Opinião

  Ipec e Datafolha

 

Os institutos de pesquisas brasileiros erraram feio nesta eleição. Não adianta agora os diretores de IPEC e Datafolha (os dois mais importantes) virem a público para justificar ou minimizar a gafe. A primeira coisa que eles deveriam fazer é assumir a mancada e a partir daí se dedicarem a descobrir a verdadeira razão do fiasco.

Alguns dados para refrescar a memória dos leitores: a votação prevista para o Bolsonaro era de 36% e 37% nos dois principais institutos e ele chegou a 43%, muito além da margem de erro que é de 2%. Em São Paulo Haddad deveria ter melhor votação que o Tarcísio de Freitas e este chegou na frente. No Rio de Janeiro previa-se a decisão em segundo turno e o Claudio Castro derrotou facilmente o Marcelo Freixo.

Ainda, no Rio Grande do Sul IPEC e Datafolha afirmavam que o Eduardo Leite tinha boa dianteira, mas foi atropelado pelo Onyz Lorenzoni. Na Bahia os números indicavam vantagem de ACM Neto (49%) sobre Jerônimo Rodrigues (40%) e o resultado foi invertido.

Entretanto eu me recuso a acreditar que tenha havido má fé dos dois principais institutos brasileiros. Outras cinco importantes empresas pesquisadoras chegaram a resultados parecidos indicando uma margem média de 12% de diferença entre Lula e Bolsonaro, sinalizando a possibilidade daquele vencer o pleito já no primeiro turno.

Certamente há um fator que ainda desconhecemos que explicaria o fracasso das previsões das tendências eleitorais.

O segredo principal de uma boa pesquisa é a formação de um grupo amostral em que um número relativamente pequeno de pessoas, represente o total da população. Assim, este grupo teria número de indivíduos de cada sexo, idade, religião, renda etc. proporcional ao conjunto da sociedade.

Quem tem a estatística etária, dados sociais e econômicos da sociedade é o IBGE que faz o recenseamento da população de dez em dez anos e uma contagem mais rápida a cada cinco anos. Acontece que por limitações orçamentárias não foi feita a contagem ligeira em 2015 e a pandemia atrasou o recenseamento de 2020, que só agora está em sendo feito.

Assim há uma defasagem grande na divisão social dos eleitores que pode ter influenciado a formação amostral dos habitantes. Por exemplo, a população hoje está mais envelhecida (proporcionalmente) que em 2010 e há com certeza muito mais evangélicos em relação aos católicos, por conta do notório crescimento dessa crença.

Como sou radicalmente contra teorias conspiratórias não creio que haja uma união espúria entre os institutos para favorecer este ou aquele candidato.

Resta-nos ver um lado bom dessa tremenda vacilada dos pesquisadores, invocando o espírito da Polyana do famoso livro infanto-juvenil de mesmo nome e fazer o “jogo do contente” que ela fazia, vendo sempre um lado bom em qualquer situação ruim. No nosso caso podemos ficar felizes porque com as urnas dando mais votos a Bolsonaro do que seu marketing previa, vários seguidores passaram a crer nelas e com isso parece que nos afastamos, ainda que temporariamente, do perigo de o Presidente tentar melar o jogo alegando fraude nas eleições.

Já estão saindo as pesquisas do segundo turno. Voltaremos a crer nesses institutos?

Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor

renato2p@terra.com.br

 

 

 

 

 

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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