É a segunda vez que Joel Rufino dos Santos (1941-2015) chega ao Circuito Mato Grosso. O número 554 do jornal semanário (17 a 23.09.2015) notificou sobre “Joel Rufino: o curumim que virou gigante” (disponível em https://circuitomt.com.br/joel-rufino-o-curumim-que-virou-gigante/), um de seus livros infantis sobre povos indígenas que, junto aos “Ipupiara: o devorador de índios” (1985) e “Cururu virou pajé” (1987), integra a coleção de infantojuvenis iniciada em 1982. O historiador, professor e escritor carioca da gema, é referência nacional quando se trata de cultura afro-brasileira, com mais de 50 livros (historiográficos, ensaios, biografias, romances, infantojuvenis e didáticos.
Joel Rufino dos Santos teve seus trabalhos censurados pela ditadura civil-militar (1964-1985). Após ser exilado na Bolívia e no Chile, retornou ao Brasil, mas foi levado ao casarão-presídio do Hipódromo, em São Paulo, como preso político por suas atividades na Ação Libertadora Nacional, organização clandestina que pregava a luta armada em oposição ao governo ditatorial. Nesse tempo, 1972-1974, escreveu diversas cartas ao seu filho Nelson, ainda uma criança, publicadas no livro “Quando eu voltei, tive uma surpresa” (2000), apresentada por sua esposa Teresa Garbayo dos Santos.
Foi na década de 1980, cursando História na UFRJ, que conheci Joel Rufino dos Santos pela leitura e análise da coleção “História Nova do Brasil” (1964), uma produção conjunta do Ministério da Educação e Cultura e do Instituto Superior de Estudos Brasileiros. Organizada pelo historiador Nelson Werneck Sodré, sua circulação teve seus dias contados pelo governo militar. A coleção, com previsão de 10 volumes, foi organizada por Nelson Werneck Sodré e contou com as participações de Maurício Martins de Mello, Pedro de Alcântara Figueira, Pedro Celso Uchoa Cavalcanti Neto, Rubem César Fernandes e Joel de Rufino dos Santos. Sem dúvida, um time de peso historiográfico que conseguiu publicar cinco volumes até 1964. A corajosa proposta preocupou-se em apresentar novas discussões ao ensino de História, à época com análise extremamente tradicional.
Outro encontro com Joel Rufino dos Santos ocorreu com a leitura de “Claros sussurros de celestes ventos” (2012). Um romance histórico que narra fatos do Modernismo, da crise de 1929 e da revolução de 1932. O autor promove um encontro entre Lima Barreto (1881-1922), à beira da morte, com a memória de Cruz e Sousa (1861-1898) em meio a narrativas históricas e fantásticas. Também acontece o encontro de Olga, personagem de “O triste fim de Policarpo Quaresma”, e Núbia, personagem de “Broquéis”, que vivem em outros tempos, outros lugares. O que o historiador quer é estimular o leitor para a ingressar nos percursos das narrativas ficcional e clássica da literatura brasileira.
Ainda que mais esporádicos, da década de 1980 para cá, outros encontros literários com Joel Rufino dos Santos, especialmente os romances. Recentemente, no “O amor e o nada” (2023) nos reencontramos no cenário do romance, na então denominada Faculdade Nacional de Filosofia, onde o historiador estudou, e que mais tarde passou a se chamar Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde estudei.