Opinião

José Bonifácio de Andrada e Silva: o poeta embaixo da capa

Lidiane Álvares Mendes

 

José Bonifácio de Andrada e Silva, conhecido por ter sido um célebre estadista, naturalista, culto, um homem cheio de predicados. Filho da aristocracia portuguesa, José nasceu em Santos no ano de 1763. Privilégio de seu nascimento em berço de ouro no qual o fez atravessar o Atlântico para estudar Direito na Universidade de Coimbra, e em paralelo estudou filosofia e história natural, matemática e química.

Na Europa, ocupou cargos públicos, publicou pesquisas científicas sobre temas ligados a mineralogia, pesca de baleias, catalogou quatro novas espécies de minerais. Permaneceu no Velho Mundo por trinta e sete anos, voltando ao Brasil em 1819, sua curta estada no país o transformou em um crítico das posições tomadas pelo então amigo Dom Pedro I. Compartilhou ideias de um futuro próspero para o Brasil com a princesa Leopoldina, levando o título de Patriarca da Independência.

Muito embora suas considerações sobre os rumos que o país deveria tomar pós-independência eram um tanto quanto conflituosas diante dos interesses da elite brasileira naquele período, devemos considerar que eram de fato propostas à frente de sua época. Tais conflitos vão levá-lo para o exílio na França. É justamente nesta estada em solo francês que José Bonifácio publicou, com o pseudônimo de Américo Elysio, o livro Poesias Avulsas no ano de 1825.

Esse livro foi organizado pelo próprio José Bonifácio quando Elysio faz alusão às musas transportadas para a América, o poeta Bonifácio não obedeceu uma ordem cronológica, tão pouco preocupou-se em ordená-los. Fato é que seus poemas transitam em três fases diferentes, na primeira, destaca-se os ares juvenis, na segunda fase sua escrita permeia o período em que se dedicou aos estudos científicos, os poemas desta fase são menos fecundos, e sua última fase a do exílio no qual ele reúne seus poemas e publica na obra aqui citada, traz as angústias de um sessentão longe de sua terra natal. E é deste ponto, sobre a Terra Brasilis que ele transmite em um de seus poemas o descaço e a amargura sofridas por ele. Percebemos seus agouros emocionais no poema Odes aos Baianos que não foi publicado na primeira versão do livro Poemas Avulsos, imprimi certo tom de desprezo pelo Brasil, como podemos ler na última estrofe:

Morrerei no desterro em terra estranha,

Que no Brasil só vis escravos medram
Para mim o Brasil não é mais pátria,
Pois faltou a justiça.

 

Claramente ele expõe a tristeza que imperou em seu exílio e a maneira na qual ele fora expurgado do cenário político do Brasil. Mal sabia Bonifácio que o destino o traria de volta ao país por pedido do próprio D. Pedro I, para ser o tutor do menor Pedro, que seria o II. O livro Poemas Avulsos traz ainda um repertório que perpassa as injustiças que ele sofrera, ladrilha pelo romantismo, o saudosismo e o classicismo com frases estéticas bem atípicas para o período. Américo Elysio emprestou a José Bonifácio linhas, tintas e rimas, escreveu sobre o patriotismo, a injustiça e o amor e marcou a história literária luso-brasileira. O estadista sobre o pseudônimo retira a capa e exprime em seus poemas seus sentimentos mais profundos, consagrando-o um homem a frente de seu tempo.

 

Lidiane Álvares Mendes, mestra em História/UFAM, professora e pesquisadora.

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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