A cassação da senadora Selma Arruda (PSL) a coloca no rol de figuras que deixaram o prestígio no Poder Judiciário para se enveredar na política e acabaram com problemas derivados da nova atividade. A senadora é acusada de prática de caixa 2 na eleição de 2019.
Ela foi impulsionada para vida política pela atuação no Judiciário que condenou políticos envolvidos em corrupção – incluindo o ex-governador Silval Barbosa (sem partido). Logo que admitiu a disputa ao Senado, foi comparada ao então governador Pedro Taques (PSDB).
Taques pediu exoneração do cargo de procurador da República para concorrer ao Senado, teve ascensão rápida que levou ao posto em Brasília e, na sequência, ao governo do Estado. Também se destacou no âmbito da Justiça pelo enfrentamento a casos polêmicos. Foi responsável pela prisão do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, investigado por vários crimes em Mato Grosso.
Mas, encerrou o mandato, em 2018, com a pecha de inabilidade política. A postura rígida e isolada e proeminente no Judiciário mostrou-se incompleta para lidar com o campo político.
“O trabalho do juiz é isolado. Ele, com seus pensamentos, analisa e faz o parecer, sem precisar consultar a mais ninguém, se tem uma vida extática. A vida na política é dinâmica, precisa dialogar para convencer outras pessoas. E só assim a coisa flui”, diz o cientista político João Edisom.
No caso da política brasileira, a rigidez é tomada como distinção moral em oposição ao cenário de corrupção, largamente atribuída à articulação política engendrada pelos veteranos no cenário – um problema que extrapola o perfil judiciário dos representantes.
“O Pedro Taques parecia ter medo de concordar com alguém. Ele parecia não saber lidar com outras ideias. A rigidez não é uma qualidade moral. Uma pessoa honesta pode ou não ser rígida, moralmente, ela não se define por isso”, pontua o cientista.
O pesquisador pontua que a falha das figuras vindas do Judiciário está na inabilidade e na inexperiência em conviver no dinamismo da política; em manter uma postura coerente em meio à construção das ideias. “Eles parecem não atender que a postura do Judiciário é insuficiente para atuar na política. E isso não acontece só no Brasil, parece ter episódios no mundo todo. Quando encontram uma situação diferente na política adotam a postura de eu contra eles”.
O apelo junto aos eleitores reforça a ideia de isolamento. O combate à corrupção no Judiciário impulsiona para uma frente mais popular, mas cuja intenção é magoada pela inabilidade.
“O brasileiro vota muito pelo afeto. Ele vota no candidato com quem cria uma ligação pessoal. Ele não pergunta o que necessário se perguntado: O que você vai fazer pela sociedade? Uma pergunta capital que não passa pela cabeça do eleitor”.
O ex-juiz Julier Sebastião (PDT), outra figura no rol de Mato Grosso, tem até o momento um histórico menos efetiva na frente política. Deixou o cargo na Justiça Federal para disputar a Prefeitura de Cuiabá, em 2016, e ficou na quarta colocação. Em 2018, ensaiou disputar o governo, mas teve o projeto preterido pelo partido, elegeu Otaviano Pivetta como vice do governador Mauro Mendes.