Opinião

Jacutinga: o encontro no cerrado

A semana abriu com 22 de abril, Dia da Terra. Jane Goodall, que estudou a vida social dos chimpanzés na Tanzânia por mais de 40 anos, disse: “Uma vez, eu estava no Parque Nacional de Gombe e começou a chover. Quando a chuva parou pude sentir o cheiro do pelo molhado dos chimpanzés e ouvir a sinfonia dos insetos, me senti em união plena, uma sensação de admiração e reverência. Na floresta você entende que tudo está interconectado e até a menor espécie, por mais insignificante que pareça, tem um papel importante na trama da vida”.

Posso entender o sentimento de “união plena” experimentado pela primatóloga, etóloga e antropóloga britânica, ainda que não tenha vivido na ambientação da floresta e nem mesmo entre chimpanzés. Vivenciei sensações da “união plena” homem-animal-natureza quando passei a morar no cerrado do Planalto Central, onde conheci árvores com troncos retorcidos. Àquela época, sem o conforto da água encanada e da luz elétrica, meu sistema sensorial ganhou, pouco a pouco, outras dimensões, a me mostrar outras maneiras de sentir o mundo.

Me lembro que saí de Brasília rumo a Cuiabá, depois de me despedir de minha mãe, que me levou até à rodoviária. Grande parte do percurso estive a chorar. Acho que de medo. Eu não sabia ao certo para onde estava indo, em que aldeia viria a morar, como os indígenas me receberiam. De Cuiabá a Vilhena, Rondônia, sede da Funai onde deveria me apresentar, são 712 quilômetros. Em Cuiabá, com dó de mim, ganhei uma passagem de Taba (Transporte Aéreo da Bacia Amazônica) do Delegado da Funai, depois de me dizer que não aguentaria a viagem de ônibus pela BR-364, sem asfalto e na época da chuva. E lá fui eu para a cidade que não tinha no meu Atlas escolar…

Cheguei em Vilhena em algum dia de outubro de 1982. Na Funai, como professora, fui designada para a escola do Posto Indígena Aroeira, na Terra Indígena Pyreneus de Souza, uma aldeia a 20 quilômetros da cidade que tinha o apelido de “Princesinha da Amazônia”.

Não fiquei em Aroeira. Conheci Jacutinga e o curso de minha vida tomou outro rumo…

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Opinião

Dos Pampas ao Chaco

E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz amúsica da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.
Opinião

Um caminho para o sucesso

Os ambientes de trabalho estão cheios de “puxa-sacos”, que acreditam que quem nos promove na carreira é o dono do