A imagem que impressionou o mundo esta semana foi filmada de um carro: um avião perde altitude logo depois de decolar, bate em um carro, bate em uma ponte e desaba em um rio.
O correspondente da Rede Globo na Ásia, Marcio Gomes, foi a Taiwan, o cenário da tragédia e descobriu uma história de heroísmo.
É daquele tipo de cena que as pessoas não esquecem: o avião vem descendo, vira para esquerda, atinge um carro com a asa e cai em um rio.
Na quarta-feira (4), um avião modelo ATR-72, de fabricação francesa, decolou às 10h45 do aeroporto de Taipé, capital de Taiwan, cidade densamente povoada, com mais de 6 milhões de pessoas. E que possui prédios altos, um deles com 101 andares, um dos maiores do mundo.
Com 58 pessoas a bordo, o voo seguia para um destino turístico, as Ilhas Kinmen. Mas, como a investigação já mostrou, falhas nos motores levaram o avião da TransAsia a perder sustentação e cair minutos depois da decolagem. Por pouco, prédios mais altos não foram atingidos.
Até a noite deste domingo (8), 40 corpos foram encontrados. O Fantástico conseguiu imagens do trabalho de resgate no interior do avião parcialmente submerso. Os bombeiros entram por um rasgo na fuselagem: assentos soltos, retorcidos. Se já era difícil para profissionais acostumados com acidentes, imagina para os passageiros. E em um desses momentos, a tragédia ganhou um personagem salvador.
Foram apenas 15 sobreviventes, a grande maioria ainda está internada em diferentes hospitais da cidade de Taipé. Em um deles, o das forças armadas, está o senhor de 72 anos que traz um relato de coragem e solidariedade.
O senhor Huang ainda se recupera dos ferimentos. A boca está roxa, sente dores nas costelas. A mala, suja de lama, foi encontrada. Ele é vendedor, viaja muito, o passaporte, molhado depois do acidente e cheio de carimbos, é prova disso. Por causa dessa experiência, ele conta que, logo ao decolar, estranhou algo.
“Normalmente a subida deve ser estável, mas neste voo, logo depois da decolagem, o avião estava balançando, ziguezagueando. Por isso pressenti que algo estava errado”, ele conta.
A análise da caixa-preta indicou que um motor falhou aos 37 segundos de voo. O senhor Huang decidiu tomar uma atitude que os manuais da aviação condenam.
Fantástico: Nunca se deve tirar o cinto de segurança durante o voo e o senhor fez exatamente o contrário, quando pressentiu o perigo, soltou o cinto. Por quê?
Huang: Eu sabia que algo estava errado, e decidi soltar o cinto e me segurar, porque sabia que o avião ia cair.
O avião ficou de cabeça para baixo, e nessa posição, muitos não conseguiram soltar o cinto. A água subia rapidamente, o senhor Huang estava perto do buraco na fuselagem. Mas ele decidiu ficar no avião e soltar quatro pessoas, que escaparam com vida.
“Desde criança, minha mãe me ensinou que salvar vidas pode nos tornar pessoas melhores. Quando eu pressenti que o barulho era esquisito, eu apenas pensei em ajudar os outros a se proteger e a se salvar”, conta Huang.
Outro sobrevivente não estava no avião. O motorista do táxi que foi atingido durante a queda.
Se o flagrante do avião atingindo o táxi já é impressionante, imagina ver o carro de perto, destruído. Difícil imaginar como o motorista não apenas sobreviveu, mas conseguiu manter o controle do carro depois do impacto com a asa do avião.
O lado esquerdo parece o de outro táxi, inteiro. Mas basta olhar de frente para ver o estrago. O motor afundou. O carro está isolado, em uma garagem da polícia, passando por perícia.
O dono da frota de táxis conta que o motorista tem 52 anos e trabalha há apenas dois na companhia. Ele diz que o motorista foi talentoso ao conseguir controlar o carro e prestativo: foi ele que pediu socorro logo depois do acidente.
A gravação foi liberada pela empresa, inclusive com o susto de quem atendeu a chamada:
Motorista: Alô, eu fui atingido por um avião e meu carro está destruído.
Empresa: Você foi atingido por um avião de controle remoto?
Motorista: Um avião de verdade me atingiu.
Empresa: Foi um avião de controle remoto?
Motorista: Não, de verdade.
Empresa: O quê?
Três corpos ainda não foram localizados. E o trabalho para achá-los continua no rio. Suei, um voluntário 52 anos, está no local para dar conforto às famílias das vítimas.
“Espero que elas possam enterrar seus parentes com dignidade, quero achar esses corpos”, diz Suei.
Fonte: G1