O Pacífico pode ser avistado de uma das três casas-museus do poeta Pablo Neruda (1904-1973), em Valparaíso: La Sebastiana. Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Neruda também ficou conhecido por ser um colecionador de objetos. Em La Sebastiana não há objetos que representem os indígenas. Isso não quer dizer que sua poesia não denunciou as agruras do capitalismo a oprimir os povos indígenas, em especial os do Chile, ainda dos Mapuches, que significa água que se perde entre as pedras.
Os Mapuches eram os donos das terras hoje conhecidas como Chile e Argentina. Mesmo que grande parte deles tenha sucumbido aos mosquetes e espadas dos espanhóis, que seus arcos e flechas não contiveram, além das doenças infectocontagiosas, nunca se renderam. Prova é o Tratado de Lillin, firmado com o império espanhol, quando se estabeleceu que os Mapuches teriam o direito à autodeterminação e liberdade dentro de seu território. Contudo, foram acometidos por campanhas genocidas, quando mais de cem mil índios foram exterminados.
Neruda esqueveu: O índio fugiu de sua pele ao fundo / de antiga imensidade de onde um dia / subiu como as ilhas: derrotado / transformou-se em atmosfera invisível, foi-se abrindo na terra, derramado / sua secreta marca sobre a areia / ele que gastou a lua, ele que penteava / a misteriosa solidão do mundo / ele que não transcorreu sem erguer-se / em altas pedras coroadas de aragem / ele que durou como a luz celeste / sob a magnitude de seu arvoredo / gastou-se de repente até ser fio / converteu-se em rugas / esmiuçou suas torres torrenciais / e recebeu seu pacote de farrapos.
Hoje, muitos chilenos escondem a ancestralidade Mapuche. Adeptos a políticas conscientes de exterminação, disputam terras com os índios. Em Santiago, nas paredes de construções europeizadas, lê-se: liberdade aos Mapuches! Ecos de seus tambores de cerâmica ainda a rufar.
