A falta de água em reservatórios do país e constantes instabilidades na rede de distribuição de energia elétrica têm feito indústrias e comércios do país procurarem por geradores, que reforçam o abastecimento quando há falta de eletricidade – seja por racionamento ou por colapso na rede, como em dias de tempestades.
O temor é que a falta de energia cause prejuízo, como a perda de produtos estocados ou a paralisação de maquinário, que pode interromper o fluxo de produção e, consequentemente, atrasar o cronograma de entregas – o pesadelo de qualquer empresário.
Por causa disso, fornecedores de geradores, que vendem ou alugam esse tipo de equipamento, têm trabalhado como nunca para dar conta dos pedidos e esperam uma alta no faturamento de até 70% em 2015. Segundo os empresários ouvidos pelo G1, a procura aumentou principalmente depois do apagão de janeiro, que deixou mais de 3 milhões de brasileiros sem luz em dez estados e no Distrito Federal.
Na época, o governo justificou que a interrupção no fornecimento ocorreu devido a um pico de consumo fora do horário comum, entre 14h e 15h (normalmente é entre 18h e 21h). O país enfrentava uma onda de calor que elevou a utilização de aparelhos de ar-condicionado.
Medidas do governo
Por causa disso, a insegurança sobre o futuro da energia no Brasil passou ser debatida constantemente. Apesar do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, afirmar que a necessidade de racionamento está cada vez mais longe devido à previsão de chuvas em hidrelétricas, o momento é de cautela e planejamento.
As chuvas intensas em fevereiro não foram suficientes para descartar o risco de um novo racionamento de energia no país em 2015. No mês passado, o volume de água que chegou até as represas das principais hidrelétricas do país, localizadas no Sudeste e Centro-Oeste, foi equivalente a 59% da média histórica, sexto pior resultado para meses de fevereiro.
Essas represas abastecem usinas hidrelétricas que respondem por cerca de 70% da capacidade de geração de energia no país.
A preocupação é tanta que o governo começou a esboçar um plano de emergência que obrigaria o comércio e a indústria a diminuírem o consumo no horário de pico e empregarem geradores. Nesta semana, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou uma proposta que incentiva os grandes consumidores a utilizarem equipamento.
Oportunidade na crise
Para a Tecnogera, empresa que trabalha com o aluguel de geradores, a insegurança do sistema energético do país fez aumentar a procura em 40% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o presidente Abraham Curi.
Entre os principais clientes “temerosos” com uma possível crise energética estão grandes indústrias como a Klabin, redes de academia, além de empreendimentos de pequeno porte.
“A falta de geração [de energia] em função da crise pública, os reservatórios baixos e a insegurança no fornecimento criou esse aumento da demanda. Como o cenário não deve mudar nos próximos meses, os contratos variam entre um semestre e um ano", disse. Curi explica que tem fornecido produtos para empresas dos mais variáveis segmentos, mas as que mais têm procurado são aquelas que participam de cadeias de produção e, por isso, têm risco maior de prejuízo.
Os preços dos geradores variam e o aluguel mensal pode ultrapassar a casa do milhão de reais, no caso da montagem de pequenas usinas para indústrias.
Mais modesta, a gráfica Color System adquiriu recentemente um gerador para evitar constantes quedas de energia na Zona Oeste de São Paulo. Segundo Daniel Berlanga, responsável pela empresa, as fortes chuvas em janeiro deixaram a gráfica mais de 30 horas sem produzir ou vender.
“Todas as quedas de energia geraram prejuízo. Além da produção interrompida, com risco de comprometimento com clientes, há casos de equipamentos danificados”, explica. Ele afirma que paga mensalmente o aluguel de R$ 8 mil, mas que deverá comprar um novo gerador para evitar novas interrupções.
Faturamento em alta
Jorge Luiz Buneder, presidente da Stemar, uma das maiores fabricantes de geradores do Brasil, sinaliza que a empresa deve faturar 20% a mais que no ano passado, quando as receitas foram de R$ 800 milhões.
Ele cita que os principais clientes são supermercados e grandes lojas, que não podem deixar suas mercadorias sem refrigeração por muito tempo.
"Temos a expectativa que aumentem as vendas em função do quadro de limitação da oferta de energia. Acreditamos e esperamos não tenhamos racionamento, porque é uma penalização muito grande para o país e afeta as atividades de todos", explica.
Fonte: G1