A dança das cadeiras na política brasileira virou uma rotina bianual. Com a proximidade das eleições, tudo piora e Mato Grosso segue no protagonismo da infidelidade ideológica partidária, com políticos que sempre seguem os próprios interesses. Nos últimos anos, o deputado federal Fabio Garcia saiu do Partido Democrata Trabalhista e foi se abrigar no – nada a ver com trabalhismo ou centro-esquerda – Democratas (DEM), um partido que representa a extrema direita no Brasil. Assim também o fez Mauro Mendes, do chamado Partido Socialista Brasileiro, que rumou para o mesmo DEM.
O caso mais extremo foi o de Serys Slhessarenko, direto do núcleo duro (e à esquerda) do Partido dos Trabalhadores (PT) para o partido da Igreja Universal do Reino de Deus, o Partido Republicano Brasileiro (PRB). Lá, Serys irá cerrar fileiras com antagonistas políticos de outros tempos, como o pastor e prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella ou o deputado federal e católico reacionário Celso Russomano.
Ainda assim, ela está longe de ser a campeã de mudanças de camisa ao sabor da conveniência. Em Mato Grosso, o posto cabe com folga ao deputado federal Valtenir Pereira. Ele começou a vida no Partido Socialista Brasileiro, foi para o Prosperidade (Pros), depois o novíssimo Partido da Mulher Brasileira (PMB), de onde foi pro velhíssimo Partido do Movimento Democrático Brasileira (PMDB), daí acabou retornando para o PSB. Pobre da equipe responsável pela impressão dos cartões de visita desse parlamentar.
Claro que Valtenir não está sozinha nessa de ser, digamos, volúvel com a ideologia que defende. O pastor Victório Galli, por exemplo, largou seu antigo Partido Social Cristão (PSC) para seguir o ex-capitão Bolsonaro no Partido Social Liberal (PSL), que defende medidas pouco cristãs como o uso de armas pesadas pela polícia e a castração química.
Infelizmente, essa ‘dança das cadeiras’ é uma tendência nacional. Aliás, entre os 135 deputados federais que saíram de uma agremiação para outra, nada menos que 34 trocaram de partido mais de uma vez. E isso só nos últimos três anos. Um quarto deles fez isso já no exercício do atual mandato. São 513 deputados no parlamento nacional e eles já mudaram de legenda 189 vezes, de acordo com os dados presentes no site da Câmara dos Deputados.
Na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, os ânimos estão excitados com o início da chamada janela partidária (período em que podem trocar de sigla livremente, sem sofrer as sanções da lei e sem precisar se adequar a uma das exceções – veja quadro nesta mesma página).
Até agora, as mudanças na casa das leis mato-grossenses têm sido mais sutis, com os protagonistas dos troca-trocas mantendo mais ou menos a mesma linha ideológica, como Allan Kardec, que já abandonou oficialmente o PT para de lá se filiar muito provavelmente ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), PSB ou mesmo o PDT.
Mas as definições presentes nos sites de cada partido nem sempre contêm o que eles são de fato. É só ver o Partido Social Democrático (PSD), fundado a partir de dissidentes do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), do DEM e do Partido Progressista (PP), todos notadamente mais à direita, e que mesmo assim consegue perder quadros para o Solidariedade, que se coloca como partido identificado com “a luta dos trabalhadores e dos movimentos sociais”. É para onde foi o deputado Leonardo Albuquerque, em ato festivo celebrado na terça-feira (13), com José Carlos do Pátio e Paulinho da Força.
Se há dúvidas quanto ao apego de Leonardo às bandeiras defendidas pelo seu novo partido, o mesmo não acontece com o discurso público do secretário de Estado de Cultura, Kleber Lima. Ex-militante do PCdoB, agora também filiado ao Solidariedade e que terá seu caminho, dizem todos os próximos a ele ao menos, seguido por outro ex-PCdoB e também secretário de Taques, Suelme Evangelista, da Agricultura Familiar. A outra possibilidade de ‘Biela’ é o Partido Popular Socialista (PPS). Outro homem de Taques por lá também é o presidente do Intermat, Cândido Teles, que promoveu uma mudança ideologicamente não tão sutil assim, pois saiu do DEM para se juntar aos ditos solidários.
Ex-companheiros de Suelme, o presidente da Assembleia, Eduardo Botelho, e Adriano Silva também resolveram deixar esse negócio de socialismo brasileiro de lado para embarcar com os dois pés direitos no DEM. Deveriam se juntar ao bloco de apoio à reeleição do governador, até o fechamento desta edição composto essencialmente por Oscar Bezerra, Mauro Savi e Max Russi, já que como Dilmar Dal Bosco desistiu de Pedro Taques na terça-feira (13).
Bezerra, aliás, anda meio confuso ideologicamente, dado o número de bandeiras, ideias e lutas que diz estudar seguir. Discurso e entendimentos vão do DEM ao Solidariedade, passam pelo Partido Verde (PV) e PSDB e chegam ao Partido da República (PR).
O que entra no jogo
As mudanças de blocos e partidos sempre levaram em conta algo escasso nas campanhas há pelo menos seis anos: dinheiro. Desde quando o Supremo Tribunal Federal (STF) entrou numas de proibir o financiamento empresarial, o fundo partidário (de astronômicos R$ 888 milhões neste 2018) passou a ter importância muito maior e ainda foi reforçado por outro número assustador, o R$ 1 bilhão e 700 milhões aprovados na chamada reforma política do ano passado para os políticos fazerem campanha eleitoral.
Na negociação dessa dinheirama, políticos capitalizam de maneira direta suas potencialidades, como suas bases de eleitores e prováveis filiados, além de ter de lidar com outros mais subjetivos, como cargo pretendido e o tamanho da sigla, além do cargo pretendido.
Outra variável que entra na conta é o número de deputados federais eleitos em 2014, pois os quase R$ 900 milhões são divididos entre os partidos conforme a quantidade de deputados. Quem tem mais leva mais. É o motivo de ninguém nunca anunciar logo para onde vai e na maioria das vezes só trocar de partido no apagar das luzes do prazo, na primeira semana de abril.
A janela partidária é o nome do período previsto por lei no qual políticos podem trocar de partido sem sofrer punição por infidelidade partidária.
Regras
Parlamentares podem mudar de legenda quando há:
Criação de novo partido;
Desvio no programa partidário;
Incorporação ou fusão do partido;
Grave discriminação pessoal.
Desde 2015 foi aberta a janela partidária: 30 dias que antecedem o último dia de prazo para a filiação partidária (de seis meses antes da eleição).
Dilmar Dal Bosco abandona governo na ALMT
O governador Pedro Taques (PSDB) perdeu oficialmente seu líder de bancada na Assembleia Legislativa, Dilmar Dal Bosco (DEM), que anunciou na noite de terça-feira (13) o abandono do compromisso. A história já era aventada nos bastidores e chegou a termo no momento em que o deputado leu sua carta de despedida durante a sessão plenária. A justificar o ato, Dal Bosco falou em “inviabilidade” de apoiar o governador para a corrida à reeleição.
Durante a leitura, o deputado, que buscará a própria reeleição, fala explicitamente sobre as eleições deste ano, de “distâncias” de sua base eleitoral e das “necessidades políticas” de seus eleitores. “Portanto, convicto de que fiz o melhor pelo nosso Estado e por este governo, em caráter irrevogável, venho comunicar que, a partir deste momento, não mais farei a interlocução entre vosso gabinete e esta Casa de Leis na função de líder do governo”, disse na tribuna.
Rumores sobre o rompimento vinham desde pelo menos janeiro. O tucano conseguiu amenizar as divergências e pediu pessoalmente a Dal Bosco que continuasse na articulação com os deputados. Ele sabia, entretanto, que o deputado não tão secretamente assim já procurava meios de viabilizar a candidatura de Jayme Campos, como o próprio anda repetindo há semanas a quem quiser ouvir. Dilmar era mais discreto, mas também não negava essa movimentação a jornalistas.
Segurou o quanto pôde o momento da saída, mas não fez muito esforço para impedir a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a destinação do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab) e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Ele inclusive assinou a abertura da chamada CPI dos Fundos, com Mauro Savi (PSB), Allan Kardec (PT) e Ondanir Bortolini, o Nininho (PSD), como membros.
Mesmo dizendo na carta e no plenário que este é apenas o fim de um ciclo, “porém a parceria e companheirismo continuam”, Dilmar Dal Bosco andou publicando fotos no Facebook e Instagram com Jayme e Júlio Campos afirmando com todas as letras a candidatura do primeiro ao governo, assim como as em outros estados, como o Diretório Nacional afirmou na convenção do dia 8 de março.
O também deputado e atual secretário de Cidades, Wilson Santos, se adiantou e decidiu sugerir Leonardo Albuquerque parar liderar a bancada do governo na Casa.
Leia a íntegra da carta lida por Dilma Dal Bosco na tribuna da Assembleia e postada no Facebook em vídeo e texto:
“Senhor Governador,
Após ouvir atentamente meus familiares, minha base eleitoral e a minha equipe de trabalho, que juntos me outorgaram o presente mandato como deputado estadual, e estando a apenas 7 meses do novo pleito eleitoral, cheguei à conclusão de que minha permanência na Liderança do Governo se torna inviável.
Apesar de estar deputado pelo Estado de Mato Grosso, como é do vosso conhecimento, a base que represento fica distante da capital entre 250 e 1.300 km e, por conta dos afazeres da liderança, acabo me distanciando dos meus eleitores e, consequentemente, das suas necessidades políticas.
Portanto, convicto de que fiz o melhor pelo nosso Estado e por este Governo, em caráter irrevogável, venho comunicar que, a partir deste momento, não mais farei a interlocução entre vosso gabinete e esta Casa de Leis na função de Líder do Governo.
Agradecido pela confiança recebida, quero ratificar meu íntimo desejo de que Vossa Excelência continue firme no propósito de governar com austeridade, respeito à coisa pública e às pessoas, especialmente nestes tempos em que a crise financeira assola todas as unidades da federação.
Encerra-se este ciclo, porém a parceria e o companheirismo continuam.”