Opinião

Jacutinga e a sustentabilidade indígena

No início dos anos 80, a BR 364, rodovia que rasgou o território imemorial Nambiquara, chamada pelos índios de “reta”, foi tomada por filas infindáveis de paus de arara. Famílias vindas de todos os lugares, alojadas precariamente em carrocerias de caminhões, cheias de sonhos e coragem, a avançar pelas matas de Rondônia. Nessa época, a Funai criou um escritório em Vilhena, o “Portal da Amazônia”, e nomeou o sertanista Aimoré Cunha da Silva, vindo do Parque Indígena do Aripuanã, para implantar um programa de apoio ao povo Nambiquara e demais povos indígenas que sofreriam com o avanço da colonização, custeado pelo Polonoroeste.

Com Aimoré, vieram Celina, sua esposa, o indigenismo de Rondônia, vivida por Apoena Meireles, chefe da Delegacia Regional da Funai em Porto Velho, os sertanistas Benamur, Zebel e outros servidores com profundo compromisso com os povos indígenas: Assis Costa, Ruiz, Augustinho, Osmã, Nailton, Amauri e Jair Condor que se tornaram amigos de Jacutinga.

Coronel Cunha, delegado da Funai em Cuiabá, incumbiu Jacutinga de ajudar Aimoré nas tarefas de construção da Ajudância da Funai em Vilhena. Assim, passou a dividir seu tempo entre a aldeia e a cidade que, na época, se resumia em ruas de terra, poucas casas de madeira e muitas serrarias que devoravam florestas.

O crescente fluxo de gentes e o barulho dos caminhões que transitavam na rodovia espantavam os animais para longe, dificultando a atividade da caça. Jacutinga e os índios da etnia Nambiquara eram forçados a caminhar cada vez mais distante da aldeia para obter sucesso. Em uma de suas caçadas, Daniel Wakalitesu incumbiu Jacutinga de dividir o animal abatido, tarefa difícil, pois é necessário conhecer bem as famílias da aldeia e suas necessidades para atender a todos satisfatoriamente, de acordo com o modelo de sustentabilidade indígena. Quanto menor a caça, mais habilidade exige na hora da partilha da carne. Em geral, quem se encarrega dessa tarefa só não volta para casa de mãos vazias porque sempre há um companheiro disposto a dividir a parte que lhe coube.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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