Foto: TJMT
Airton Marques – Da Redação / Ulisses Lalio – Da Reportagem
Após dois dias de julgamento, o ex-comendador de Mato Grosso, João Arcanjo Ribeiro, foi condenado a cumprir 44 anos e dois meses de reclusão, por ter mandado matar os empresários Rivelino Jacques Brunini, Fauzer Rachid Jaudy e pela tentativa de assassinato do pintor Gisleno Fernandes, na Avenida Historiador Rubens de Mendonça, em 2002. Com mais essa pena 'nas costas', Arcanjo já soma uma pena em regime fechado de quase 90 anos.
O promotor de justiça, Vinícius Gahyva, elogiou a decisão dos jurados, mas comentou que a pena dada ainda foi branda devido a gravidade dos crimes. “A justiça foi feita. Os jurados entenderam a mensagem da sociedade por quase unanimidade condenaram o réu. O somatório da pena dada se apresentou aquém da nossa expectativa, mas vamos analisar para ver se entraremos com um recurso”, disse.
Ainda segundo Gayvia não foi dessa vez que o ‘arcanjo’ foi promovido a anjo. “E esta foi um reconhecimento da hipocrisia, que lhe outorgou título de comendador hoje foi reparado pela justiça para o bem do povo brasileiro”, concluiu.
Enquanto isso o advogado de defesa, Paulo Fabrinny, considerou uma injustiça a decisão judicial e já recorreu da sentença. “Infelizmente foi julgado o mito ‘o comendador’, no lugar do homem Arcanjo Ribeiro. Não foi levada em consideração a falta de provas e por conta disso, nós recorremos da sentença para colocá-lo em liberdade o mais rápido possível”, explicou.
Ainda segundo o advogado seu cliente poderá entrar com um pedido de progressão de pena em seis ou sete meses. “Ele estava confiante pensou que a decisão seria favorável, mas recebeu com tranquilidade a condenação da juíza. Ele estava ali aguardando o resultado supremo da justiça”, concluiu.
Julgamento
Por quase unanimidade os jurados votaram pela condenação de João Arcanjo Ribeiro. Segundo a promotoria dois quesitos o juri votou contra o 'ex-comendador' por 4 a 0, dois 4 a 1 e apenas um dos quesitos 4 a 3 – este último dizia em respeito ao depoimento mudado no interim das investigações.
Rivelino Jacques Brunini era sócio da empresa Mundial Games, concessionária de máquinas caça-níqueis um dos braços da organização criminosa chefiada por Arcanjo, que explorava com exclusividade o ramo de jogos eletrônicos em Mato Grosso. Mesmo assim, segundo o MPE, Brunini associou-se a um grupo do Rio de Janeiro, que pretendia acabar com o monopólio no Estado. Essa seria a motivação do crime.
Para controlar as ações do subordinado, Arcanjo determinou que José Jesus de Freitas (que era sargento da Polícia Militar) assumisse a sociedade da empresa de Brunini. Na sociedade, entretanto, ambos passaram a se desentender, bem como a contrariar os interesses de Arcanjo, uma vez que Freitas também passou a agir em conformidade com o grupo de caça-níqueis do Rio de Janeiro. Freitas foi morto em uma emboscada em abril de 2002 ao chegar em sua casa no bairro Santa Rosa, em Cuiabá.
De acordo com o processo (Código 139220), o crime ocorreu na tarde do dia 6 de junho de 2002 em Cuiabá e tinha como alvo o empresário Rivelino Jacques Brunini. Ele estava em uma oficina mecânica na Avenida Historiador Rubens de Mendonça (Av. do CPA) por volta das 15h acompanhado de Gisleno Fernandes e Fauze Rachid Jaudy quando foi surpreendido por Hércules de Araújo Agostinho, acusado de prestar serviços de pistolagem para Arcanjo.
Em uma motocicleta, Agostinho se aproximou e disparou contra Brunini e contra os dois que o acompanhavam. Brunini morreu na hora, atingido por sete disparos. Atingido uma vez, Fauze também morreu em decorrência do ferimento. O pintor Gisleno Fernandes teve sorte e sobreviveu.
Para fugir, Hércules – que já confessou o crime à Justiça – contou com cobertura de Célio Alves de Souza, Júlio Bachs Mayada e Frederico Carlos Lepesteur.
Condenações
Arcanjo foi preso em 2003 em Montevidéu, no Uruguai, depois que foi deflagrada em Mato Grosso a operação Arca de Noé, para desarticular o crime organizado no estado. Ele foi extraditado para o Brasil por determinação do juiz Julier Sebastião da Silva, em 2006, e atualmente está preso na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia.
O ex-comendador cumpre, atualmente, pena por sonegação fiscal, formação de quadrilha, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro, cujos processos são decorrentes da Justiça Federal. Ele foi sentenciado a 19 anos e quatro meses de reclusão pelos crimes.
Em 2013 Arcanjo foi condenado a 19 anos de prisão por outro crime, o de atuado como mandante da execução do empresário Sávio Brandão, dono do jornal "Folha do Estado", também em 2002.
Ultima atualização às 17h00min.
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