terceira vez, pleiteia a inversão da ordem dos suplentes, com ação igual à que foi proposta pelo Abicalil. A Justiça Eleitoral novamente negou o pedido e há poucos dias o juiz André Pozzetti decidiu pela extinção da ação.
"Minha participação neste angu de caroço é ZERO."
Circuito – Como você avalia a postura do senador e hoje governador eleito Pedro Taques, nesta disputa? Ele foi leal com você, em todos os momentos? Esta semana ele disse que não quer se meter nessa briga de suplentes. Em outras oportunidades, contribuiu para essa confusão dizendo, em depoimentos gravados, ora que o primeiro suplente era você, ora que era o Fiuza.
José Medeiros – O Pedro Taques é um companheiro leal.
Circuito – Como você avalia a postura do agora seu suplente, Paulo Fiuza, nesta disputa? Ele foi leal com você em todos os momentos ou abusou da deslealdade? Ou diria que ele age de má-fé, confiando em sua melhor condição financeira?
José Medeiros – A Constituição garante a quem quer que seja buscar a tutela jurisdicional. O Judiciário dará a palavra final. Prefiro olhar para a frente e buscar atuar no Senado de forma a fazer um bom mandato.
Circuito – O PPS, através do prefeito Percival Muniz e demais dirigentes, estaduais e nacionais, tem sido firme na defesa do seu mandato?
José Medeiros – Sim, Roberto Freire recentemente deu uma entrevista muito contundente, em que declarou o seguinte: “O PPS não permitirá que deem um golpe na democracia, trocando resultado das urnas”. O Percival tem falado nesta mesma linha.
Circuito – A decisão do TRE, a que você se referiu, referendando sua candidatura, parece que não foi a última etapa desta batalha. Até quando haverá gente querendo colocar casca de banana no seu caminho?
José Medeiros – A lei permite recursos. Em tese, isto pode durar o meu mandato todo. Procuro não esquentar a cabeça com isso. Meu foco está no mandato que começo a exercer em janeiro.
"É um senhor desafio."
Circuito – Como você encara a responsabilidade de substituir, no Senado, ao senador Pedro Taques, um parlamentar que conseguiu tanto destaque, muito ajudado pela bagagem jurídica que acumulou como procurador da República?
José Medeiros – É um senhor desafio, Pedro é extraordinário, e não é só pela bagagem jurídica. Ele tem um raciocínio muito rápido e é muito trabalhador.
Circuito – Quem é que vai trabalhar com você em seu gabinete e no seu mandato? Você pretende manter a equipe formada por Pedro Taques ou vai mudá-la completamente? Você teve que fazer algum acordo para manter alguém?
José Medeiros – Não vi nada disso, ainda. Estamos passando por um momento muito delicado na família. Minha companheira passou por uma cirurgia para a retirada de um tumor e as atenções estão todas focadas na busca por sua recuperação e nos filhos.
Circuito – Como é que você pretende buscar um espaço e se destacar, na bancada de Mato Grosso, tendo que atuar ao lado de Blairo Maggi e Wellington Fagundes, dois políticos experientes e já bastante testados nos confrontos políticos?
José Medeiros – Minha meta é trabalhar muito. O destaque será consequência.
Circuito – Além de senador por Mato Grosso, você será também o único senador do PPS no Senado e líder do partido na Casa. Está preparado para responder a essas responsabilidades? Já recebeu orientação partidária sobre suas responsabilidades como líder?
José Medeiros – Conversei um pouco com o Roberto Freire sobre o tema, é um desafio, mas me sinto preparado. Conheço bem o processo legislativo e isto facilitará meu trabalho.
Circuito – Em relação à defesa dos interesses de Mato Grosso, o que você pretende propor?
José Medeiros – Não dá para resumir aqui o que pretendo fazer no mandato, mas, de início, quero atuar de forma muito incisiva, cobrando do governo federal, buscando maior suporte na segurança da nossa fronteira. Temos 900 quilômetros de espaço aberto para países produtores de cocaína e maconha. Outro tema muito importante é a educação, temos apenas uma universidade federal e um monte de puxadinhos espalhados pelos polos. Precisamos de maior atenção e investimentos nesta área. Outro tema é que nossa base econômica ainda é totalmente extrativista. Mesmo com o setor produtivo contribuindo muito para o país, o Estado ainda padece de inúmeros gargalos, desde infraestrutura até questões de regulamentação. Precisamos melhorar as coisas da porteira pra fora porque disso depende nossa subsistência.
Circuito – A política e os políticos andam muito desgastados por conta dos muitos escândalos em que muitos deles se envolvem. O que fazer para se manter como um político ficha limpa?
Medeiros – Senador é um servidor público, sou servidor público há 20 anos e minha ficha funcional não tem uma anotação sequer. Vou apenas continuar mantendo a mesma conduta que mantive até agora.
Circuito – Aqui em Mato Grosso, qual sua expectativa com relação à administração do governador eleito Pedro Taques?
Medeiros – O Pedro superou todas as expectativas no Senado e superará como governador. O Pedro tem qualidades importantes para um gestor público: ele sabe dizer não, é de fácil trato, tem muita paciência e experiência em lidar com pessoas.