Opinião

Jacutinga e a “Saga Da Amazônia”

Jacutinga, ao viver na aldeia Nambiquara, furou as orelhas, à época incomum aos homens não índios. De brincos e colares de tucum, jarreteiras e pintura de urucum, em 1981 foi para a aldeia Enawenê-Nawê (Salumã), inimigo tradicional do Nambiquara. Membro do Grupo de Trabalho, junto a Vicente Cañas e Artur Nobres Mendes, foi incumbido de estudar a definição da área Salumã. Cañas, chamado por Kiwxi, “doar-se todo”, foi um jesuíta que em 1974 estabeleceu com Tomás Lisboa os primeiros contatos com o Enawenê-Nawê, em Mato Grosso, com a participação Nambiquara. Foi assassinado em 1987 por seu compromisso com o Enawenê-Nawê; Artur Nobres Mendes, Noraldino Vieira Cruvinel, ambos antropólogos, e Reinaldo Florindo, engenheiro, todos da Funai, formaram os pilares das demarcações das terras indígenas.

Após navegar o Juruena, a caminhar por uma trilha rumo à aldeia, Jacutinga foi interpelado por um índio Enawenê-Nawê que tremendo esticou seu arco em sua direção. O índio, ao reconhecer a identidade de seus adereços, gritou “karene”, “karene”, “karere”, como se refere ao povo Nambiquara. Jacutinga, que por instinto se pôs de lado a defender seu peito da flecha, foi salvo pelos colegas ao ouvirem os gritos. Na aldeia, do estado de temor Jacutinga viu-se em um ambiente fraterno. De casa em casa, conheceu os moradores que não tiraram os olhos do colar de contas pretas de tucum, as pérolas do cerrado. Jacutinga também encantou os anfitriões com seu assobio. Tal qual faziam os índios, mas de outra forma, a ave exibiu seu canto, ímpar pelo movimento das mãos e dedos.

Jacutinga suspeitou que a Reserva Indígena Nambiquara na Chapada dos Parecis poderia ser reduzida, pois naquele momento estava em curso a demarcação de terras para os grupos da etnia Nambiquara no Vale do Guaporé. Anos depois suas suspeitas foram confirmadas. Com a invasão agropecuária, o Grupo de Trabalho preocupou-se em proteger a Bacia do Rio Juruena, em função do Yãkwa, ritual Enawenê-Nawê.

E “era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta… e os rios puxando as águas”.

 

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Opinião

Dos Pampas ao Chaco

E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz amúsica da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.
Opinião

Um caminho para o sucesso

Os ambientes de trabalho estão cheios de “puxa-sacos”, que acreditam que quem nos promove na carreira é o dono do