Opinião

Jacutinga e o tempo rei, tempo rei

A persistência da Memória, Salvador Dali (1931)

Na aldeia, em um tempo não cronológico, Jacutinga lembrou dos amigos e namoradas que deixou na Serra da Mantiqueira: Heli, Dimas, Toninho, Jimi, Paulinho, Ivan, Homel, Mário, Cogu, Angélica, Fafá, Lúcia. Na Serra do Mar ficaram Gustavo, Joca, Fernandinho, Cézar, Caveirinha, Tadeu, Tarso, Agenor, Chicão, Cris, Gigi, Marta, Marisa, Marcinha, Lulu. Estava em um outro lugar, estava no “País Nambiquara”, como escreveu a indigenista Mara Vanessa Dutra.

O tempo é o “compositor de destinos; tambor de todos os ritmos”. Jacutinga entrou em acordo com o tempo que, como “um dos deuses mais lindos”, trouxe novos amigos. Foi nas expedições de caça, pesca e coleta que um círculo de amigos se desenhou no cerrado.

Bacaninha é de uma generosidade jamais vista. Nunca deixou de visitar o complexo de cemitérios da aldeia Bacaiuval, localizada no outro lado do rio Juína, perdida na demarcação, em 1973. O pajé Lourenço era o que mais demonstrava seu papel social, quase que de forma cênica, a intermediar relações entre os mundos visível e invisível. Sua capacidade de circular entre os grupos da etnia Nambiquara poderia ser um modelo para qualquer diplomata.

Orivaldo, também um pajé, porém mais novo que Lourenço, era possuidor de um estado de espírito que oscilava entre a amabilidade e a impolidez. Todos sentem falta de sua consciência desenvolvida em relação ao mundo que cerca sua comunidade. O pajé Rondon, olhar de criança, pai de criação de Orivaldo, andava com seu macaquinho de estimação agarrado aos cabelos embranquecidos. Em seu dia a dia, tinha-se a impressão de que só o mundo espiritual existia. Rufino, do grupo Manduca, “dono do veneno”, de fala reservada, carregou como ninguém o conhecimento de vegetais destinados à fitoterapia e toxicologia.

Estevão, pajé da aldeia Branca que esteve por diversas vezes na mira de onças à espreita de refeição: sua matilha. Ainda que trabalhe como nenhum outro pajé, seu dia é envolto em encantamentos.

E, no “Tempo Rei! Oh Tempo Rei! Oh Tempo Rei!”, Jacutinga ia transformando suas “velhas formas do viver”.

 

 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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