O coordenador do Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado), promotor de Justiça Marcos Bulhões, afirmou que o sistema de interceptação telefônica de posse do órgão – conhecido como "Guardião" – não foi utilizado para grampear números da deputada Janaina Riva (PMDB).
A afirmação foi feita por meio de ofício assinado nesta quarta-feira (17), tendo como base laudo apresentado pela Gerência de Tecnologia da Informação do Gaeco.
Dos quatro números analisados a pedido da parlamentar nenhum deles, conforme o laudo, teria sido monitorado pelo órgão. "Certifico para os devidos fins que, cumprindo determinação do dr. Marcos Bulhões dos Santos, na data de 17/05/17, foi realizada verificação junto ao sistema guardião dos seguintes terminais [telefones de Janaina]. Sendo que não foi localizado nenhum dos terminais em nosso sistema", diz laudo.
O pedido de averiguação realizado pela própria deputada foi motivado pela denúncia de que a mesma havia sido vitima de interceptações telefônicas ilegais, realizadas por policiais militares e com o aval de membros do Governo Pedro Taques (PSDB). Além dela, médicos, advogados, jornalistas e outros também teriam sido vítimas do mesmo esquema.
A denúncia foi encaminhada à Procuradoria-Geral da República (PGR), pelo promotor de Justiça Mauro Zaque.
O número de telefone da deputada foi incluído em uma suposta investigação para apurar a participação de Policiais Militares no tráfico de drogas, mesmo sem qualquer indício de participação nos crimes apurados. Os grampos ilegais seguem desde 2014. O suposto esquema é denominado "barriga de aluguel".
Sem surpresas
Janaina disse ao Circuito Mato Grosso não ter se surpreendido com o resultado do laudo apresentado pelo Gaeco e disse ter certeza de que foi grampeada clandestinamente. “Já imaginava que essa consulta resultaria em uma negativa de que não são grampos do Gaeco. Então, é claro que são grampos clandestinos realizados por outros equipamentos que não são os do Gaeco”, pontuou Janaina.
A parlamentar afirma possuir indícios da origem das interceptações ilegais de suas ligações. Ela apontou que o responsável pelos grampos seria o coronel da Polícia Militar Evandro Alexandre Lesco, atualmente chefe da Casa Militar de Mato Grosso, que teria supostamente comprado um aparelho paralelo ao guardião, na qual uma nota fiscal de compra no nome do policial foi divulgada.
“Não tenho dúvidas de que as gravações partiram do equipamento que está em posse do coronel Lesco e que por coincidência todos os policiais que assinaram para que houvesse investigação no meu aparelho telefônico, dizendo ser de tráfico, estão na Casa Militar, ocupando cargos de confiança do Governo. O quebra-cabeça começa a se encaixar”, afirmou a deputada.
Guardião
Em Mato Grosso, apenas três órgãos trabalham com o monitoramento de guardião, que apela operadora telefônica intermedia a interceptação por meio de uma determinação judicial, solicitados pelo Ministério Público Estadual, Polícia Federal e Polícia Civil.
Outro lado
O Circuito Mato Grosso entrou em contato com a assessoria de imprensa da Casa Militar, mas até a edição da matéria não obteve retorno.
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