Como comparação, o Brasil teve seis mortes em obras para a Copa do Mundo deste ano – três em Manaus, duas em São Paulo e uma em Brasília.
Os 182 trabalhadores mortos no ano passado no Qatar eram do Nepal, pequeno país ao Sul da China e principal fornecedor de mão de obra barata para os empreendimentos qatarianos. As causas das mortes são diversas, como ataques cardíacos, suicídios, quedas e acidentes de trânsito.
Segundo relatos, os trabalhadores enfrentam condições precárias de trabalho e subsistência, com jornadas que superam 12 horas diárias e moradia em alojamentos superlotados. Além disso, há uma condição próxima à escravidão. Os passaportes são confiscados e os salários, retidos pelos chefes durante meses para evitar que os funcionários abandonem os cargos.
A pressão sobre a Fifa e os órgãos responsáveis pelas obras para mudanças no tratamento aos trabalhadores deve aumentar com os dados divulgados pelo The Guardian, números esses que ainda podem aumentar.
Em setembro de 2013, o mesmo jornal inglês divulgou uma matéria revelando a morte de 44 operários entre 4 de junho e 8 de agosto. Na época, o presidente da Fifa, Joseph Blatter afirmou que não fecharia os olhos para a situação.
O Ministério do Trabalho do Qatar contratou uma consultoria para analisar os casos, estudo que deverá ser divulgado nas próximas semanas.
A coordenação do comitê "Pravasi Nepal", que cuida dos trabalhadores que deixam o país, cruza os dados obtidos pelo The Guardian com passaportes e certidões de óbitos, e o número pode subir para 193. O órgão ainda pede que patrocinadores revejam sua relação com a Copa de 2022.
"A Fifa e o governo do Qatar prometeram ao mundo que eles tomariam uma atitude para garantir a segurança dos trabalhadores nos estádios e na infraestrutura para o Mundial. Este número horroroso de mortes desmente essa garantia", disse o "Pravasi Nepal".
"Estes eram jovens homens, com um futuro todo para viver. Muitos trabalharam até a morte. Outros tiveram fim ainda mais sinistro. Ele foram traídos pela Fifa", completou.
Um relatório da Confederação Sindical Internacional mostrou que o número de mortes até a bola começar a rolar em 2022 no Qatar pode chegar a 4 mil.
"O presidente da Fifa disse em outubro que havia 'muito tempo' para atingir o objetivo (dar melhores condições). Pelos trabalhadores que morrem todas as semanas nas obras da Copa do senhor Blatter, não há mais tempo", completou o comitê.
Sub-secretário do Ministério do Trabalho do Qatar, Hussain al- Mulla afirmou que pelo menos 99% das empresas cumprem a lei. E o Comitê Organizador Local Qatar 2022 disse estar comprometido com o bem estar, a saúde, segurança e dignidade de todo trabalhador.
Em comunicado enviado ao The Guardian, a Fifa diz estar trabalhando para uma solução urgente e afirma que continua engajada a dialogar com o Qatar e várias organizações de direitos humanos e trabalhistas para garantir as mudanças necessárias.
UOL