A exemplo do que ocorreu com outras grandes invenções, ela foi fruto de uma sucessão de descobertas e tentativas que, na época, nem sempre alcançaram a devida repercussão. Esse foi o caso do padre gaúcho Roberto Landell de Moura (1861-1928), um pioneiro que o Brasil hoje começa a reconhecer e que antecedeu em dois anos a experimentação de Marconi, datada de 1895.
Alguns anos antes, em 1873, o físico britânico James Maxwell havia constatado a existência de ondas eletromagnéticas que se propagavam pelo espaço. Em 1887, o físico alemão Heinrich Hertz, a partir da hipótese de Maxwell, conseguiu fazer a transmissão e a recepção de ondas eletromagnéticas, ainda que com equipamentos colocados a poucos metros de distância um do outro.
Landell de Moura fez suas experiências pioneiras de transmissão da voz humana em 1892 e 1893, em Campinas e em São Paulo, cobrindo uma distância de 8 quilômetros. Ele também foi inventor do telégrafo sem fio que, a exemplo do rádio, por ele chamado de “transmissor de ondas”, conseguiu patentear, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
“Ele era um sacerdote, uma pessoa recatada, e talvez por isso foi posto de escanteio, à margem desse processo, enquanto o Marconi, um europeu, um acadêmico, conseguiu repercussão para o seu invento e ficou na história como o criador do rádio”, diz o radialista Cristiano Menezes, gerente-geral das rádios EBC (Empresa Brasil de Comunicação) no Rio de Janeiro. Juntamente com o veterano radioator e apresentador Gerdal dos Santos e o jornalista Luiz Augusto Gollo, Cristiano Menezes participa do programa especial sobre o Dia Mundial do Rádio que as emissoras da EBC veiculam nesta quarta-feira (13).
Como meio de comunicação, o rádio chega ao Brasil em 1922, pelas mãos do cientista e educador Edgard Roquette Pinto. Ele faz a primeira transmissão no dia 7 de setembro daquele ano, durante a inauguração da exposição internacional comemorativa do Centenário da Independência. Menos de um ano depois, em 20 de abril de 1923, entrava no ar a primeira emissora, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, hoje Rádio MEC, uma das emissoras da EBC.
Mais de um século após sua invenção, o rádio mostra capacidade de renovação e adaptação às novas tecnologias, como destaca a professora Sonia Virginia Moreira, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), autora de livros sobre a história do veículo. Para ela, o rádio é sempre aberto, democrático e sensível a todas as transformações.
“É um meio que consegue se adaptar a situações muito distintas. Quando surgiu a televisão, o rádio viveu seu maior momento de crise, mas conseguiu se superar em pouco tempo, renovando a linguagem, como meio de comunicação prestador de serviços e canal de entreternimento. Mais recentemente, o rádio integrado à internet vem comprovar essa maleabilidade do meio”, diz a professora.
Para Cristiano Menezes, o rádio digital é o futuro, em matéria de tecnologia, mas a linguagem característica do veículo se manterá, por mais que surjam diferentes plataformas. “Há um novo ouvinte, que já procura o novo rádio, pela internet, os vários meios de comunicação hoje se complementam, há toda uma convergência de mídias, a digitalização já se anuncia, é o futuro, mas o veículo será sempre rádio”.
Fonte: Agência Brasil