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Ibovespa vai aos 140 mil pontos, mas não sustenta marca no encerramento; dólar cai a R$ 5,6552

Em dia de cautela em Nova York após a perda do “triplo A” dos EUA, retirado pela agência de classificação de risco Moody’s, o Ibovespa subiu e tocou, pela primeira vez, a marca dos 140 mil pontos durante a sessão. Ao fim, mais acomodado, mostrava leve alta de 0,32%, aos 139.636,41 pontos, com giro financeiro a R$ 21,0 bilhões. Na máxima da sessão, atingiu nesta segunda-feira, 19, novo recorde histórico, agora aos 140.203,04 pontos, saindo de mínima a 138.586,77 e de abertura aos 139.186,49. No mês, o Ibovespa avança 3,38% e, no ano, tem alta de 16,09%.

Ainda que não tenha sustentado os 140 mil pontos do meio para o fim da tarde, o Ibovespa também renovou máxima de fechamento, pela terceira vez seguida acima dos 139 mil pontos.

“Fala do Gabriel Galípolo presidente do BC sobre juros restritivos por tempo maior contribuiu para a queda na curva do DI. Ao contrário de trazer pessimismo inclusive para Bolsa, foi bem vista pelo compromisso com o controle da inflação, no momento em que a situação fiscal doméstica começava a emergir de novo no mercado: a política expansionista levanta questões quanto à relação dívida/PIB”, diz Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

No exterior, a semana começou com um desdobramento de impacto global: a retirada pela Moody’s da nota máxima de crédito dos Estados Unidos. “Toda essa pressão tarifária do Trump tira investimentos do país – ou quem estava pensando em investir, segura um pouco para ver até onde vai, e por isso a Moodys rebaixou”, diz Alison Correia, analista e sócio-fundador da Dom Investimentos.

Nesse contexto, o dia foi de enfraquecimento do dólar frente a referências como euro, iene e libra, entre outras que integram o índice DXY, favorecendo também o real entre as moedas de emergentes. Aqui, o dólar à vista fechou o dia em baixa de 0,25%, a R$ 5,6552.

Entre as ações de primeira linha, o desempenho do Ibovespa nesta abertura de semana foi impulsionado em especial pelos grandes bancos, com Itaú PN, o principal papel do segmento, em alta de 1,19% – no fechamento, destaque também para Santander (Unit +1,49%) e Bradesco PN (+0,91%), enquanto Banco do Brasil estendeu as perdas da última sexta-feira, nesta segunda em baixa de 2,45%.

No início da tarde, com o Ibovespa então nas máximas, Petrobras chegou a zerar perdas e testar alta na ON e PN, mas perdeu força e ambas fecharam no campo negativo (ON -0,26%, PN -0,12%). O desempenho de Vale (ON -0,27%) também não deu ânimo extra para o Ibovespa. Na ponta ganhadora do índice, JBS (+3,06%), Embraer (+2,76%) e Renner (+2,62%). No lado oposto, Marfrig (-6,42%), Pão de Açúcar (-3,90%) e Petz (-3,57%).

Dólar

O dólar apresentou queda moderada na sessão desta segunda-feira, 19, em linha com o comportamento da moeda norte-americana no exterior. O rebaixamento do rating dos Estados Unidos pela agência de classificação de risco Moody’s, reflexo do endividamento crescente da maior economia do mundo, diminuiu o apetite por ativos norte-americanos e beneficiou divisas emergentes.

Embora o real tenha apresentado desempenho inferior nesta segunda-feira aos de pares latino-americanos, operadores afirmam que as declarações do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçando a expectativa de manutenção de taxa de juros alta por período prolongado, contribuem para ancorar a taxa de câmbio.

Afora uma alta moderada nas primeiras horas de negócios, quando o petróleo recuava mais de 1%, a moeda norte-americana operou em baixa no restante da sessão.

Com máxima a R$ 5,6913 e mínima a R$ 5,6339, o dólar encerrou o pregão em queda de 0,25%, a R$ 5,6552. Em maio, recua 0,38%. No ano, as perdas são de 8,49%.

A liquidez foi bem moderada, típica de início de semana, o que sugere ausência de alterações relevantes de posições por parte de investidores. Os temores ficais relacionados a possível pacote de estímulos para recuperação da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que provocaram estresse no mercado cambial no fim da semana passada, ficaram nesta segunda-feira em segundo plano.

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, afirma que o rebaixamento do rating americano pela Moody’s na última sexta-feira, de Aaa para Aa1, somando ao receio de desaceleração da economia dos EUA em razão das incertezas provocadas pelo vaivém das tarifas de Trump, tira parte da atratividade do dólar.

“Obviamente, o real está surfando hoje essa perspectiva de um dólar um pouco mais fraco em relação a todas as moedas após o rebaixamento do rating. Os investidores estão mais reticentes com os EUA, o que abre espaço para alocação maior em ativos emergentes”, afirma Veloni.

O índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisa fortes, em especial euro e iene – recuava cerca de 0,70% no fim da tarde, ao redor dos 100,300 pontos, com mínima aos 100,064 pontos. Entre pares do real, os maiores ganhos foram do peso chileno, seguido pelo peso colombiano. No ano, o Dollar Index cai mais de 7%.

O economista Vladimir Caramaschi, sócio-fundador da +Ideas Consultoria Econômica, lembra que a Moody’s foi a última das três agências de classificação de risco a rebaixar os EUA. Ele ressalta a Moody’s alterou a expectativa para a nota americana de negativo para estável, o que sugere que não haverá novo rebaixamento no curto prazo.

“A decisão traz impactos limitados para os ativos, dado que as fragilidades dos EUA já são conhecidas”, afirma Caramaschi. “Ainda assim, ela ocorre em um momento de grande incerteza para o mercado e de questionamento sobre a manutenção e o alcance do papel do dólar como moeda de reserva”.

Investidores também monitoram a tramitação de pacote fiscal administração Trump, que estende redução de imposto adotada em 2017 e promove cortes adicionais, observa Caramaschi. Aprovado no comitê de Orçamento da Câmara dos Representantes, pode ir ao plenário ainda nesta semana.

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, afirmou nesta segunda-feira, em live, que o dólar deve manter seu papel de referência no comércio internacional por um bom tempo, embora seja razoável imaginar que negociações bilaterais entre países vão se tornar mais frequentes.

David reiterou que o regime de câmbio brasileiro é flutuante e afirmou que “não existe um nível de câmbio que faça o Banco Central ter vontade de comprar ou de vender” dólares.

Juros

Os juros futuros começaram a semana em queda, refletindo principalmente o ambiente doméstico. Declarações do presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, reforçaram a perspectiva de que o ciclo de alta da Selic terminou em maio, ainda que tenha sinalizado que a taxa deve seguir em níveis restritivos por período “bastante prolongado”. Agradou ao mercado a postura rigorosa com relação à desancoragem das expectativas, endossando os níveis de credibilidade do BC. A fraqueza do dólar e a virada dos juros dos Treasuries para baixo também contribuíram para o alívio nos prêmios de risco.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 terminou em 14,72%, de 14,74% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2027, em 13,91%, de 14,00% no ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2029 caiu de 13,59% para 13,46%.

As taxas começaram a sessão em alta refletindo o resultado do IBC-Br de março, que veio no teto das estimativas, o avanço do dólar e das taxas dos Treasuries, mas começaram a cair durante a fala de Galípolo, ainda pela manhã, durante participação em conferência do Goldman Sachs, em São Paulo. O dólar também passou a cair, e, à tarde, os yields dos Treasuries igualmente viraram para baixo.

Para o presidente do Banco Central, as incertezas sobre a política fiscal parecem explicar parte da dinâmica das expectativas de inflação, que seguem desancoradas apesar dos juros mais elevados. E a desancoragem justifica a manutenção dos juros em terreno restritivo por período mais prolongado do que o normal. “A gente realmente precisa permanecer com uma taxa de juros em patamar bastante restritivo por um período bastante prolongado.”

“A gente vai usar o instrumento que a gente tem para fazer a perseguição da meta”, afirmou o presidente do BC, segundo o qual a autoridade monetária “não está nem perto de discutir um eventual ponto de inflexão para os juros”. “Isso não é um tema que está passando nos debates” do Copom, disse.

“Ele está sendo rigoroso com o regime de metas. Enfatizou que a taxa deve ficar alta por um tempo mais longo e essa foi a grande mensagem do dia. Ele tira um pouco de probabilidade que vai continuar a subir. Aparentemente está muito perto o final do ciclo, embora ele não tenha dito isso. O que ele verbaliza, por duas ou três vezes, de uma forma muito, muito clara, é que entende que os juros já são bem restritivos. Nisso, temos uma autoridade monetária bastante rigorosa”, avalia Marianna Costa, economista-chefe da Mirae Asset.

O economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, concorda que a mensagem que chega para o mercado de juros é de que o último aperto na taxa foi o de maio. “O mercado entendeu, pelas falas, que a Selic não deve subir mais. E se não vai subir, o próximo movimento é de queda”, afirma. Mesmo com Galípolo enfatizando que nem se discute a questão dos cortes, “o mercado de pré entendeu que é daqui para baixo”, diz.

Na curva, a aposta de manutenção no nível de 14,75% nesta tarde era levemente majoritária, com 60% de probabilidade, enquanto a de alta de 25 pontos-base tinha 40% de chances. A projeção de taxa terminal era de 14,85% e o mercado também segue apostando numa redução ainda este ano, uma vez que a projeção de Selic no fim de 2025 era de 14,65%. Para o fim de 2026, a precificação era de 12,80%.

O quadro é parecido com as projeções de Selic na pesquisa Focus divulgada hoje. As medianas para 2025 e 2026 não tiveram alteração e permanecem em 14,75% e 12,5%, respectivamente. Já a mediana de IPCA 12 meses à frente cedeu de 4,95% para 4,91% e a de 2025, de 5,51% para 5,50%, na quinta revisão consecutiva para baixo. A expectativa para 2026 manteve-se em 4,50%.

Além do Focus, a agenda trouxe ainda o IBC-Br de março e do primeiro trimestre. O dado mensal subiu 0,8% na margem, no teto das estimativas. No trimestre, houve expansão de 1,30%, também na margem.

Estadão Conteudo

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