SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com o avanço da vacinação no estado de São Paulo, o paulista tem se sentido mais à vontade para retomar atividades que antes estavam proibidas. O resultado da flexibilização é que a adesão ao isolamento social é igual à de antes da quarentena começar.
Na sexta-feira (6), o índice atingiu 38%, o mesmo de 17 de março do ano passado.
Na cidade de São Paulo, o número foi ainda mais baixo. Chegou a 36% na sexta, enquanto no dia 17 de março do ano passado também era de 38%.
A quarentena foi anunciada pelo governo estadual no dia 21 de março do ano passado e passou a valer no dia 24 seguinte, a princípio durante 15 dias. A medida impôs o fechamento do comércio, exceto serviços essenciais de alimentação, abastecimento, saúde, bancos, limpeza e segurança.
Desde então foi criado um mecanismo para acompanhar a adesão das pessoas ao isolamento social. O controle é feito pelo Sistema de Monitoramento Inteligente de São Paulo por meio de um acordo com as operadoras de telefonia, que fornecem informações agregadas e anônimas sobre deslocamento nos municípios paulistas para o estado.
Com cerca de 84% de vacinas aplicadas no estado de São Paulo, as flexibilizações têm sido maiores. Porém, pouco mais de 25% da população paulista possui esquema vacinal completo. Além do retorno as aulas, outras medidas geraram mais flexibilidade e possibilitam mais a circulação da população.
Atualmente, o estado está na fase de transição do Plano São Paulo para o controle da Covid-19. Com isso, os horários foram ampliados das 6h à meia-noite para todos os comércios, sendo que os locais podem funcionar com até 80% de sua capacidade.
A partir do dia 17, um dia após o planejado para o término da imunização da população adulta no estado, não vai mais haver limitação de horário e pessoas.
Apenas shows com público em pé, torcidas e pistas de danças ainda seguirão proibidos até 1º de novembro. Segundo o governo, nesta data, todos os eventos deverão ser liberados no estado já que a expectativa é que 90% dos adultos tenham sido completamente vacinados.
Para o epidemiologista Eliseu Alves Waldman, professor Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), é preciso tomar cuidado com circulação do vírus, que, segundo ele, continua alta, apesar da queda de números de casos e mortes.
"De um lado precisa abrir a economia, pois você tem indicadores melhorando como o [número de] óbitos e as internações. Mas há um indicador muito importante que é a circulação do vírus, que está elevada", afirma. "É preciso abrir progressivamente, fortalecendo a vigilância e analisar quase que diariamente a mudança da situação", diz.
"Nos países onde tem um maior descontrole, onde há uma circulação mais intensa, aumenta a possibilidade de você ter uma variação mais efetiva do vírus. Maior capacidade de transmissão e maior capacidade de determinar formas graves", afirma o epidemiologista.
Alerta O aumento do fluxo nas ruas causa preocupações. Sem a imunidade de rebanho estimada na casa dos 80% da população ainda alcançada, cria-se a possibilidade para novas variantes da doença, principalmente, com apenas uma dose de vacina adquirida, já que sua eficácia para evitar transmissão é ainda menor do que com a imunização completa. A disseminação da variante delta também é um alerta.
"A primeira dose da vacina dá uma proteção parcial. É fundamental que a pessoa tome as duas doses para alcançar a proteção máxima e tenhamos o controle das variantes de preocupação", afirma o infectologista Leonardo Weissmann.
A própria Secretaria Municipal da Saúde da capital que a situação atual do município é de alerta para um possível aumento do número de casos suspeitos notificados. "Soma-se a isso a identificação de casos da variante delta no município", diz a pasta, que na semana passada informou que havia 50 casos identificados de pessoas com a nova cepa e em todas as regiões da cidade.
Uma coisa é certa, todas elas [vacinas] não protegem totalmente contra infecção, protegem contra a gravidade. Significa que você pode não ter uma doença muito grave, mas você continua tendo risco de pegar a doença", afirma infectologista Marcos Boulos, que faz parte do Centro de Contingência que auxiliar o governo João Doria (PSDB) a decidir sobre flexibilização da economia.
E com o vírus circulando novas cepas podem aparecer. "Sempre vai prevalecer aquele organismo [vírus] que tiver as melhores habilidades para sobrepor o nosso sistema imune. Se ele conseguir burlar nosso sistema imune, melhor para ele. Só vai persistir o vírus que conseguir infectar as nossas células e conseguir se transmitir para outros indivíduos", explica Camila Sacchelli Ramos, professora de doenças infecciosas e parasitárias da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
"Onde surgem as novas variantes? É dentro do nosso corpo. É quando o vírus está se multiplicando. Então quanto mais pessoas estiverem infectadas, sejam sintomáticas ou não, maior é o número de multiplicações, maior é a chance em uma dessas multiplicações surgir um mutante que tenha uma nova capacidade, inclusive, de não ser coberta pelas vacinas", completou.
Resposta
Questionado sobre a queda na adesão ao isolamento a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico afirmou que atua com plena responsabilidade e transparência no combate e controle do coronavírus, sempre amparado pela ciência para garantir a retomada das atividades econômicas de forma consciente, gradual e com segurança absoluta para a sociedade. Diz ainda que mantém a obrigatoriedade de máscaras e distanciamento.
Já Secretaria Municipal de Saúde da capital diz que o Núcleo de Doenças Agudas Transmissíveis monitora diariamente a situação epidemiológica para identificar os possíveis impactos da variante delta no comportamento dos casos suspeitos e confirmados.