A vela que teria causado o incêndio que matou duas irmãs de 8 e 9 anos, na noite de quarta-feira (8) em João Pessoa, foi deixada acesa porque uma das crianças tinha medo de dormir no escuro.
A mãe das meninas mortas no incêndio, Cibele Campos, relatou que a filha mais nova pediu que a vela ficasse acesa. A energia elétrica da casa, na comunidade Riachinho, havia sido cortada por falta de pagamento. No local moravam Cibele, as duas meninas e o filho mais novo, de 6 anos.
Após o início do fogo, as duas crianças não conseguiram sair do quarto a tempo de escapar do fogo e morreram carbonizadas, abraçadas, em um dos cantos do quarto.
As chamas se espalharam e destruíram parte da casa. Os vizinhos controlaram o fogo, arrombaram a porta e ajudaram a resgatar Cibele e o filho caçula, que dormiam em um outro cômodo na parte da frente da casa.
Em entrevista à TV Cabo Branco na manhã desta quinta-feira (9), Cibele Campos relatou que a irmã mais velha, que dormia no quarto com a mais nova, chegou a pedir para que a vela fosse apagada.
“Eu tive pena da mais nova, porque ela não queria dormir no escuro. A mais velha, não. A mais velha disse para deixar a vela apagada, que não queria a vela acesa. Aí eu disse ‘não filha, sua irmã não quer, ela até chorou antes’. Ela insistiu que queria dormir com a vela apagada, mas eu deixei acesa, fora da cama. Acho que em alguma hora o gato bateu e virou no colchão”, disse.
Ajuda
Segundo Cibele, que trabalha como empregada doméstica, ela chegou a pedir ajuda ao pai das crianças para quitar o débito com a concessionária de energiada Paraíba, a Energisa, mas ele não pode deixar o dinheiro.
Por causa do uso das velas com os filhos pequenos em casa, Cibele afirma que pediu à ex-sogra que passasse um tempo com as crianças até que a energia elétrica fosse religada, mas também não conseguiu ajuda.
“Pedi a minha ex-sogra para levar meus três filhos para lá, porque eu não queria ficar com eles dentro de casa usando vela perto deles. Não queria deixar meus filhos lá. Foram encher a cabeça dela, dizendo que eu só vivia andando no meio do mundo. Eu não tinha condições de pagar [a contra de luz], eu não tinha condição de nada. Era para eu pagar”, lamentou a empregada doméstica.
O pai das meninas mortas no incêndio, Joelson Mendes da Silva, disse que a dívida com a Energisa era de R$ 350. Segundo ele, que trabalha cuidando de um idoso, não havia condições de pagar as contas em atraso.
“A gente tinha que ir na Energisa, fazer um acordo, parcelar os atrasados. Aí chegou para pagar R$ 350 dos atrasados para eles virem ligar [a energia]. Ainda ia demorar algum tempo [para religarem]”, afirmou.
Joelson Mendes disse que viu as filhas horas antes do incêndio, no início da noite de quarta, quando foi até a casa deixar pão para que elas jantassem. “Passei no início da noite para deixar os pãezinhos delas. Então ligaram para mim meia-noite contando tudo, eu fiquei desesperado. Pensei que era uma brincadeira", afirmou.
"Eu não tive como deixar o trabalho porque o idoso toma remédio controlado e, quando eu fui falar, ele também começou a passar mal. É o meu ganha-pão, eu não posso perder o emprego, não tenho como conseguir outra coisa”, disse o pai das crianças.
Interdição
A casa onde ocorreu o incêndio que matou as irmãs foi interditada na manhã desta quinta-feira (9) pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (COMPDEC-JP).
A partir desta quinta, somente podem entrar no local profissionais da Defesa Civil, bombeiros ou algum policial para realizar a perícia dentro do imóvel.
“O imóvel tem algumas avarias por conta do incêndio, e até que seja feita uma reparação naquilo que está comprometido, o imóvel não estará aberto para nenhum familiar", disse Genival Quirino Seabra Filho, diretor operacional da Defesa Civil de João Pessoa.
Ele afirmou que se alguém da família precisar entrar na casa, vai ter que ser acompanhado de um integrante da equipe técnica.
Investigação
O Instituto de Polícia Científica (IPC) esteve no local e realizou uma perícia para determinar o que teria feito a vela cair no colchão. Os corpos das duas meninas foram encaminhados para Gerência de Medicina e Odontologia Legal (Gemol), no bairro do Cristo Redentor, na capital paraibana.
Até a manhã desta quinta, os corpos não tinham sido liberados, segundo a mãe das vítimas.
Fonte: G1