A tribo Imperatriz Leopoldinense entrou na Marquês de Sapucaí nas primeiras horas desta segunda-feira (27) defendendo o Parque Indígena do Xingu. A verde e branco, que enfrentou até polêmica com o agronegócio por causa do enredo, mostrou a beleza e a cultura dos povos do nordeste do Mato Grosso. Mas também tocou em feridas, como a ameaça dos madeireiros à preservação do santuário.
Lideranças indígenas, entre elas o cacique Raoni, desfilaram no carro que representa a Usina de Belo Monte, citada no enredo como "Belo Monstro".
A escola conta com 3.200 componentes e 29 alas.
"Muito bonito realmente… Devo dizer a todos que é também um momento histórico, como deve acontecer sempre para nossos povos indígenas de todo o Brasil… Onde devemos sempre estar inseridos nessa cultura nacional de direito… A nossa voz também deve ser ouvida através do Carnaval… Parabéns a todos que participam diretamente dessa construção e manutenção da cultura indígena", escreveu em grupo de WhatsApp o líder Karipuna, do Amapá.
Quem também se manifestou foi Aldamir Sateré, do Amazonas: "Momento único, importante e reflexivel para que não percamos os nossos rios, nossas terras e os valores culturais materiais e imateriais".
Da nação Terena, Lúcio Waiana viu a homenagem como uma forma de alerta. "Isso é para o mundo saber que os povos indígenas estão firme forte na cultura e tradição".
Batizada pela nação Pataxó, Verbena Melo chorou ao final do desfile. "Lindo, lindo! Belíssima homenagem aos povos indígenas. O clamor e a voz invisível dos povos indígenas em rede nacional é visto pelo mundo. Momento histórico".
A Imperatriz, que no carnaval de 2016 ficou na sexta colocação, vai se apresentar com 3.200 componentes, 29 alas, seis carros e um tripé.
Ficha técnica
Enredo: Xingu – o clamor que vem da floresta
Carnavalesco: Cahê Rodrigues
Intérprete: Arthur Franco
Mestre de bateria: Lolo
Rainha de bateria: Cris Vianna
Mestre-sala e porta-bandeira: Thiaguinho Mendonça e Rafaela Teodora
Comissão de frente: Cláudia Mota
Letra
Xingu – o clamor que vem da floresta
Brilhou a coroa na luz do luar!
Nos troncos a eternidade a reza e a magia do pajé!
Na aldeia com flautas e maracás
Kuarup é festa, louvor em rituais
Na floresta, harmonia, a vida a brotar
Sinfonia de cores e cantos no ar
O paraíso fez aqui o seu lugar
Jardim sagrado, o caraíba descobriu
Sangra o coração do meu Brasil
O belo monstro rouba as terras dos seus filhos
Devora as matas e seca os rios
Tanta riqueza que a cobiça destruiu!
Sou o filho esquecido do mundo
Minha cor é vermelha de dor
O meu canto é bravo e forte
Mas é hino de paz e amor!
Sou guerreiro imortal derradeiro
Deste chão o senhor verdadeiro
Semente eu sou a primeira
Da pura alma brasileira!
Jamais se curvar, lutar e aprender
Escuta menino, Raoni ensinou
Liberdade é o nosso destino
Memória sagrada, razão de viver
Andar onde ninguém andou
Chegar aonde ninguém chegou
Lembrar a coragem e o amor dos irmãos
E outros heróis guardiões
Aventuras de fé e paixão
O sonho de integrar uma nação
Kararaô, Kararaô, o índio luta por sua terra
Da Imperatriz vem o seu grito de guerra!
Salve o verde do Xingu, a esperança
A semente do amanhã, herança
O clamor da natureza a nossa voz vai ecoar
Preservar!