A princípio, a saga de Jacutinga – o ‘carioca da gema’ que deixou sua cidade natal rumo ao Planalto Central – seria aqui contada mensalmente. Mas, diante dos apelos dos leitores, passará a ser quinzenal. Dados biográficos do pássaro, reais ou fictícios, ao bel-prazer da imaginação de quem conta e de quem ouve, se imbricarão à etnografia indígena. Também serão acrescidos de comentários que Terra Brasilis vem recebendo, num ato de intertextualidade, de releituras do passado.
Jacutinga inscreveu-se no concurso da Funai, a pleitear uma vaga de indigenista. Dividiu seu tempo entre os amigos da Esteves Júnior e os estudos.Leu ‘Os índios e a civilização’, de Darcy Ribeiro, ‘O messianismo Krahó’, de Julio Melatti, ‘O índio e o mundo dos brancos’, de Roberto Cardoso de Oliveira, e outro para auxiliá-lo no teste psicológico, todos adquiridos em sebos. Com essa bagagem entrou no Colégio Santo Inácio e encarou a prova.
Em 1979, o concurso para indigenista, de abrangência nacional, abriu 60 vagas, em proporções iguais para indígenas, não indígenas e funcionários da Funai que já atuavam em campo. Único cargo da instituição ocupado por servidor público aprovado em concurso. Professores, antropólogos, médicos, enfermeiros, odontólogos, advogados ingressavam na instituição sem prestar exame.
Nosso pássaro estava entre os três aprovados do Rio: um advogado e von Held, este até hoje na Funai. Von Held povoa o imaginário de muitos colegas. Verdade ou mentira, em Rondônia, integrou um ritual de exoantropofagia da etnia Wari, quando ingerem um caldo de banana e cinzas dos ossos macerados de um índio, ao som do tambor de cerâmica. Há poucos meses, Jacutinga esteve com von Held em Brasília, um encontro decisivo para o povo Chiquitano.
Jacutinga bateu asas para a meca do Planalto Central, depois de aprovado nas três fases do concurso: Língua Portuguesa, Conhecimentos Gerais, Antropologia, Psicológico e na entrevista de Ana Lange, antropóloga agraciada com o prêmio Chico Mendes, em 2008.
E lá voou nosso pássaro, feliz da vida, a dedicar-se ao Curso de Indigenismo.
