Existe um pedaço muito especial do Xingu entre o povo Nambiquara. Jacutinga testemunhou essa inserção nos idos de 1979. Entre as pessoas do “povo das cinzas” viveu Kalu Kalapalo. Em fuga, receosa de sofrer represália por seu marido ter sido morto por feitiçaria, chegou com seu filho Loike ao território Bakairi, onde permaneceram por 5 anos. Daí foram para a aldeia Aroeira, Terra Indígena Pireneus de Souza, sua entrada para o mundo Nambiquara, quando se casou com um índio mais velho.
Na aldeia, seu filho adoeceu. O pajé Lourenço, um Nambiquara do Cerrado, foi chamado para realizar um ritual para curar a criança. Junto a Raimundo, deu início à pajelança quando descobriu tratar-se de envenenamento. Lourenço e Raimundo decidiram levá-los para sua aldeia. Desse quase fatal acidente, Raimundo e Kalu chegam casados à aldeia Sapezal.
Na aldeia, Kalu servia Jacutinga com seus saborosos beijus com peixes assados. Possuía uma habilidade com plantas mágicas. Na cidade, suas garrafadas para engravidar mulheres desenganadas pela medicina ocidental eram cobiçadíssimas, ainda mais se associadas à escolha do sexo. Jacutinga presenciou os esforços de Raimundo na adaptação aos costumes da Kalapalo que só comia peixes, aves e tartarugas; ao invés de dormir no chão, Kalu exibia com orgulho sua rede de seda de buriti; seu beiju de mandioca era feito em artefato de barro, ao contrário de assado nas cinzas da fogueira, à moda Nambiquara.
Raimundo, namorador inveterado, apimentava a relação com brigas em virtude de seus namoricos. Kalu, bem mais velha do que ele, dava-lhe surras com uma enorme lanterna, presenteada por Jacutinga, que acabava entrando na história.
Depois de alguns anos, Kalu levou sua irmã Waiune, que também se casou com um Nambiquara, Vicente Preto. Vanité, seu filho, se afeiçoou tanto a Vicente que escreveu em sua mala “Vanité, filho de Vicente”.
Kalu, sempre ao encontrar Jacutinga, colocava em seu dedo um anel de coco tucum a celebrar o encontro. Fica a sua imagem a sorrir, vestida de colar de miçangas e tecidos coloridos.