Cidades

Imperatriz Leopoldinense se defende dizendo que não atacou o agronegócio

A escola de samba Imperatriz Leopoldinense, do Rio de Janeiro, decidiu se manifestar sobre a polêmica que envolve o samba-enredo escolhido para o Carnaval 2017. Durante as manifestações de repúdio de entidades ligadas ao agronegócio, a escola chegou a dizer que não se manifestaria sobre o tema.

Intitulado "Xingu – O Clamor que Vem da Floresta", o samba-enredo faz uma homenagem ao Parque Nacional do Xingu, em Mato Grosso, e insinuaria que a destruição da natureza está ligada à produção do agronegócio.

Por meio de nota, o presidente da agremiação, Luiz Pacheco Drumond, afirmou que, na verdade, o objetivo da música é passar uma “mensagem de preservação” e afirma que em nenhum momento o setor do agronegócio não foi atacado.

“Nosso enredo não versa contra esta importante cadeia produtiva de nossa economia nem desqualifica os seus incansáveis trabalhadores. Como poderíamos exaltá-los de forma grandiosa num carnaval para, em seguida, criticá-los no outro?”, questiona o presidente em trecho da nota.

A “exaltação grandiosa” citada por Drumond se refere ao tema do Carnaval de 2016, que homenageou a dupla sertaneja Zezé de Camargo e Luciano e trouxe alegorias que tratavam da agricultura.

“O homem do campo é presença constante em nossos desfiles e exaltamos por muitas vezes na Avenida o solo brasileiro, este chão abençoado por Deus onde tudo que se planta, dá”, alegou.

O presidente disse, ainda, que a escola tem sido atacada com “críticas injustas”, pois "Embora não seja nossa intenção generalizar, importantes pesquisas científicas apontam os diversos males que o agrotóxico traz para o solo, para o alimento e consequentemente para a saúde de quem o consome. Este é apenas um aspecto do nosso rico e imenso enredo, mas desde então temos recebido críticas e inúmeras notas de repúdio dos mais diversos setores do agronegócio". 

E, justificou que o trecho do samba “o Belo Monstro rouba a terra de seus filhos, destrói a mata e seca os rios” é uma referência a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte – e não ao agronegócio.

“Estamos nos juntando às populações ribeirinhas, às etnias indígenas ameaçadas, aos ambientalistas e importantes setores da sociedade que se posicionaram contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Não é uma referência, portanto, ao agronegócio, como alguns difundiram”, afirmou.

Entenda o caso

Após ter o samba-enredo divulgado, a escola de samba recebeu diversas críticas. As reações começaram na internet com uma enchurrada de críticas por meio dos internautas. Logo depois, entidades e associações ligadas ao Agronegócios começaram a emitr notas repudiando a Imperatriz Leopoldinense. 

A Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (Abrass), em conjunto com a Associação Goiana dos Produtores de Sementes e Mudas (Agrosem), a Associação dos Produtores de Sementes dos Estados do Matopiba (Aprosem), a Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat), e Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), emitiram suas notas defendendo a atividade no campo.

Com o enredo “O belo monstro rouba a terra de seus filhos, devora e seca as matas e seca os rios, tanta riqueza que a cobiça destruiu?”, as entidades criticaram a escola de samba, afirmando que a letra vem “carregada de desinformação sobre a realidade do agronegócio brasileiro ao chama-lo de belo monstro".

“O setor produtivo de semente de soja não pode fechar os olhos para as inverdades que o enredo cita, tendo em vista que o carnaval carioca é uma festa que atrai os olhares do mundo todo. Não se pode defender os índios denegrindo o agronegócio”, traz nota.

Para as entidades, o agronegócio não rouba as terras, pelo contrário cuida das terras em que produz e garante alimento a uma nação. “Aos autores do samba enredo, faltou o conhecimento sobre a importância do agronegócio brasileiro aos olhos do mundo”.

A escola, que integra o Grupo Especial do carnaval carioca, vai se apresentar no Sambódromo da Avenida Marquês de Sapucaí no dia 26 de fevereiro à 0h50, com transmissão ao vivo pela Rede Globo.

A composição do samba deste ano é de Moisés Santiago, Adriano Ganso, Jorge do Finge e Aldir Senna, e o responsável pelo desfile é carnavalesco Cahê Rodrigues.

Leia mais: Associações do agronegócio repudiam samba enredo de Imperatriz Leopoldinense

Confira a íntegra da nota assinada pelo presidente da Imperatriz Leopoldinense:

O carnaval é uma festa popular e o desfile das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, considerado o maior espetáculo a céu aberto do mundo, é um patrimônio da cultura brasileira. Um dos principais atrativos turísticos da cidade do Rio de Janeiro, o carnaval carioca atrai visitantes de diversas regiões do Brasil e do mundo inteiro.

A festa emprega milhares de trabalhadores nos mais diversos setores, gerando desenvolvimento e oportunidades de negócio, além de injetar dinheiro em nossa economia. Só no carnaval de 2016 foram arrecadados mais de 3 bilhões de reais, segundo dados da Empresa de Turismo do Rio de Janeiro – RIOTUR .

Seja nos ranchos, nos blocos, nos salões ou na Avenida, o carnaval, mesmo terminando na quarta-feira de Cinzas, desperta sonhos e paixões nos foliões. As escolas de samba são um capítulo à parte, um espaço democrático que liga os todos os cantos da cidade e celebra a diversidade. E falar de diversidade é falar da Imperatriz Leopoldinense.

Considerada uma das escolas de samba mais tradicionais do carnaval carioca e uma das maiores campeãs da Era Sambódromo, a Rainha de Ramos – como é carinhosamente chamada por seus torcedores e comunidade –, tem na sua essência um compromisso com a cultura. Os enredos sobre a formação do povo brasileiro estão enraizados em nossa história. Aliás, gostamos muito de contar boas histórias.

Orgulhamo-nos de nossa trajetória de grandes enredos com temática cultural, inclusive fomos a primeira agremiação a fundar um departamento cultural, prática posteriormente adotada por todas as nossas co-irmãs, cujo propósito é preservar nossas raízes e memórias. Colecionamos desfiles inesquecíveis e sambas que são considerados verdadeiros clássicos do carnaval, que nos renderam prestígio, reconhecimento de importantes setores da sociedade e, claro, muitos campeonatos.

Temos a marca do pioneirismo em nosso pavilhão, conquistamos oito vezes o título de campeã do carnaval carioca no Grupo Especial, além de importantes prêmios nacionais e internacionais. Nestes quase 60 anos de fundação e de bons serviços prestados à cultura brasileira, a Imperatriz Leopoldinense teve em seu quadro grandes mestres do carnaval, já celebrou importantes vultos de nossa rica Literatura, juntou o erudito com o popular, uniu o sagrado e o profano, cantou a nossa mestiçagem e a fé de nossa brava gente brasileira espalhada por todos os rincões deste país de dimensões continentais.

O homem do campo é presença constante em nossos desfiles e exaltamos por muitas vezes na Avenida o solo brasileiro, este chão abençoado por Deus onde tudo que se planta, dá. No carnaval de 2016, ano em que, vencendo preconceitos, homenageamos a dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano, adentramos no universo rural, trouxemos algumas riquezas do estado de Goiás e dedicamos um setor inteiro de nosso desfile à agricultura, por entendemos a importância deste segmento para nossa economia .

Comprometida em dar voz à diversidade, a Imperatriz Leopoldinense, que já cantou em carnavais anteriores o descobrimento do Brasil e celebrou as raízes africanas através da figura e do legado de Mandela, decidiu levar para a Marquês de Sapucaí em 2017 o enredo "Xingu – o clamor que vem da Floresta", de autoria do carnavalesco Cahe Rodrigues.

Vamos falar da rica contribuição dos povos indígenas do Xingu à cultura brasileira e ao mesmo tempo construir uma mensagem de preservação e respeito à natureza e à biodiversidade.

Segundo relato da própria população que vive ali, a região do Xingu ainda é alvo de disputas e constantes conflitos. A produção muitas vezes sem controle, as derrubadas, as queimadas e outros feitos desenfreados em nome do progresso e do desenvolvimento afetam de forma drástica o meio ambiente e comprometem o futuro de gerações vindouras. Os resultados, como sabemos, são devastadores e na maioria das vezes irreversíveis.

Acreditamos que, para além do entretenimento, o carnaval e a escola de samba – levando em consideração que os olhos do mundo se voltam para nossa festa – têm um compromisso com o social e o desenvolvimento sustentável.

Após a divulgação de nossas fantasias, algumas delas denunciando o uso irresponsável de agrotóxicos, fomos alvo de uma intensa campanha difamatória. Embora não seja nossa intenção generalizar, importantes pesquisas científicas apontam os diversos males que o agrotóxico traz para o solo, para o alimento e consequentemente para a saúde de quem o consome. Este é apenas um aspecto do nosso rico e imenso enredo, mas desde então temos recebido críticas e inúmeras notas de repúdio dos mais diversos setores do agronegócio.

Até em função de certa confusão registrada em algumas dessas falas, ressaltamos e esclarecemos que no trecho de nosso samba “o Belo Monstro rouba a terra de seus filhos, destrói a mata e seca os rios” estamos nos juntando às populações ribeirinhas, às etnias indígenas ameaçadas, aos ambientalistas e importantes setores da sociedade que se posicionaram contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Não é uma referência, portanto, ao agronegócio, como alguns difundiram. Os impactos negativos desta obra ao meio ambiente serão imensuráveis, estão constantemente nas pautas de debates, são temas de discussões recorrentes em audiências públicas e foram amplamente divulgados pela imprensa nacional e estrangeira.

Em nenhum momento atacamos o setor do agronegócio e seus trabalhadores. A sinopse de nosso enredo está disponível para consulta pública em nossos canais oficiais de comunicação. Mesmo depois de todos os esclarecimentos prestados por nosso carnavalesco aos mais diversos veículos de comunicação, temos sido atacados com críticas injustas e até com ofensas ao samba, importante matriz de nossa cultura, e ao carnaval, a maior festa popular do planeta.

Por fim reforçamos que o nosso enredo não versa contra esta importante cadeia produtiva de nossa economia nem desqualifica os seus incansáveis trabalhadores. Como poderíamos exaltá-los de forma grandiosa num carnaval para em seguida criticá-los no outro?

A nossa mensagem é de preservação, respeito, tolerância e paz. Todos os que acreditam nesses valores estão convidados a celebrar conosco.

Salve o verde do Xingu, viva o carnaval, a Imperatriz Leopoldinense e todos os trabalhadores do Brasil!

Luiz Pacheco Drumond

Presidente.

Catia Alves

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